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Americanos subjugam soberania de Moçambique

Foto: Dreamstime

Os Estados Unidos da América têm envidado esforços no sentido de conquistar o apoio da maior parte das Nações às sanções que decidiram impor à Federação Russa, em resposta à invasão deste país à Ucrânia. Moçambique tem sido um dos Estados mais pressionados pelos americanos e recentemente recebeu indicações para recusar o acesso aos portos nacionais a uma série de embarcações russas. A orientação dos americanos parece estar a ter vigor, o que levanta debates sobre a soberania do país.

Texto: Dossiers & Factos

A pressão norte-americana no sentido de fazer Moçambique sair do muro e posicionar-se claramente contra a Rússia não cessa e, ao que parece, pode estar a surtir efeito, pelo menos a avaliar pelo conteúdo vertido num ofício emitido pela Direcção Geral das Alfândegas (DGA), datado de 18 de Agosto do presente ano.

“Para o conhecimento geral de todos os funcionários destes serviços, despachantes aduaneiros, através da nota nº 938/889/MTC/GM/DCI/920/22, de 25 de Julho, o Ministério dos Transportes e Comunicações leva ao conhecimento da Autoridade Tributária de Moçambique que recebeu do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação o ofício com a referência 1149/GMMNEC/993/2022, de 23 de Maio, através do qual informa sobre a solicitação do governo americano ao Governo de Moçambique para recusar o acesso aos portos nacionais, bem como a não prestação de serviços por parte da indústria marítima e financeira a sete companhias marítimas e sessenta e nove navios da Federação Russa alvos de sanções adoptadas pelos EUA, alegadamente envolvidas em actividades nocivas e associadas à invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia”, lê-se no documento.

O ofício, que é acompanhado pela lista das companhias e navios em causa, fecha com um vigoroso “cumpra-se” do Director Geral das Alfândegas, Taurai Inácio Tsama, o que revela que a vontade dos EUA, entendida em muitos sectores como ingerência externa, vai, muito provavelmente, vingar, apesar de Moçambique ter assumido uma posição neutral em relação ao conflito que se desenrola em solo ucraniano desde 24 de Fevereiro deste ano.

Pressão crescente

144 Países votaram a favor da resolução que condena a invasão da Rússia à Ucrânia. Cinco votaram contra e 35 optaram pela abstenção. Entre os “não-alinhados” está Moçambique, o que não agrada às hostes norte-americanas e ocidentais, no geral.

Desde essa altura, o Estado moçambicano tem sido fortemente pressionado a assumir uma posição, naquilo que muitos consideram ser ingerência em assuntos internos. Em Março do presente ano, o embaixador dos EUA em Moçambique, Peter Handrick Vrooman, emitiu uma missiva através da qual “apelava” Moçambique a mostrar-se solidário à Ucrânia, condenando Moscovo.

“Recordo-me do que disse o primeiro Presidente Samora Machel, no Hospital Central de Maputo, em 1976: ‘A solidariedade internacional não é um acto de caridade, é um acto de unidade entre aliados que lutam em terrenos diferentes para o mesmo objectivo… A solidariedade não tem raça nem cor, e o seu país não tem fronteiras”, escreveu o diplomata.

Em tom de chantagem, Peter Handrick Vrooman fez questão de lembrar que os americanos sempre ajudaram Moçambique na assistência humanitária face ao terrorismo na província de Cabo Delgado e aos ciclones que têm estado a assolar o país e que, igualmente, apoiam no combate ao HIV/SIDA e à COVID-19”.

Aliado dos EUA, França também tem procurado mobilizar todo o continente africano contra o Estado russo. Em visita de trabalho aos Camarões, Emmanuel Macron, que foi reconduzido ao poder este ano, chamou os países africanos de “hipócritas” em virtude de não terem condenado as acções da Rússia. Refira-se que a maior parte das nações que se abstiveram, em sede das Nações Unidas, são do continente negro.

De apelos, chantagens à ameaças

A retórica ocidental vem mudando de tom pouco a pouco desde o início da guerra na Ucrânia. Primeiramente, os EUA e seus parceiros da União Europeia emitiam “apelos” para adesão à resolução de condenação ao regime de Vladimir Putin. A linguagem evoluiu depois para um nível que se confunde com chantagem, conforme se pôde constatar na carta do embaixador norte-americano acreditado em Moçambique.

Mais recentemente, a fasquia voltou a subir, com a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas a ameaçar estender as sanções económicas aos países africanos que adquiram na Rússia produtos sobre os quais recaem sanções, particularmente as commodities.

O pronunciamento de Linda Thomas-Greenfield surgiu apenas alguns dias depois de Moçambique ter admitido a possibilidade de comprar petróleo russo – que está mais barato – na sequência de um encontro que o embaixador da Rússia em Moçambique, Alexander Zurikov, manteve com a Confederação das Associações Económica de Moçambique (CTA).

“Estou certo de que vamos estudar e verificar a viabilidade dessa oferta [da Rússia], se houver viabilidade, com certeza que [o petróleo russo] será adquirido”, afirmou Carlos Zacarias, ministro dos Recursos Minerais e Energia.

*Matéria extraída da edição 479 do Dossiers & Factos

 

 

 

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