O excesso de requisitos e burocracia está a afastar mutuários, desestimulando a adesão às linhas de financiamento do sector agrário no país. A avaliação é de Jaime João Baptista, consultor e analista de crédito do sector agrário, que falou recentemente em exclusivo ao Dossier Económico.
Texto: António Cumbane
“Existem várias linhas de crédito, mas o acesso não é fácil porque cada instituição financeira tem seus requisitos. Entendo que isso visa garantir o retorno dos fundos, mas há excessos. Os documentos que os bancos pedem, na sua maioria, são tratados pelo Estado e exigem dinheiro. A certidão predial, por exemplo, custa 20 mil meticais. Imagina um agricultor que pediu 20 mil meticais, isso não é sustentável”, explicou Jaime João Baptista.
“A situação do cliente passa por várias fases e deve ser analisada pela Central de Riscos para garantir o retorno do dinheiro. Portanto, para alguém que quer 20 mil meticais, por exemplo, e que deve se deslocar do distrito para a cidade, o processo torna-se inviável”, acrescentou.
Baptista ressaltou a necessidade de simplificar os processos e reduzir os custos associados à obtenção de documentos exigidos pelos bancos para tornar o crédito mais acessível aos agricultores.
É que o cumprimento escrupuloso destas normas, segundo ele, chegam a custar metade do crédito, o que acaba não sendo viável para os beneficiários, que, no final do dia, têm que arcar com outros custos operacionais para manter o projecto em andamento.
Para se inverter esta situação, Baptista ressaltou a necessidade de simplificar os processos e reduzir os custos associados à obtenção de documentos exigidos pelos bancos para tornar o crédito mais acessível aos agricultores.
“Aqui não há como. Alguém tem que ceder porque estes fundos são bonificados. Entendo que, em parte, a banca tem razão porque depois de financiar deve ter retorno, mas há que se repensar e apostar mais na redução da burocracia e dos requisitos”, explicou.
Para a fonte, as dificuldades que os mutuários enfrentam no acesso ao financiamento acabam reflectindo no resultado final do seu trabalho, uma vez que uma parte do dinheiro desembolsado deve cobrir as dívidas no tratamento da documentação ao longo do processo.
“É importante referir que os bancos devem ter retorno para que o valor possa financiar a outras pessoas, mas por uma questão de conjuntura – dívidas que às vezes o Estado contrai e demora pagar aos fornecedores de bens e serviços neste sector – os mutuários começam a ter dificuldades de fazer o reembolso. Você pode ter um projecto bonito, mas se o investimento não tem retorno não há como. Muitos beneficiários ficam encurralados por não cumprir com o pagamento”, anotou.
Moçambique é um País cuja base de desenvolvimento é a agricultura, daí que o Governo tem estado a implementar várias medidas visando apoiar os pequenos e grandes produtores em meios, mas o excesso de requisitos por parte da banca é um factor desencorajador.
Texto extraído na edição 116 do Jornal Dossier económico