Tornou-se público, através do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), que o custo de vida reduziu no mês de Março último. De acordo com esta instituição, os preços dos produtos tiveram uma baixa na ordem de 0,97 pontos percentuais (pp) em comparação com o mês de Fevereiro, justificada pela redução do preço dos produtos alimentares. Na sequência, Dossier Económico visitou o mercado Grossista do Zimpeto com vista a aferir de perto a boa nova anunciada pela instituição que se subordina ao Governo. Dos entrevistados pela nossa equipa de reportagem, maioritariamente donas de casa responsáveis pelas compras da “cesta básica”, ninguém reconhece tal queda da inflação. Pelo contrário, questionam: “onde é que baixaram os preços”. Apontam ainda a falta de uniformização de preços nos mercados, o que os torna terreno fértil para especulação de preços.
Texto: Milton Zunguze
Segundo o INE, o país começou a registar um abrandamento ou queda nos preços dos alimentos desde Dezembro do ano passado, tornando Março o quarto mês consecutivo em que o custo de vida reduziu. Esta situação é contestada por Cacilda Cuco, que acabara de fazer compras no mercado grossista do Zimpeto, na cidade de Maputo. “Para mim, não houve baixa, talvez até estejam a subir”, afirmou, reconhecendo a queda de preços de alguns produtos, dependendo da qualidade, mas ressaltou que “a maioria das coisas está cara”. “A cesta básica está cara, cebola e batata estão com preços altos. Se fizer uma cesta sem cebola e batata, praticamente não fez”, observou.
“Onde é que baixaram os preços?”
Outra dona de casa, responsável pelas compras de supermercado e que prefere não se identificar, não observa qualquer diminuição nos preços das suas compras. “Percebi um aumento nos preços. Está a ver a cebola a 480 e a batata a 480, isso parece uma baixa?”, questiona, defendendo que não houve queda nos preços dos produtos básicos.
“[…], não há nada barato aqui. A cenoura que costumávamos comprar por 10 meticais agora está a 20. É só ver, isso está mal. Onde está a baixa? A cebola está quase a 500 meticais.”
“Cada pessoa está a fazer o que quer”
Celeste, revendedora de produtos alimentícios no seu bairro, observa uma descida de preços em alguns produtos. No entanto, ela nota que a qualidade não é satisfatória, levando-a a afirmar: “Não é bem uma baixa de preços, porque a boa batata está a 420 a 450 meticais”. Além disso, ela denuncia a especulação de preços por parte dos vendedores.
“Cada pessoa está agindo como quer. A cebola está bastante cara, pode custar até 380 meticais, mas isso não é nada. Uma boa cebola está na faixa de 450 a 500 meticais.”
“Estão razoáveis, outras coisas estão caras”
Por sua vez, Elsa Mazivila nota uma razoabilidade nos preços, apesar de reconhecer que estão a subir, supondo ser fruto de especulação de preços. “Outros produtos não subiram, as pessoas começam a colocar os preços que querem”.
“Os preços estão razoáveis, mas outras coisas estão caras. Os itens da cesta básica variam de preço em cada lugar, então é preciso encontrar um local onde estejam mais baratos. O açúcar subiu, e quanto ao arroz, dependendo da qualidade, alguns aumentaram de preço e outros baixaram.”
Em relação aos produtos manufacturados, Elton Nhantumbo, proprietário de uma mercearia, observa que houve variações de preços divergentes: alguns produtos subiram de preço, enquanto outros baixaram.
“Está a ver a cesta básica, malta, açúcar e arroz, entre outros. O açúcar subiu, e o arroz, dependendo da qualidade, teve alguns que subiram e outros que baixaram em 30 meticais. O óleo não baixou, manteve-se”.
Um passo em frente, dois atrás
Entretanto, em um estudo comparativo anterior, consultamos nossos arquivos na edição 96 do Dossier Económico, na qual discutimos os preços dos produtos básicos no mês de Dezembro. Naquela época, foi observada a estabilidade de alguns produtos, como a batata, que custava entre 340 e 400 meticais por um saco de 10 kg, em comparação com os atuais 260 a 450 meticais. Da mesma forma, o preço da cebola variava entre 150 e 240 meticais por saco, em contraste com os atuais 290 a 480 meticais.
Assiste-se a um cenário quase semelhante nos produtos manufacturados
Dos produtos manufacturados na altura, com destaque para o arroz, óleo, entre outros, regista-se uma oscilação de preços, isto é, descidas e subidas numa escala de 10 a 20 meticais.
Banco de Moçambique prevê dias difíceis
Entretanto, estimativas do Banco de Moçambique para os próximos meses apontam para uma ligeira subida do nível geral de preços.
“Esta previsão decorre do impacto dos efeitos dos choques climáticos e do aumento do preço dos combustíveis e da tarifa de portagens na África do Sul”, refere o banco central.
Pressão fiscal e preços das telecomunicações na lista dos contribuintes
De acordo com o regulador do sistema financeiro nacional, constituem ainda factores de risco para a subida da inflação o eventual agravamento da pressão fiscal (que pode resultar principalmente do ano eleitoral) e o eventual ajustamento dos preços das telecomunicações.
Por seu turno, os agentes económicos acreditam que o custo de vida pode aumentar, nos próximos meses, podendo situar-se na ordem de 5,37%, em Dezembro de 2024.