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GUEBUZA DESTACA: “Não há dignidade com fome”

Armando Guebuza, antigo Presidente da República, apelou recentemente à criação de condições de desenvolvimento que garantam dignidade aos cidadãos moçambicanos, afirmando que a dignidade está directamente ligada à melhoria das condições de vida e ao progresso do País. “Não há dignidade com fome”, disse Guebuza, sublinhando que a luta de libertação não foi apenas pela independência política, mas pela dignidade de cada moçambicano, traduzida em saúde, educação, energia eléctrica, água potável e o fim da miséria.

Texto: Milton Zunguze

Para Guebuza, o desenvolvimento inclusivo deve envolver todos os moçambicanos, independentemente das suas origens ou crenças, de modo a cumprir a promessa feita durante a luta de libertação: proporcionar uma vida melhor para todos. Ele lembrou que o objectivo central da independência era alcançar uma vida digna e, por isso, a erradicação da pobreza e da fome são fundamentais para o cumprimento desse sonho.

Entretanto, são muitos os obstáculos que dificultam o alcance destes objectivos, entre eles o colonialismo, que, segundo o ex-estadista, nunca deixou de existir, tendo apenas assumido outras formas, como é o caso das famosas “sanções económicas”.

“Um dos “erros” que cometemos foi lutar contra a opressão colonial para alcançar a nossa independência”, afirmou, justificando assim as sanções económicas que o País enfrenta desde o período de pré-independência. “Essas sanções começaram logo que conquistámos a independência, e hoje dão-lhes outros nomes para enganar os distraídos”, continuou, referindo-se ao facto de Moçambique ter sido “punido” por não ter seguido o caminho que os antigos poderes coloniais queriam.

O antigo Presidente salientou que, embora o colonialismo tenha desaparecido formalmente, ele subsiste de outras formas. “As forças que nunca quiseram que fôssemos livres continuam, embora de outras formas, a não querer que sejamos livres”, destacou, apontando para ameaças modernas como o terrorismo, a pilhagem dos recursos naturais e o tráfico internacional de drogas e de pessoas. Guebuza reforçou que os recursos moçambicanos continuam a ser cobiçados por interesses externos, tal como aconteceu durante a era colonial.

Apelos à união

Para enfrentar esses desafios, Guebuza defendeu uma melhor preparação das Forças de Defesa e Segurança, destacando a importância de uma logística adequada e de um estudo contínuo sobre as ameaças que o país enfrenta. Ele sublinhou que, além das questões militares, a luta pelo desenvolvimento deve ser contínua e abrangente, sem deixar que divisões geográficas, étnicas ou de género impeçam o progresso de Moçambique.

Uma das principais mensagens de Guebuza foi a importância da unidade nacional. “A unidade nacional não se fala apenas, pratica- -se”, disse o ex-estadista, enfatizando que só com coesão o País poderá enfrentar os desafios internos e externos. Para Guebuza, a unidade é um valor central que fortalece a nação, pelo que Moçambique deve continuar a reforçá-la, aprendendo com as diferenças culturais e valorizando a diversidade que faz parte da identidade moçambicana.

Mais adiante, alertou contra a tendência de lamentação face aos desafios do presente, incentivando os jovens a agirem. “Deixemos de lamentar e passemos a agir”, apelou, explicando que cada geração tem os seus próprios desafios e que a geração actual não deve culpar as anteriores pelas dificuldades que enfrenta. “Devemos ser uma geração que busca inspiração para agir, e não para lamentar”, afirmou, incentivando os jovens a enfrentarem os problemas com determinação e confiança.

O ex-Presidente também mencionou o que considera ter sido um dos grandes aprendizados da história de Moçambique: a necessidade de mobilizar a vontade colectiva e de lutar pela justiça social e económica. Para ele, a unidade nacional deve continuar a ser praticada diariamente, pois ela é “a argamassa que mantém o país unido”.

Guebuza defendeu que Moçambique deve valorizar as suas próprias tradições e cultura, recusando a ideia de se transformar em algo que não é. “Não somos ocidentais, somos moçambicanos na nossa diversidade e riqueza”, disse, criticando a ideia de que a modernidade ou o progresso implicam a adopção de modelos estrangeiros. “Nós queremos continuar a ser nós mesmos”, afirmou, lembrando que, no período colonial, ser “gente” significava deixar de lado a própria identidade.

Questionado sobre o programa de Governo que implementou enquanto Presidente, Guebuza foi claro ao afirmar que considera o seu programa “excelente”. Embora tenha evitado comparações com o actual Governo, sublinhou que o programa que liderou foi bem-sucedido e de grande importância para o País.

Esta intervenção de Guebuza ocorreu durante uma palestra na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Maputo, por ocasião das celebrações do 25 de Setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), que assinala o início da Luta Armada de Libertação Nacional em 1964. O evento reuniu académicos, estudantes e o antigo Chefe de Estado, que discutiram os progressos e desafios do Moçambique contemporâneo.

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