EnglishPortuguese

ACTIVISTAS SOCIAIS NA POLÍTICA: Fenómeno afecta confiança na Sociedade Civil

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) anunciou a jornalista e activista social Fátima Mimbire como sua candidata a governadora da província de Maputo. Além disso, Mimbire encabeça a lista deste círculo eleitoral para a Assembleia da República, no âmbito das eleições gerais (presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais) que terão lugar no próximo dia 09 de Outubro. A candidatura de Mimbire tem reacções mistas, com uns a elogiarem e outros a alegarem que a mesma pode desacreditar a Sociedade Civil em Moçambique.

Texto: Dossiers & Factos

A decisão do MDM de nomear Mimbire gerou uma onda de reacções divididas na sociedade moçambicana. Enquanto alguns aplaudem sua entrada na política activa, outros vêem nesta mudança uma evidência de que ela se camuflava de “sociedade civil” para perseguir interesses políticos e económicos, num contexto em que ser deputado da Assembleia da República é visto como um verdadeiro “jackpot” devido aos benefícios associados ao posto.

O analista e académico Régio Conrado, por exemplo, disse recentemente à TV MBC que a entrada de activistas críticos na política pode descredibilizar a sociedade civil. Segundo ele, a sociedade civil pode passar a ser vista como um meio para atingir fins políticos, minando a confiança do público nas motivações dos activistas sociais.

Por outro lado, há quem veja a participação de activistas na política partidária como uma evolução natural de seu trabalho. Eles acreditam que essa transição permite que indivíduos comprometidos com a justiça social e a mudança positiva tenham uma plataforma maior para influenciar políticas públicas e legislações.

De resto, Mimbire não é a primeira activista a entrar na política. Quitéria Guirengane, conhecida por sua crítica ao sistema e seu engajamento no Movimento 18 de Março, que tem organizado várias manifestações um pouco por todo o País, integra a Nova Democracia (ND), um dos mais novos partidos nacionais, liderado por Salomão Muchanga. Muchanga, lembre- -se, também começou como activista e comandou o Parlamento Juvenil antes de entrar na política.

Outro exemplo notável é Alice Mabote, falecida ícone do activismo moçambicano, que tentou concorrer à Presidência da República em 2019 pela Coligação Aliança Democrática (CAD), a plataforma que recentemente acolheu Venâncio Mondlane depois de este abandonar a Renamo. Mondlane, que já vai na sua quarta força política, descreve-se a si próprio como fruto do activismo social.

“Não mudei” – Fátima Mimbire

Entretanto, Fátima Mimbire reagiu ao coro de críticas na internet, questionando :”Até quando nos omitiremos?”. A activista recordou, justificou sua decisão com o facto de a Assembleia da República ser o lugar onde se discutem e se decidem as políticas públicas essenciais para o país.

“Devemos sair da omissão e lutar por um País onde não falte comida na mesa de ninguém”, afirmou, destacando que Moçambique é abençoado com riquezas que devem ser usadas para melhorar as condições de vida de todos.

Mimbire também expressou o desejo de ver mais pessoas da sociedade civil, da academia, dos meios de comunicação e das organizações profissionais entrando na política activa. Ela acredita que a diversidade de vozes pode enriquecer o debate e as decisões políticas. “Por que aqui é estranho que pessoas de diferentes áreas participem na política?”, indagou.

A jornalista deixa claro que sua entrada na política activa não significa mudança de postura. “Rogo a Deus para que não me deixe mudar, que eu morra antes disso acontecer”, anotou.

Às acusações de que sempre foi da oposição ao partido Frelimo camuflada na Sociedade Civil, Mibire reagiu com alguma ironia:

“Sim, eu sou da oposição, sempre fui (…) E sou da oposição à má governação, ao roubo, à falta de patriotismo e empatia pelo sofrimento alheio, ao nosso empobrecimento deliberado. E devo dizer: tenho muito orgulho de ser da oposição e não gostaria nunca de deixar de sê-lo. E sim… eu sempre estive infiltrada na sociedade civil como me acusam, se ter opinião própria, se expressar de forma aberta e destemida o meu desagrado pela má governação, pelos desmandos e abusos que há neste país, expressar a minha revolta pela indignidade a que estamos sujeitos enquanto povo, se escrever e debater publicamente sobre os problemas e desafios da governação do País, se empoderar os cidadãos para se apropriarem do seu País e lutarem por ele significa fazer política (…)”.

Texto extraído na edição 164 do Jornal Dossiers & Factos

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco