Analistas políticos, em entrevista à Voice of America (VOA), manifestaram preocupação sobre o envio de mais tropas do Ruanda para combater o terrorismo na província de Cabo Delgado, argumentando que a medida adia a resolução do problema.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou a chegada de um novo contingente militar ruandês a Cabo Delgado, após conversações com o seu homólogo Paul Kagame em Kigali. Nyusi explicou que o reforço se deve à retirada da Missão Militar da SADC (SAMIM).
Actualmente, cerca de 2.500 soldados ruandeses já estão em Cabo Delgado, empenhados no combate ao terrorismo. Embora compreendam a decisão, devido ao agravamento da situação e à facilidade de gerir acordos bilaterais em comparação com os multilaterais, os analistas consultados pela VOA acreditam que a solução do problema exige mais do que uma abordagem militar, considerando que os ruandeses eventualmente terão que deixar Moçambique.
O analista político e pesquisador João Feijó reconhece o impacto do reforço militar, mas alerta que os grupos armados estão se reorganizando, ganhando espaço militar e político. “O grupo reorganizou-se, conseguiu recuperar a logística e mantém laços com a população. Tem suas zonas de penetração, principalmente na costa de Cabo Delgado, de Mocimboa da Praia até Quissanga,” explica Feijó.
Elcídio Bachita, outro analista, destaca que o entusiasmo do Ruanda em lidar com Moçambique se deve à facilidade de gerir acordos bilaterais. Ele aponta que os acordos multilaterais são complexos, pois cada estado tem sua própria política interna. “O acordo entre Moçambique e o Ruanda é flexível, facilitando a negociação e o reforço das forças após a saída da SAMIM,” comenta Bachita.
Acordos secretos e necessidade de equipamentos
Fernando Lima, também analista, ressalta que os ruandeses não permanecerão indefinidamente em Moçambique e que as Forças Armadas moçambicanas necessitam de equipamentos como barcos, aviões e radares para um combate eficaz ao terrorismo. Ele destaca a necessidade de acções não apenas militares, mas também de outra natureza.
José Manteigas, porta-voz da Renamo, critica o secretismo envolvendo os acordos entre Moçambique e Ruanda, expressando preocupação com a forma de pagamento da dívida resultante. “Espero que os moçambicanos não sejam obrigados a pagar uma dívida que não conhecem,” afirma Manteigas, questionando a alegação do governo de que o Ruanda não exige compensação.
Os analistas ouvidos pela VOA concordam que, embora a intervenção militar seja necessária, a solução a longo prazo para o terrorismo em Cabo Delgado exige uma abordagem multifacetada que inclua o desenvolvimento socioeconômico e a integração da população local.