Em Outubro deste ano, Moçambique vai acolher as sextas eleições gerais da sua história democrática, que incluem a eleição presidencial, legislativa e das Assembleias Provinciais. Entretanto, a sensivelmente sete meses do escrutínio, os potenciais eleitores estão na mais densa escuridão, sem ideia nem dos candidatos à Presidência da República, nem dos programas que cada partido propõe. O futuro político, por estas alturas, é uma grande incerteza.
Texto: Dossiers & Factos
Em Abril de 2023, o presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, confirmava sua pretensão de se recandidatar à Presidência da República. Bem antes, também Donald Trump deixara claro o seu desejo de voltar a ser o inquilino da Casa Branca. Ou seja, os americanos e o mundo sabem que, caso o republicano não seja barrado pela Justiça, haverá nas eleições de Novembro deste ano a reedição do confronto de 2020.
Enquanto isso, em Moçambique, onde o sufrágio está aprazado para 09 de Outubro deste ano, ainda ninguém se chegou à frente. Os três principais partidos, dos quais costumam emergir os contendores com mais hipóteses de triunfar, ainda não se definiram e, aparentemente, não têm pressa nenhuma.
A nível do partido no poder, sabe-se apenas de informações dos bastidores graças ao trabalho da imprensa. Oficialmente, e conforme avançou a porta-voz do partido, Ludmila Maguni, sabe-se que as internas decorrerão no mês de Março, mas, ainda assim, os potenciais candidatos a candidato não se assumem, numa altura em que se esperava que estivessem a fazer a campanha interna – campanha no verdadeiro sentido do termo, e não lobbies.
A situação não é diferente nos principais partidos da oposição, designadamente a Renamo e Movimento Democrático de Moçambique (MDM). É certo que, no ninho da perdiz, são já conhecidos os putativos candidatos – Venâncio Mondlane, Elias Dhlakama, Juliano Picardo e o próprio Ossufo Momade – porque assumiram abertamente, e sem tabus, suas intenções. Contudo, e sem explicação clara, o segundo maior partido do País ainda nem tem data para a realização do congresso electivo, numa altura em que Ossufo Momade já extrapolou, no dia 17 de Janeiro, os cinco anos de mandato para os quais foi eleito em 2018, no congresso de Gorongosa.
Note que a questão do congresso é relevante porque, em regra, é neste conclave que é escolhido o presidente do partido, figura que, tradicionalmente, assume a condição de postulante ao mais alto cargo da nação.
Acto contínuo, na “capoeira” do “galo” também impera o secretismo. Olhando para a tradição dos partidos moçambicanos, é expectável que o candidato venha a ser o próprio Lutero Simango – ao contrário de Momade, este está dentro do seu mandato, depois de eleito em 2021 -, mas o porta-voz do partido, Ismael Nhacúcuè, já fez saber que o candidato será escolhido em Março, à semelhança do que acontece na Frelimo.
Um rumo incerto
A pouca flexibilidade dos partidos políticos faz com que, a sete meses das eleições presidenciais, os moçambicanos estejam completamente às cegas em relação aos nomes, mas, sobretudo, aos projectos que poderão escolher para o País. É caso para dizer que o futuro político é absolutamente incerto.
Por outro lado, esta situação também prejudica os futuros candidatos, que assim terão pouco tempo para apresentarem os planos que têm para Moçambique e tentar convencer o eleitorado, o que, certamente, só não terá consequências mais graves porque as propostas dos políticos são pouco escrutinadas pelos cidadãos – talvez por conta da iliteracia.
Entretanto, e alargando o espectro, pode se dizer que à incerteza política junta-se a incerteza de natureza socioeconómica, numa altura em que o Governo moçambicano até já pondera a decretação do Estado de Emergência em Cabo Delgado. Este facto, derivado do recrudescimento do terrorismo, é a prova da volatilidade a que aquela província está sujeita, até porque ainda há poucos meses falava-se na eventual retirada das forças da SAMIM, justamente porque a situação era já considerada estável.