O terrorismo que assola Moçambique desde 2017, particularmente na província de Cabo Delgado, é um fenómeno que não pode ser ignorado, sobretudo num momento crucial como as eleições. A violência extremista não só tem causado milhares de mortes e o deslocamento forçado de populações, mas também tem paralisado projectos vitais para o desenvolvimento do país. Esta situação deveria, por si só, ser um tema central nos discursos e propostas dos candidatos presidenciais, mas, infelizmente, tem sido marginalizada nas pré-campanhas de Daniel Chapo, Lutero Simango, Ossufo Momade e Venâncio Mondlane.
A província de Cabo Delgado é rica em recursos naturais, sendo o projecto de exploração de gás natural liderado pela Total Energies um dos mais importantes. Este projecto, o maior investimento privado em curso em África, tinha o potencial de transformar a economia moçambicana, gerando receitas significativas que poderiam ser canalizadas para o desenvolvimento socioeconómico do país. Contudo, a instabilidade provocada pelo terrorismo forçou a sua paralisação, representando uma perda gigantesca para o país.
A ausência de uma estratégia clara e eficaz para combater o terrorismo e restaurar a paz em Cabo Delgado tem consequências devastadoras para Moçambique como um todo. A insegurança retrai não só os investimentos estrangeiros, m a s também impede a exploração dos recursos naturais de forma sustentável, afectando negativamente o crescimento económico e a melhoria das condições de vida dos moçambicanos.
O terrorismo não é apenas uma ameaça para Cabo Delgado; é uma ameaça nacional. A onda de deslocados que fogem da violência sobrecarrega outras províncias, colocando pressão sobre os recursos do Estado. Estas pessoas, que perderam tudo, dependem do apoio do governo para abrigo, alimentação e, eventualmente, reassentamento. A resposta estatal a esta crise humanitária precisa de ser eficiente e coordenada, o que exige liderança e compromisso político ao mais alto nível.
Os quatro candidatos à presidência não podem continuar a ignorar esta realidade. É imperativo que expliquem detalhadamente quais as suas estratégias para pacificar Cabo Delgado e, por extensão, Moçambique. A pacificação não é apenas uma questão de segurança, mas também de desenvolvimento. A normalização da situação permitiria o retorno dos investimentos e a revitalização da economia local, que é crucial para o bem-estar da população.
Em termos de segurança, é necessário delinear um plano claro que envolva a capacitação das Forças de Defesa e Segurança, o reforço da cooperação internacional, e o investimento em inteligência para antecipar e prevenir ataques. A estratégia de pacificação deve, igualmente, considerar a inclusão social e económica das comunidades afectadas, para que estas não sejam vulneráveis ao recrutamento por grupos extremistas.
A dimensão humanitária do conflito em Cabo Delgado também requer atenção prioritária. Os candidatos precisam de apresentar propostas concretas para o acolhimento e reassentamento dos deslocados, garantindo que estas pessoas possam reconstruir as suas vidas com dignidade. Isso inclui acesso a serviços básicos como educação, saúde, e oportunidades de emprego.
A reintegração dos deslocados na sociedade é crucial para evitar a perpetuação de ciclos de pobreza e violência. Para isso, os futuros líderes de Moçambique devem promover políticas que incentivem a coexistência pacífica e a reconstrução do tecido social nas áreas afectadas pelo terrorismo.
A educação e a sensibilização das comunidades sobre os perigos do extremismo também são fundamentais. Os candidatos devem comprometer-se a implementar programas que promovam a paz, a tolerância, e a convivência harmoniosa entre diferentes grupos religiosos e étnicos.
Por fim, a transparência e a responsabilização na gestão dos recursos naturais de Cabo Delgado são essenciais para garantir que os benefícios do desenvolvimento sejam partilhados por todos os moçambicanos. Os candidatos devem assumir o compromisso de combater a corrupção e garantir que as receitas do gás natural e de outros recursos sejam usadas para o bem-estar da população.
Em suma, o terrorismo em Cabo Delgado não pode continuar a ser um tema marginal nos discursos de précampanha. A paz e a segurança nacional dependem da capacidade dos futuros líderes em enfrentar esta crise de forma decisiva e eficaz. Moçambique precisa de líderes que compreendam a gravidade da situação e estejam dispostos a tomar as medidas necessárias para garantir a paz e o desenvolvimento sustentável para todos os seus cidadãos.
Texto extraído na edição 575 do Jornal Dossiers & Factos