Localizado a Sudoeste da província de Tete, na zona central do País, o distrito de Mutarara faz fronteira, a sul, com as províncias de Sofala e Zambézia, e, a Oeste, novamente com Sofala. Trata-se de um ponto a partir do qual facilmente se chega às duas províncias, mas também à Manica, sempre através de transporte fluvial, o que não acontece já há largos meses, devido à avaria dos batelões. A viagem via terrestre é longa, tortuosa e cara.
Texto: Amad Canda
Um verdadeiro martírio. É assim que se pode caracterizar a vida dos cidadãos residentes em Mutarara ou daqueles que, não sendo residentes, frequentam o distrito nos últimos anos. Por conta da avaria das embarcações, este ponto da província de Tete está literalmente isolado e o impacto no dia-a-dia das pessoas é tremendo.
Mutarara é um distrito vizinho das restantes províncias da zona central do país, nomeadamente Sofala, Zambézia e Manica. Usando o transporte fluvial, a distância entre este distrito e Zambézia é de aproximadamente 30 quilómetros. Pela mesma via, pode-se chegar à Sofala em aproximadamente 20 minutos e à Manica em cerca de 50 minutos.
Todas essas facilidades são impraticáveis há alguns meses, por conta da avaria de embarcações que transportavam pessoas e bens, incluindo viaturas. A embarcação que estabelecia a ligação entre Mutarara-sede e Sena, através do rio Zambeze, não funciona desde 2020. Tempos depois, também o batelão que liga Mutarara à Marromeu, por via do rio Chinde, parou, pelas mesmas razões.
Alternativa desgastante e cara
Com o transporte fluvial “fora de jogo”, a única alternativa é o transporte rodoviário, que tem vários constrangimentos. O cidadão que pretenda sair de Mutarara para Zambézia, por exemplo, vê-se obrigado a percorrer cerca de 1500 quilómetros, distância “infinitamente” superior aos 30 quilómetros que seriam percorridos através do transporte fluvial.
Os custos financeiros envolvidos reflectem bem a diferença em termos de distâncias. Recorrendo aos batelões, gasta-se apenas 200 meticais, valor que atinge os impressionantes três mil meticais quando se usa a via terrestre. Só de Tete para o cruzamento de Inchope paga-se 1500 meticais, aos quais se acrescenta mais de 2000 meticais para se chegar à província da Zambézia.
Para além disso, as condições da estrada são péssimas, o que faz com que os carros que partem de Mutarara tenham de levar um dia apenas para chegar à cidade de Tete, cenário que se repete no troço da cidade de Tete-Inchope. Feitas as contas, despendesse, no mínimo, dois dias e meio para completar a viagem Mutarara-Zambézia.
Esta situação dificulta a vida a todos os níveis. Os cidadãos de Mutarara têm mobilidade reduzida e os produtos de que o distrito é farto, como é o caso de gergelim, são escoados com muita dificuldade, havendo indicação de quantidades significativas que se deterioram por falta de acesso aos mercados.
Os residentes de Mutarara estão indignados e, numa reunião com o partido Frelimo, ameaçaram não votar no mesmo caso a situação não seja resolvida.
Administrador ocupado
Dossiers& Factos contactou telefonicamente o administrador de Mutarara, a fim de saber o que está a ser feito para ultrapassar esta situação. No entanto, o governante recusou-se a falar sobre o assunto, alegadamente porque estava a cumprir uma agenda partidária ligada às eleições internas na Frelimo.
“Estou 100% concentrado nisso, não posso misturar as coisas”, disse.
Nossas fontes em Tete dão conta de que o Governo prometeu construir uma ponte sobre o rio Chinde, o que ainda não se verificou.