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DRAGHI (FINALMENTE) APONTA O ÓBVIO: “Europa está atrasada”

Mário Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro-ministro de Itália, teve a coragem de apontar o que muitos já viam, mas poucos tinham ousado dizer: a União Europeia está a perder terreno de forma significativa em termos de autonomia e competitividade. Num relatório entregue à Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Draghi traçou um cenário preocupante em que a Europa caminha para a estagnação, enquanto os Estados Unidos e a China continuam a avançar em inovação, investimento e produtividade

Texto: Amad Canda

Draghi enfatizou que a diferença de inovação entre a UE e as duas grandes potências mundiais é cada vez mais evidente, e apelou à tomada de medidas urgentes. Segundo o economista italiano, a Europa precisa de coordenar esforços entre os seus 27 Estados- -membros e apostar fortemente em áreas estratégicas, como a segurança e defesa, bem como em políticas que possam aumentar a produtividade em 6% ao longo dos próximos 15 anos. Para isso, será necessário um investimento de cerca de 800 mil milhões de euros anuais, o equivalente a 5% do PIB da União.

Entre as soluções propostas, Draghi destacou a emissão de dívida conjunta como um caminho viável, tal como foi feito durante a pandemia, com o mecanismo de recuperação e resiliência. Esta abordagem poderá ser a chave para permitir à Europa voltar a competir em igualdade de condições com os EUA e a China.

Para Draghi, a situação actual é clara: “Ou actuamos agora, ou enfrentaremos uma agonia lenta.” O relatório de 400 páginas, que inclui 170 medidas concretas, alerta para o facto de a Europa já estar a ficar para trás em áreas cruciais como a inovação tecnológica e a produtividade industrial. Enquanto os EUA e a China se adaptaram e fomentaram novas tecnologias, a Europa manteve-se ancorada em sectores tradicionais, como a indústria automóvel, que dominam os investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D), mas sem o dinamismo necessário para competir com os novos sectores emergentes.

Outro ponto crítico levantado por Draghi é a dependência europeia de fontes de energia caras e menos eficientes. A guerra na Ucrânia acelerou a redução da dependência do gás natural russo, mas os preços da energia na Europa continuam a ser significativamente mais altos do que nos Estados Unidos, afectando a competitividade das empresas europeias.

Além disso, a estagnação da produtividade na Europa é agravada pela quebra demográfica. O relatório prevê que a União Europeia perderá cerca de dois milhões de trabalhadores por ano, o que poderá paralisar o crescimento económico. Draghi não hesitou em afirmar que, se o crescimento continuar a abrandar, a Europa terá dificuldades em alcançar os seus principais objectivos, como a neutralidade carbónica e a relevância geopolítica.

A defesa é outro sector onde a Europa tem ficado para trás. As despesas em defesa na UE representam apenas um terço das dos Estados Unidos e grande parte desses gastos não é orientada para inovação, ao contrário do que acontece no outro lado do Atlântico. Draghi propôs que os países europeus da NATO aumentem os seus gastos em defesa para 2% do PIB, o que poderia gerar mais 60 mil milhões de euros em capacidade de investimento.

Em termos comerciais, Draghi alertou para o facto de a globalização ter levado a uma interdependência estratégica entre as grandes economias. No entanto, o mundo está a caminhar para uma era mais proteccionista, com os Estados Unidos e a China a aumentarem os incentivos fiscais e os apoios estatais às suas indústrias, deixando a Europa em desvantagem.

Este cenário, segundo Draghi, exige uma resposta urgente e coordenada. Caso contrário, a Europa corre o risco de ficar irremediavelmente para trás na corrida global pela inovação e competitividade. O relatório entregue à Comissão Europeia deverá servir como base para as decisões estratégicas dos próximos anos, com a expectativa de que as suas recomendações sejam rapidamente implementadas.

A mensagem de Draghi é clara: a União Europeia tem as bases, mas precisa agir agora para evitar uma queda prolongada em termos de autonomia e competitividade no cenário global.

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