O Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFiM) divulgou informações preocupantes sobre a crescente “indústria dos raptos” no País, revelando que mais de 2,1 mil milhões de meticais (equivalente a 33 milhões de dólares) foram movimentados ilegalmente desde 2014. Este valor astronómico faz parte de um esquema de branqueamento de capitais que tem raízes profundas na economia criminal do País, conforme reportado pela agência Lusa.
Texto: Amad Canda
O Relatório de Análise Estratégica (RAE), elaborado pelo GIFiM, cobre um período de dez anos, de Janeiro de 2014 a Maio de 2024, detalhando como o branqueamento de capitais se interliga aos sequestros que têm ocorrido em todo o território moçambicano. De acordo com o relatório, os fundos ilícitos entram no sistema financeiro através de depósitos em numerários fraccionados. Esses fundos são posteriormente transferidos para contas de suspeitos ou de seus familiares, disfarçados como negócios legítimos, antes de serem exportados ilegalmente para ocultar sua origem criminosa.
Cumplicidade estatal e inacção
O mais alarmante é que tudo isso acontece sob o olhar impávido – e, por vezes, cúmplice – das autoridades competentes. A Procuradoria-Geral da República reconhece a participação de agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) no esquema, indicando que a corrupção pode estar enraizada em sectores-chave da segurança e defesa. Esse reconhecimento lança dúvidas sobre a eficácia das autoridades em combater um tipo de crime que se expande sem controlo.
O ministro do Interior, Pascoal Ronda, revelou que até Março deste ano foram registados 185 casos de rapto, resultando na detenção de 288 suspeitos desde 2011. As principais regiões afectadas incluem a cidade de Maputo e as províncias de Manica, Sofala e Nampula, locais considerados de alto risco para operações financeiras fraudulentas. Além disso, a África do Sul surge como um destino frequente para a lavagem de dinheiro, com empresas de fachada a facilitarem a transferência ilícita de fundos.
Profissionais de colarinho branco: uma rede complexa
O relatório do GIFiM destaca ainda o possível envolvimento de advogados, bancários e membros das Forças de Defesa e Segurança, que auxiliam na criação de um complexo sistema de fachada para ocultar as transacções financeiras. Essas actividades não apenas sustentam, mas também expandem uma rede criminosa que se aproveita de lacunas legais e da fraca fiscalização.
Refira-se que, recentemente, um novo caso de rapto foi registado, concretamente na segunda-feira (22), seguindo-se a outro incidente semelhante ocorrido no sábado anterior (20). Tais eventos sublinham a crescente audácia dos criminosos, que não hesitam em atacar repetidamente, espalhando medo e insegurança entre cidadãos e empresários.
Nos últimos 10 anos, Moçambique tem enfrentado uma alarmante escalada de crimes transnacionais, incluindo tráfico de drogas e branqueamento de capitais. A actual situação destaca a urgente necessidade de reforçar as estratégias de combate à criminalidade, implementando políticas eficazes que garantam a segurança e protejam a integridade financeira do País. Há ainda um alerta sobre o potencial crescimento dessa indústria criminosa, que pode vir a incluir reféns estrangeiros, ampliando as operações de extorsão e os valores envolvidos.