O ambiente político conturbado que Moçambique vive, marcado por manifestações, algumas das quais violentas, desde Outubro do ano passado, já resultou na morte de mais de 400 pessoas, entre civis e agentes da polícia, além da destruição de infra-estruturas públicas e privadas. Esta instabilidade, para além de trazer luto às famílias, tem retraído investimentos nacionais e estrangeiros, comprometendo o desenvolvimento económico do País, daí multiplicarem-se apelos para que haja diálogo urgente entre o Presidente da República, Daniel Chapo, e o principal rosto da oposição, Venâncio Mondlane.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Perante este cenário, o presidente da Associação do Turismo de Vilankulo, Yassin Amuji, defende que a única solução viável para restaurar a estabilidade passa por um compromisso genuíno e abertura ao diálogo entre o Presidente da República e o auto- -intitulado presidente do povo, Venâncio Mondlane. Segundo Amuji, apenas uma negociação transparente e séria poderá criar as condições necessárias para o regresso à normalidade e a recuperação da confiança dos investidores.
O empresário reconhece os esforços que Daniel Francisco Chapo tem empreendido na busca por uma paz duradoura e definitiva. No entanto, sublinha que o sucesso deste processo depende da disponibilidade de ambas as partes em ceder para que o diálogo possa fluir.
“Há receios de negociar com VM”
Sobre as manifestações desencadeadas pelos resultados eleitorais e o elevado custo de vida, Amuji reitera que o diálogo é fundamental, mas que este deve ser acompanhado de compromisso mútuo entre os envolvidos.
“O espaço para o diálogo já foi aberto. O Presidente da República tem-se reunido com líderes de partidos da oposição. Contudo, um dos receios em negociar com Venâncio Mondlane é a forma como ele tem exposto publicamente conversas que deveriam permanecer sigilosas. Um diálogo produtivo, tal como numa relação conjugal, precisa de confiança mútua. Se não houver um mínimo de reserva nas negociações iniciais, torna-se difícil construir essa confiança”, afirma.
O empresário sublinha que há membros da sociedade civil que estariam dispostos a abordar Mondlane, mas temem que as conversas sejam tornadas públicas sem o devido contexto. “Vimos recentemente um grupo liderado por Severino Ngoenha que tentou dialogar com Venâncio Mondlane e acabou exposto nas redes sociais. Esse tipo de postura dificulta qual quer tentativa séria de negociação”, alerta.
Para Amuji, é imperativo que ambas as partes cedam para que o diálogo tenha sucesso. “Não podemos esperar que apenas um dos lados faça concessões. O País precisa de soluções concretas e, para isso, é necessário que haja maturidade e responsabilidade no processo negocial. O mais importante agora é pacificar Moçambique e recuperar a confiança dos investidores, porque sem estabilidade, não há desenvolvimento”, conclui.
“Estado tem recursos para pagar horas-extras”
Outro aspecto que preocupa Amuji é a falta de regularização das dívidas do Estado para com os seus funcionários públicos, particularmente no que se refere ao pagamento de horas extraordinárias. O líder empresarial acredita que o Governo tem recursos suficientes para saldar estes compromissos e considera que a recente redução do número de ministérios e a eliminação de cargos de vice-ministros são passos positivos para uma gestão mais eficiente.
“O Estado pode pagar esta dívida. Só com esta restruturação [da máquina governativa], serão poupados cerca de 17 mil milhões de meticais. A prioridade deve ser a regularização dos salários dos funcionários de classe inferior e, em seguida, o pagamento às pequenas e médias empresas, cujas actividades foram prejudicadas pela falta de liquidez. Uma vez que estes pagamentos sejam feitos, o dinheiro voltará a circular e permitirá a contratação de mais trabalhadores”, defende.