Lamentavelmente, o “coitado” do Dom Carlos Matsinhe, Bispo da Diocese dos Libombos e actual presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), num período de apenas três dias que se seguiram à realização das VI Eleições Autárquicas em Moçambique, deixou de ser apenas figura de reconhecido mérito e passou a ser bastante contestado. A cada dia, vê sua imagem desgastar-se, sendo inclusive adjectivado pejorativamente só pelo facto de ter aceite ser presidente da CNE.
Depois de várias décadas ao serviço de Deus e a fazer uma carreira religiosa de se lhe tirar o chapéu – foi ordenado sacerdote em 1980 – recentemente, o diabo apareceu usando como camuflagem os fazedores de política, diga-se suja, para desviar aquele que jurou servir a Deus.
Sucede que, hoje, políticos de todos os níveis, académicos e não académicos, diplomatas e até outros clérigos do nível dele e seus seguidores fazem contra ele uma pressão que não se imaginaria há uns anos. Dom Matsinhe deve estar a atravessar os piores momentos da sua vida, em termos de Paz e de espírito.
É que, na verdade, o Bispo vai sendo atacado por coisas que devia ter evitado se tivesse escutado conselhos de algumas personalidades que, na altura, o alertaram do perigo e risco que incorria ao aceitar aquele cargo.
Hoje é visto como péssimo, havendo até vozes que o apelidam de “verdadeiro diabo” por tudo que acontece depois das eleições de 11 de Outubro. Em outras palavras, e para fazer jus à afirmação que fiz acima, o diabo usou os políticos para sujar o servo de Deus. Precisamos lembrar que as eleições são para beneficiar os políticos e são estes que as organizam, orquestram tudo menos alguma coisa, e depois quem fica manchado é quem os políticos chamam para os servir.
Olhando para os factos, Bispo Matsinhe, dentro deste sinuoso percurso, pouco terá ainda a fazer para salvar a sua imagem. É que, da forma como a situação se encontra, dificilmente poderá se livrar e voltar em pouco tempo a recuperar a sua boa e reconhecida imagem.
A pressão contra esta figura é tão enorme que até parece ser o único que trabalha e decide na CNE, quando, na verdade, aquele é um órgão estruturado e com princípios já regulamentados. Com a forte pressão que se verifica nesta contenda, o que resta ao Bispo é deixar o lugar à disposição e procurar formas de falar com Deus de maneira mais isenta possível e continuar a viver e a trabalhar como antes.
Na verdade, independentemente de qualquer que fosse o resultado eleitoral, a favor ou a desfavor deste ou daquele partido, Matsinhe seria sempre crucificado pelos interessados deste processo. Uns fazem-no de forma aberta e pública, até usando vários canais. Outros de forma discreta e, quem sabe, de maneiras menos adequadas, enfim.
Os filósofos ou a filosofia explica sobre a fragilidade do ser humano, sobretudo quando submetido à pressão no ambiente que o rodeia, incluindo no que tange à sua percepção física.
Aliás, e ainda segundo os filósofos, no mundo podemos encontrar dois tipos de pessoas, sendo que umas são as que seguem seus próprios desejos /conhecimentos e outras são aquelas que seguem os desejos dos outros. A diferença destas é que as primeiras são fortes e não obedecem a ninguém, enquanto as outras são débeis e só se limitam a fazer e seguir o que outros dizem e fazem.
Infelizmente, como humanos, somos tão submissos, daí o facto de Dom Matsinhe se ter visto encurralado, de mãos atadas perante as circunstâncias. Por outra, e olhando para a pressão que lhe é feita no sentido de largar o cargo, resta perceber se, para quem jurou aceitar servir a Deus e à Nação, seria certo deixar o lugar por conta do barulho existente.
Enfim, Dom Carlos Matsinhe caminha para a casa dos 70 anos. É casado e pai de família. Clérigo por excelência. É um dirigente religioso, mas hoje quis o destino que sua personalidade fosse penhorada por causa da luta e ambições dos outros.
Antes de terminar, uma pergunta que não quer calar é: quanto é que um presidente da CNE ganha e que pode prender Dom Matsinhe àquele cargo em troca de tantos insultos?
Basta lembrar que, dentre os diversos cargos que Matsinhe exerceu com brio, foi presidente da Associação Moçambicana de Ajuda Mútua, desempenhou papel importante para o desenvolvimento do sector privado na área da Educação, depois da entrada do multipartidarismo em Moçambique. Antes, Matsinhe e membros da congregação desenvolveram um Centro de Reabilitação de Crianças de Rua que buscava fornecer abrigo, educação e reintegração de crianças de rua na sociedade.
Caso para dizer que os dias que passam de certeza servem para registar como “História de Vida” para ele, sua família e, quem sabe, amigos também.
*Extraído da edição 535 do Dossiers & Factos