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Assalto a Mucojo: a história de uma missão “suicida”

Os dias que antecederam o ataque ao quartel das Forças de Defesa e Segurança (FDS) em Mucojo, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado, pelos insurgentes que desestabilizam aquela província desde 2017, foram turbulentos. O assalto aconteceu dois dias após uma companhia de forças especiais destacada para o local com vista a desalojar os insurgentes ter abdicado da missão, o que culminou com a suspensão do grupo até novas ordens. Entretanto, Dossiers & Factos soube de fontes seguras que a referida força, composta por pouco mais de 100 militares das Forças de Reacção Rápida (QRF) formados e equipados pela União Europeia (UE) no âmbito do apoio à resposta antiterrorista em Cabo Delgado, teriam recuado devido à alegada desproporcionalidade em termos de número e capacidade de fogo em relação ao inimigo.

Texto: Benety Matongue

Na nossa última edição, destacamos o ambiente de mal-estar instalado no seio das FDS que combatem o terrorismo no denominado Teatro Operacional Norte (TON), concretamente na província de Cabo Delgado. No nosso artigo, referimos que centenas de membros das FDS, destacadas para o Posto Administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, centro de duros ataques terroristas, e de outras posições na província, teriam abandonado a frente de combate, regressando à Pemba, alegadamente por conta de traições e problemas de ordem logística.

Na sequência, conforme referenciamos no ferido artigo, os militares em causa foram alvo de suspensão até segunda ordem, tendo na sua maioria regressado à procedência.

Dias depois, o quartel de Mucojo foi alvo de assalto pelos insurgentes, que se apoderaram de diverso material logístico, incluindo armamento, para além de deixar um rastro de destruição.

 A outra versão dos factos

No contexto dos factos narrados ao Dossiers & Factos, novos dados surgiram sobre os dias que antecederam o assalto ao quartel de Mucojo. De acordo com as nossas fontes, tudo começa com o destaque da missão das QRF àquele ponto de Cabo Delgado, uma semana antes do assalto terrorista. Recorde-se que a posição em causa havia sido abandonada pelas FDS em Janeiro, devido à pressão dos insurgentes.

As fontes que temos vindo a citar, que não podemos identificar devido à sensibilidade do assunto, indicam que à sua chegada àquele Posto Administrativo, por mar, aperceberam-se, graças ao trabalho de reconhecimento, da superioridade do inimigo em termos de homens (acima do triplo) e de poderio bélico.

Contam que, depois de alguma ponderação, os homens destacados e o respectivo comandante concluíram que a missão, a ocorrer naqueles moldes (enorme desvantagem em todos os aspectos), seria suicida.

Face ao cenário, teriam então decidido abortar a missão. Seu plano era reforçar o contingente de modo a garantir que a incursão contra o inimigo, uma vez identificadas as suas posições, decorresse com êxito. Como tal, solicitou, através das comunicações, e após uma detalhada explicação da realidade no terreno, o envio do navio da Marinha para que os recolhesse de volta.

A solicitação teria sido recusada e, segundo as nossas fontes, a ordem vinda de Pemba era de que sem cumprir a missão ninguém devia deixar Mucojo.

 A marcha para Pangane e a vigília em Macomia

Sem saída, os militares decidiram avançar mata adentro de Mucojo à Pangane, mas, chegados à localidade, teriam tentado efectuar uma comunicação via rádio, tendo constatado que as comunicações estavam comprometidas e, por isso, decidiram continuar até à vila-sede de Macomia. No quartel de Macomia, não foram recebidos, alegadamente porque ordens de Pemba insistiam no cumprimento da missão, apesar dos argumentos apresentados.

Na sequência, a tropa pernoitou defronte ao quartel e, no dia seguinte, seguiu viagem, desta vez nos semicolectivos interdistritais, com destino à cidade de Pemba, onde apresentou-se no quartel.

Suspensão e tentativa de detenção do comandante

Nossas fontes segredaram-nos que na capital provincial de Cabo Delgado, instalou-se um ambiente de cortar à faca, porque a chegada da companhia coincidiu com a de outras duas que teriam abandonado as respectivas posições por alegações de falta de condições logísticas e traição.

No local, o superior militar máximo teria ordenado suspensão de todos militares e a detenção do comandante da companhia ida de Mucojo, o que originou um momento de desinteligência, como os tropas a defenderem o seu comandante.

Aliás, dizem as nossas fontes que esse ambiente instalou-se após o superior militar em referência ter ordenado que os mesmos regressassem às matas, tendo estes colocado as armas à disposição e dito a este para que fosse pessoalmente à linha de fogo.

Diante do mal-estar instalado, não foi possível encaminhar o comandante que liderava as QRF às celas, pelo que todos foram suspensos e acusados de tentativa de agressão contra o referido superior militar. Já no dia seguinte, os militares suspensos regressaram à procedência, aguardando por novas ordens.

 QRF na mira dos insurgentes

Dossiers & Factos ficou igualmente a saber que as QRF – Forças de Reacção Rápida – formadas e equipadas pela UE contra o terrorismo são actualmente o inimigo número um dos insurgentes, pois, em Dezembro do ano passado, travaram combates nos quais os terroristas foram arrasados.

As nossas fontes explicam que os insurgentes saíram a perder porque as QRF estão mais treinadas e melhor equipadas com drones, o que facilita a identificação do inimigo.

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