Daniel Francisco Chapo, secretário-geral interino da Frelimo, na sua visita a província de Inhambane, de que foi governador por oito anos, para ser apresentado publicamente como candidato desta formação política à Presidência da República. Discursando perante milhares de membros e simpatizantes que lotaram o campo de futebol de Muelé, na capital da “terra da boa gente”, Chapo fez menção aos sectores económicos que merecerão sua prioridade em caso de vitória nas eleições de 9 de Outubro próximo. São eles: indústria extractiva, agricultura e turismo, entre outros.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Numa província em que a exploração de recursos tem provocado algumas desinteligências entre as comunidades, autoridades governamentais e empresas exploradoras, Chapo garante ter já um plano para inverter o cenário. Aparentemente, aliás, o plano até resulta da experiência que teve enquanto exercia as funções de governador.
“Foi aqui em Inhambane onde nós, em 2023, começamos o diálogo com a Sasol – multinacional sul-africana que explora o gás de Pande e Temane – sobre a necessidade de começar a fazer traba lhos para as populações da província de Inhambane, e dissemos ainda que a Sasol precisava melhorar nas componentes de responsabilidade social e conteúdo local, para melhorar a vida das comunidades e dos empresários locais, principalmente as pequenas e médias empresas”, assinalou.
Segundo o candidato da Frelimo, os resultados deste diálogo já são visíveis, com as comunidades locais a beneficiarem de “alguns serviços sociais básicos” resultantes da exploração dos recursos lá existentes. A título de exemplo, cita os Acordos de Desenvolvimento Local – um modelo tripartido entre a Sasol, as comunidades locais e os governos distritais (Govuro e Inhassoro), através dos quais são definidas e atacadas as principais prioridades das zonas onde são extraídos os recursos.
No plano da promoção do conteúdo local, Daniel Chapo lembra que “era difícil, naquela altura, encontrar uma empresa local ou moçambicana a prestar serviços à Sasol”, o que deixou de suceder graças à intervenção do Governo. Trata-se de uma experiência que Chapo pretende replicar um pouco por todo o país, principalmente nos locais onde são explorados os recursos, sejam o gás, rubi ou areias pesadas.
Gás veicular ao virar da esquina?
Daniel Chapo abordou igualmente o projecto denominado “gás veicular”, fruto de um memorando de entendimento rubricado há mais de três anos entre o Governo Central, através do Ministério dos Recursos Minerais e Energia, Banco Nacional de Investimento (BNI) e Sasol. Este projecto visa fomentar o uso de viaturas movidas a gás.
“Aqui na província de Inhambane vão começar a circular viaturas movidas a gás para transportar a nossa população, aquele gás deve beneficiar toda a província, através dos impostos e receitas”, prometeu, garantindo que o trabalho prosseguirá no sentido de replicar a iniciativa na vizinha província de Gaza e um pouco por todo o país, até porque gás não falta: “temos sinais do gás em Búzi, na província de Sofala, e na Bacia do Rovuma.”
“Buscaremos linhas de financiamento para os jovens”
Inspirado no discurso de Samora Machel, segundo o qual diz que a juventude é a seiva da Nação, Daniel Chapo afirma que para esta camada social há “planos enormes”.
“Os nossos jovens precisam de mais centros de formação técnico-profissional, precisam de financiamento para poderem fazer seus negócios. Por isso, aquilo que nós fizemos para os jovens de Inhassoro queremos replicar por todo o país por forma a garantir que os nossos jovens tenham mais emprego e mais formação técnico-profissional.
” Em Inhassoro, recorde-se, foi construído um centro de formação profissional tido como um dos melhores do país.
Em caso de vitória nas eleições deste ano, o SG interino da Frelimo garante que a sua governação estará virada para a criação de soluções para os problemas que apoquentam a juventude, que diz serem o “futuro do país”. “Continuaremos a trabalhar no ordenamento territorial, infra-estrutura e terra. Os jovens terão acesso a terrenos onde há condições. Vamos continuar a promover uma linha de financiamento para que os jovens desenvolvam os seus negócios, para que haja mais pequenas e médias empresas para a nossa juventude”, prometeu.
“A cultura e o turismo produzem dinheiro”
Considerado a bandeira da província de Inhambane, o candidato presidencial prometeu igualmente dar a sua maior atenção para a cultura e turismo, promovendo sua preservação e valorização.
“Nós vamos continuar a trabalhar na área do turismo e cultura. Inhambane é uma província naturalmente turística e o turismo é a nossa marca. As praias mais bonitas do mundo, as ilhas mais bonitas do mundo são de Inhambane. Para desenvolver o turismo, a nossa timbila, que é o nosso património cultural da humanidade, e outras danças que nós temos aqui em Inhambane, como o Zore, vamos continuar a preservar e também vamos continuar a trabalhar para que a cultura seja um activo que produz dinheiro para a nossa população a todos os níveis.”
“Moçambique deve importar menos e exportar mais”
A agricultura é a base do desenvolvimento do país e é um dos sectores que mais necessita de atenção por parte do governo, dada a urgência de livrar a nação da dependência das importações.
“A agricultura vai continuar a merecer a nossa atenção. Inhambane tem uma experiência muito grande e nós queremos transmitir para todo o país. A experiência de termos aqui uma agricultura comercial. Ali em Vilankulo, temos um grande projecto que se chama Agri-massaroca, que produz batata em grandes quantidades para o Mercado Grossista do Zimpeto, e também para as províncias vizinhas de Gaza, Sofala e Manica e um pouco para Zambézia e Nampula. Queremos colocar ao nível do país mais projectos daquela dimensão no sector da agricultura.”
Neste momento, a empresa Agri- -massaroca está a produzir banana e exporta a mesma para África do Sul, mas também produz milho e abastece a MEREC, que é uma das grandes empresas de produção de cereais.
Outro projecto que, na perspectiva do candidato da Frelimo, merece réplica é o “Chapo Moz”, que neste momento está a produzir ananás, manga e vários outros tipos de frutas que são depois exportadas para África do Sul.
“Portanto, Inhambane de ontem não é Inhambane de hoje. Queremos levar a experiência daqui, de uma província importadora que virou exportadora, para todo Moçambique, um país que vai importar menos e exportar mais.”
Texto extraído na edição 119 do Jornal Dossier económico