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COM 10 PESSOAS TRUCIDADADAS MORTALMENTE ESTE ANO: Linha férrea Beira-Machipanda vira “corredor de morte”

A linha férrea Beira-Machipanda, uma infra-estrutura recentemente reabilitada e crucial para o transporte de pessoas e mercadorias entre Moçambique e Zimbabwe, está a tornar-se paulatinamente um verdadeiro “corredor da morte” ao longo de seu percurso na província de Manica, na zona centro do País.

Texto: António Cumbane, em Chimoio

Dados indicam que, em Manica, de Janeiro até ao momento, dez pessoas foram atropeladas ao longo da via, uma situação descrita pelas autoridades policiais como preocupante, especialmente em comparação com os casos de acidentes de viação, que já resultaram em 25 óbitos.

A travessia inadequada de pedestres em passagens de nível sem guarda é apontada como uma das principais causas desses acidentes fatais em um trecho de cerca de 120 km. A linha férrea Beira-Machipanda passou por uma reabilitação significativa, o que melhorou sua qualidade e fluidez. Novos comboios de passageiros foram introduzidos, ligando a cidade de Chimoio, passando pelos distritos de Nhamatanda e Dondo, em Sofala.

Apesar da regularidade nas operações diárias, especialmente no transporte de carga nos dois sentidos, a ferrovia está a destacar-se pelos prejuízos em vidas humanas em Manica. Na cidade de Chimoio, por exemplo, em menos de sete meses foram registados três acidentes, dos quais dois resultaram em mortes. Os sinistros ocorreram em locais sem guarda.

Entrevistados pelo jornal Dossiers & Factos, na cidade de Chimoio, lamentaram o facto de que, mesmo cientes da situação, os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) pouco ou nada fazem para colocar vigias nos locais mais movimentados. “Veja na entrada da SHER e próximo à Igreja Católica. Ali, além de pedestres, passam veículos, mas não há guarda. Na semana passada, uma estudante perdeu a vida em plena luz do dia na área próxima à Igreja Católica. Dizem que estava ao telefone, mas se houvesse bloqueio, não teria corrido o risco de se expor na linha”, observou António Marques.

“Estamos a falar daqui, mas as mortes estão a ocorrer ao longo da linha toda. Se houvesse alguns bloqueios, a situação seria outra”, comentou uma fonte que preferiu não se identificar.

As mortes são atribuídas principalmente à travessia inadequada dos pedestres, uma vez que em toda a extensão da linha, especialmente nas passagens de nível sem guarda, os comboios não param de apitar, alertando sobre sua chegada. No entanto, os acidentes continuam a ocorrer.

No dia 12 de Abril deste ano, na entrada da Antiga Sociedade de Revue (SHER), em Chimoio, um homem de 43 anos foi atropelado por um comboio e perdeu as duas pernas naquela linha férrea que liga Machipanda ao Porto da Beira. O acidente ocorreu em plena luz do dia, quando Azaraf Mohomed Anifo tentava atravessar a via.

“Por volta das 8 horas do dia 12 de Abril, na zona da SHER, ocorreu um acidente ferroviário do tipo atropelamento envolvendo o comboio ascendente nº V2261 (comboio de serviço) tripulado pelo maquinista Humberto Francisco, de 44 anos, natural da Beira e residente em Gondola”, explicou uma fonte.

O cidadão acidentado, Azaraf Mohamede Anifo, solteiro de 43 anos, residente no Bairro 4, Cidade de Chimoio, sofreu amputação dos membros inferiores e foi socorrido ao Hospital Provincial de Chimoio, onde permanece hospitalizado.

“É uma situação bastante lamentável e que chama a atenção para a necessidade de instalação de controlo com guarda nesta área bastante movimentada”, sugeriu António Bastão, um dos entrevistados. “É difícil calcular como o indivíduo acabou naquela situação. O comboio é uma máquina gigante e sempre apita onde passa. É preciso colocar cancela com guarda nesta área que dá acesso aos bairros de Nhamaonha e é bastante movimentada”, opinou Sérgio Viga, outro entrevistado.

Na semana passada, na passagem de nível sem guarda próxima à Igreja Católica da Soalpo, uma jovem foi atropelada por um comboio enquanto atravessava a via. Testemunhas dizem que a jovem estava ao telefone e, apesar dos sinais sonoros da locomotiva, não se afastou. Ela perdeu a vida no local. “Saía da escola para casa, carregando uma trouxa. Estava ao telefone. Aqui precisa ter um vigia porque, além de pedestres, esta via dá acesso aos bairros de Nhamaonha e Nhaurir e tem muito tráfego de veículos e moto-táxis. Há que se reverter este cenário”, alertou Armando Lápis.

As autoridades expressam preocupação com os acidentes ferroviários na província de Manica que, em menos de sete meses, já resultaram em dez mortos, incluindo o acidente recente. Em um Conselho Coordenador realizado em Gondola, a comandante provincial da PRM em Manica, Lurdes Mabunda, sublinhou que esforços estão em curso para conter esta situação, devendo tais actividades envolver, em primeiro plano, os Caminhos de Ferro de Moçambique.

Texto extraído na edição 570 do Jornal Dossiers & Factos

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