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EDITORIAL D&E: O custo social e económico dos jogos de azar

Em Moçambique, onde a maioria da população enfrenta desafios económicos profundos, os jogos de azar emergem como um fenómeno que agrava ainda mais a pobreza, ao invés de gerar qualquer benefício significativo. Antigos acordos que legalizaram e regulamentaram essa prática parecem ter ignorado o impacto devastador que os jogos de azar têm na vida das pessoas mais vulneráveis, criando uma falsa promessa de riqueza e prosperidade.

Os três pilares estratégicos que deveriam orientar o desenvolvimento do País – erradicação da pobreza, promoção de educação financeira e geração de empregos sustentáveis – são diretamente afectados pelo aumento do vício em jogos de azar. Estes jogos não só drenam os recursos financeiros dos cidadãos, como também minam a estrutura familiar, corroem a capacidade de poupança e reduzem as oportunidades de investimento em sectores produtivos.

No plano económico, os jogos de azar não apresentam um retorno significativo que justifique sua proliferação. A geração de empregos, muitas vezes usada como argumento para sua defesa, é mínima e limitada a um pequeno sector, incapaz de absorver a massa laboral do País. Além disso, grande parte dos lucros dos casinos e casas de apostas é expatriada, contribuindo pouco para a economia local e aprofundando o déficit no balanço de pagamentos do país.

Outro ponto importante é a correlação entre o aumento dos jogos de azar e a vulnerabilidade social. Num ambiente de crise económica e desemprego crescente, muitos recorrem ao jogo na esperança de mudar sua sorte de forma rápida. Contudo, isso frequentemente resulta em dívidas incontroláveis, perda de património e até desintegração familiar. Ao invés de serem um escape temporário das dificuldades financeiras, os jogos se tornam uma armadilha permanente, levando seus praticantes a uma espiral de pobreza ainda mais profunda.

A legalização dos jogos de azar em Moçambique também abre espaço para problemas correlacionados, como o aumento de actividades ilícitas e a promoção de comportamentos de risco, como o alcoolismo e o uso de drogas. Estes problemas acabam impactando ainda mais a já sobrecarregada infraestrutura de saúde pública, desviando recursos que poderiam ser usados para melhorar as condições de vida da população. Ao permitir a expansão dessa indústria, o País também aceita os custos sociais que vêm com ela, com pouco ou nenhum retorno económico para contrabalancear o impacto negativo.

Num contexto onde a maioria da população vive abaixo da linha da pobreza, os jogos de azar funcionam como um ciclo vicioso que perpetua a miséria. A busca por ganhos rápidos leva muitos moçambicanos a sacrificarem os poucos recursos que possuem, comprometendo suas necessidades básicas. Em vez de soluções estruturais que ofereçam estabilidade e melhoria de vida, os jogos de azar apresentam-se como uma fuga ilusória e, no final, destrutiva.

Moçambique deve rever sua postura em relação aos jogos de azar. Em vez de promover uma actividade que aprofunda desigualdades, o Governo deveria redireccionar seus esforços para políticas públicas que fortaleçam o sistema educacional, criem empregos em setores produtivos e apoiem o desenvolvimento de habilidades empreendedoras. É necessário um novo acordo social, onde o foco seja o empoderamento económico real da população e não o fomento de práticas que apenas aumentam a desigualdade e perpetuam a pobreza.

O combate à miséria exige um compromisso sério com o futuro da nação, e os jogos de azar, em qualquer formato, não têm lugar nesse pprojecto Um País que almeja o desenvolvimento sustentável deve eliminar de sua agenda económica actividades que apenas favorecem a exploração das fragilidades de sua população. Ao invés de alimentar uma cultura de dependência, Moçambique precisa focar em soluções que tragam crescimento econômico genuíno e oportunidades para todos.

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