Desde o início das manifestações, parte das quais violentas, em Outubro do ano passado, o ambiente de negócios na província de Inhambane tem-se deteriorado significativamente. Em vários distritos, os produtos de primeira necessidade, como açúcar, arroz e óleo, começam a escassear nas prateleiras dos estabelecimentos comerciais, obrigando as populações a deslocarem-se a distritos vizinhos para conseguirem garantir o mínimo para a alimentação.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
A situação poderá a agravar-se nos próximos dias, caso haja intensificação dos protestos um pouco por todo o País, afectando também a província de Inhambane. O comércio é um dos sectores mais prejudicados, registando interrupções na distribuição de bens e encerramento de lojas, o que agrava ainda mais a falta de produtos essenciais.
Estabelecimentos fechados e preços elevados
Uma ronda efectuada pela nossa equipa de reportagem nos distritos de Homoíne, Govuro, Massinga e Inharrime revelou um cenário preocupante. Muitos estabelecimentos encontram-se encerrados, enquanto os poucos que ainda abrem têm prateleiras praticamente vazias. Os produtos disponíveis são vendidos a preços impostos por supostos manifestantes, numa tentativa de evitar actos de vandalismo.
Com as lojas desabastecidas e as vias de acesso bloqueadas, as populações locais são forçadas a procurar rotas alternativas ou, para aqueles que têm condições, a viajar para outros distritos em busca de alimentos.
Antónia Homo, residente na vila de Ho moíne, descreve as dificuldades enfrentadas: “Desde o mês passado que não temos produtos no nosso distrito. Sempre que preciso de arroz, sou obrigada a apanhar um chapa para a cidade da Maxixe ou para Inhambane. O problema é que acaba por sair muito mais caro. Um saco de 25 kg de arroz pode custar até 2.500 meticais, incluindo o transporte.”
Também Fernando Jombosse, agente de limpeza e residente em Massinga, sente o peso do custo de vida. Com um salário de 9.000 meticais, sustenta a esposa e dois filhos. Segundo ele, a actual crise agravou ainda mais as dificuldades financeiras: “Agora a minha cabeça não para de pensar em como alimentar a minha família. Como é possível, com 9.000 meticais, comprar comida, pagar luz, água e transporte para ir trabalhar? As coisas estão tão caras que, em muitos dias, dormimos sem comer.”
Protestos e impacto no emprego
Os protestos são liderados por apoiantes de Venâncio Mondlane, que alegam que estas acções visam exigir a reposição da verdade eleitoral e a redução dos preços dos bens essenciais e materiais de construção, de modo a aliviar o custo de vida.
Como consequência, muitos comerciantes que operam nos distritos mais afectados viram-se obrigados a reduzir o número de trabalhadores ou até a encerrar as suas actividades, colocando centenas de jovens no desemprego.
Sartez Dramati, empresário local, explica a difícil decisão que teve de tomar: “Não tivemos escolha senão cortar despesas. O negócio já não está a render. O país tem de voltar a ser como era antes. Chega de manifestações. Estamos a ser prejudicados sem termos qualquer ligação com esta situação. Que resolvam os seus problemas sem nos afectar.”
Além das dificuldades no abastecimento, há relatos de vandalização e saque de estabelecimentos comerciais por parte de manifestantes, que acusam os proprietários de não cumprirem as 30 medidas anunciadas por Venâncio Mondlane para reduzir o custo de vida.
Neste momento, o medo e a incerteza dominam os empresários e comerciantes, que não sabem o que esperar nos próximos dias. Assim, muitos optam por manter as lojas encerradas ou operar com restrições, temendo novos ataques e o agravamento da crise.