Cada vez mais países no mundo têm vindo, de forma gradual, a explorar e a incorporar tecnologias de inteligência artificial (IA) em vários sectores, como de saúde, agricultura, educação e governação. Moçambique, não sendo uma ilha, já começa a assistir ao alvorecer de debates sobre esta matéria, à medida que a população digitalmente alfabetizada cresce. Entre a tribo da informática – quer informáticos seniores, quer estudantes – é unânime a ideia de que a integração da IA é de extrema importância e tem enormes benefícios para o desenvolvimento de um país. Os mesmos fazem notar, porém, que Moçambique tem a desvantagem de ser tecnologicamente fraco.
Texto: Milton Zunguze
A tecnologia desenvolve a cada dia, transformando significativamente o mundo em que vivemos. Ela transportou-nos para uma nova era, que causa temores, mas também fascínio. Estudante de informática, Ivan Huo encontra muitos aspectos positivos na tecnologia e destaca o facto de ela ajudar na automação de tarefas, reduzindo o tempo e os custos, para além de proporcionar comodidade aos usuários.
Com esta combinação de vantagens, a IA tem potencial para colocar Moçambique noutros patamares, mas há um handcap: O País é ainda bastante fraco no capítulo da tecnologia, observa Huo.
“Sem IA, daqui a pouco o País passa para o quarto mundo”
No mesmo diapasão alinha o informático Américo Vicente, para quem a IA pode tornar o País verdadeiramente competitivo no mercado global. “Ela [a IA] é usada em diversas áreas ou sectores cruciais para o desenvolvimento de um País, desde agricultura, saúde, indústrias, etc.”, salienta, sem deixar de alertar para o risco de, sem este poderoso instrumento, Moçambique ficar relegado ao “quarto mundo”.
Para evitar esse cenário, de todo calamitoso, a fonte considera ser urgente trabalhar na massificação da tecnologia de IA em diversos sectores por forma a catapultar os níveis de produção e produtividade. Lembra, de resto, que é por causa dos seus baixos níveis de produção – a balança comercial segue extremamente desequilibrada – que Moçambique ainda figura no indesejável grupo dos países do terceiro mundo.
Do lado oposto, prossegue o perito, resistir aos “encantos” da IA não faz sentido, até porque os maiores produtores e exportadores usam e abusam da tecnologia. “Olhando na perspectiva do consumidor, repare que nós consumimos muito mas temos preguiça de produzir. Consumimos coisas que foram produzidas fora, e como foram produzidas? Foram produzidas através de máquinas cujo uso nós não queremos implementar”.
A IA, sublinha o especialista, oferece uma infinidade de vantagens, constituindo-se num grande complemento para o ser humano, cujas capacidades são limitadas. “Ela consegue prever resultados através de dados, mas a pessoa é limitada, ela sem linha de dados consegue analisar”, anota, realçando a precisão e flexibilidade com que a IA faz as operações.
“A IA não te vai tirar o pão”
Em debates sobre o papel da tecnologia, são comuns manifestações de temores de que esta possa substituir o homem, gerando mais desemprego num mundo onde as taxas deste indicador são já bastante elevadas. Mas Américo Vicente prefere olhar para a ascensão da IA com bastante optimismo. A fonte entende, de resto, que este medo é uma das razões que faz com que Moçambique continue atrás em termos tecnológicos.
“O importante não é o assalariamento dos indivíduos, mas, sim, a obtenção de vantagens na execução de tarefas específicas de forma dinâmica […], isso é que é produtivo”, defende Vicente, acrescentando que é preciso pensar além da nossa realidade.
O especialista assevera que o homem sempre será superior às máquinas, das quais, por sinal, é fundador. É a convicção de um profissional que, quando questionado sobre eventuais desvantagens da tecnologia, apenas lhe ocorre falar da aculturação. “Ela transfere as novas coisas e mata as antigas culturas”, alerta, antes de voltar à perspectiva positiva para constatar que “uma criança que nasce numa época de tecnologia avançada é [mais] avançada em relação à criança que nasce numa época em que a tecnologia não existe”.
Profissionalismo em causa?
Debruçando-se, em particular, em torno da integração da IA no sector da saúde, Célio Agostinho teme que o uso excessivo da IA crie dependência, o que, na sua opinião, pode colocar em xeque o profissionalismo dos agentes de saúde e, por consequência, a saúde e vida dos pacientes.
“O médico pode optar por usar a tecnologia para saber quais são os resultados dos seus pacientes, negligenciado e atrofiando as suas habilidades de diagnóstico”.