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À SEMELHANÇA DE C.D: Descoberta de mais gás natural em Inhambane pode precipitar conflitos

O Governo confirmou, recentemente a descoberta de um depósito com enormes reservas de gás natural no campo Baobab-1, na Área PT5-C, da bacia de Moçambique, província meridional de Inhambane. As operações de pesquisa, lideradas pela petrolífera sul-africana Sasol, confirmaram a manifestação de gás natural em rochas areníticas com idade da formação de Grudja Inferior Horizonte G-8. Trata-se de uma boa notícia, mas que coloca os moçambicanos em estado de alerta face à possibilidade de eclosão de novos conflitos, à semelhança do que sucede em Cabo Delgado desde 2017.

Texto: Maximiano da Luz

O facto foi anunciado terça-feira pelo porta-voz do Conselho de Ministros, Filimão Suaze, que falava no habitual briefing à imprensa, minutos após o fim da 32ª sessão ordinária daquele órgão de soberania.

“O passo a seguir consiste em avaliar as dimensões em quantidades para se calcular a comercialização da descoberta, que pode ditar a monetização no futuro”, disse Suaze, que também é vice-ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.

Questionado se a descoberta de mais jazigos de recursos naturais em Moçambique poderá ser motivo de conflitos armados que poderão desembocar em ataques terroristas, Filimão Suaze respondeu favoravelmente.

A experiência do Governo assenta no que se observa noutros países do mundo inteiro, onde ocorre a descoberta de recursos naturais e os interesses externos evoluem e acabam com guerras internas.

“Eu penso que este é o risco que corre qualquer país que tem no seu subsolo recursos, à medida que vão sendo descobertos, eventualmente aqui e acolá; já temos alguma experiência de outros países”, afirmou.

Explicou que isso não pode, no entanto, servir de impedimento para a exploração destes recursos.

Desde Outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, onde foram descobertos enormes jazigos de gás natural, vive momentos críticos com os ataques terroristas, ainda que esporádicos devido à acção das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique e das Forças de Defesa estrangeiras, sobretudo do Ruanda.

Ainda assim, dois projectos de liquefacção de gás natural descoberto na Bacia do Rovuma estão a ser desenvolvidos, sendo um em alto mar, na plataforma flutuante Coral-Sul, liderado pela petrolífera italiana Eni, e o outro projecto em terra, liderado pela Total Energies, uma multinacional francesa.

Em Abril de 2021, a Total Energies suspendeu indefinidamente o seu projecto iniciado na península de Afungi, distrito de Palma, em Cabo Delgado, apontando motivos de “força maior”.

Avaliado em cerca de 20 mil milhões de dólares, o projecto representa o maior investimento privado em curso no continente africano.

Sasol e ENH na linha da frente em Inhambane

Em Inhambane, são concessionários da Área PT5-C, a Sasol Mozambique PT5-C LTD, que detém uma participação de 70 por cento e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH), com 30 por cento .

Mas a descoberta do Campo de gás de Pande (Grudja 6) em terra foi feita pela petrolífera indiana, Gulf Oil, através do poço Pande-1, em 1961, e posteriormente avaliada pelos poços de avaliação entre 1962 e 1966.

O Campo de gás de Pande está localizado a cerca de 40 quilómetros a noroeste do campo de Temane, e a 80 quilómetros a noroeste do distrito de Vilankulo.

Em 1989 e 1996, a ENH realizou uma campanha de avaliação do Campo de Pande, através de nove poços.

Com a chegada da Sasol em 2000, através do contrato de Produção de Petróleo (CCP), foram acompanhadas as actividades de perfuração que visavam o desenvolvimento da albufeira de Grudja Inferior (Grudja 6, G-6), no Cretácico Superior.

O reservatório encontra-se a uma profundidade de 1.100 metros da subsuperfície, e a extensão do Campo é de cerca de 40 quilómetros, orientada de oeste-noroeste para este-sudeste.

A produção de gás no Campo de Pande teve início em 2009, cinco anos após o início da produção no Campo de Temane, neste caso em 2004, que foi o primeiro Campo de produção do gás em Moçambique.

Para a distribuição de gás, existe um gasoduto com uma extensão de 865 quilómetros, que liga o Campo de gás de Temane à fábrica da Sasol, em Secunda, na África do Sul.

No final de 2019, foram produzidos nos dois Campos cerca de 1,1 Tcf (trilhões de pés cúbicos) de gás e 1,8 milhões de barris de condensado.

A estimativa das reservas recuperáveis restantes para este campo é de cerca de 1,3 Tcf de gás, de acordo com os cálculos apresentados pela Sasol.

A descoberta do Campo de Temane (Grudja 9, 9ª e 9B), Contrato de Produção de Petróleo de Pande-Temane (PPA) foi feita igualmente pela Gulf Oil em 1957, através do poço Temane-1, mas só foi confirmada em 1967, após o teste realizado no poço Temane-2.

A descoberta foi avaliada através de cinco poços em 1998, pela ARCO.  Entre 2003 e 2007, a Sasol perfurou vários poços de desenvolvimento para reforçar a exploração na área.

O reservatório é do Cretácico Superior, formação do Grudja inferior, Grudja 9, 9ª e 9B, e encontra-se a uma profundidade de cerca de 1.300 metros abaixo da superfície.

A extensão do Campo de Temane (G9, G9A e G9B) é de cerca de 30 quilómetros, orientada de norte para sul, e de 25 quilómetros de oeste para este.

Até ao final de 2019, foram produzidos no Campo de Temane cerca de 0,9 Tcf (trilhões de pés cúbicos) de gás e 5,6 mmbbl (milhões de barris) de condensado.

As reservas remanescentes recuperáveis estimadas são de cerca de 0,6 Tcf de gás.

Existem poços abandonados em Inhassoro, tal é o caso do Njika G-5C, G-5D, G-6 e G-6ª, do Bloco da Sasol 16 e 19.

Texto extraído na edição 587 do Jornal Dossiers & Factos 

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