A situação económica na província de Inhambane está a deteriorar-se rapidamente, e o aumento galopante dos preços dos produtos alimentares, especialmente os de primeira necessidade, ameaça agravar a já delicada situação das famílias de baixa renda. A poucos meses das festividades do Natal e do fim de ano, os preços de alimentos essenciais começaram a aumentar de forma alarmante, colocando em risco a dieta de muitas famílias.
Texto: Anastácio Chirrute
A inflação já se faz sentir de forma severa: uma caixa de tomate, que anteriormente custava 650 meticais, agora é vendida por 950 meticais, enquanto uma lata de amendoim subiu de 1300 para 1700 meticais, um aumento de 400 meticais. A batata reno, que custava 450 meticais, agora está a ser vendida por 550 meticais, um aumento de 100 meticais.
Em visita aos mercados da cidade da Maxixe, a equipa de reportagem do Dossier Económico constatou que os preços de praticamente todos os produtos alimentares começaram a subir drasticamente, num cenário que se agrava ainda mais face ao baixo poder de compra da população. Os vendedores justificam os aumentos com a escassez dos produtos nas regiões de origem, o que faz com que os fornecedores cobrem preços mais elevados ao chegarem à província de Inhambane.
Amélia Herculano, vendedora de amendoim no mercado Tsuvula, admite que a situação é preocupante, mas afirma que os lucros são insignificantes. “Compramos uma lata a 1450 meticais e, após pagar transporte desde a província de Tete, o nosso lucro é de apenas 50 ou 100 meticais. Sem contar com as taxas que pagamos ao município,” lamenta. Amélia alerta ainda que, se a seca persistir e as chuvas não chegarem, os preços podem subir ainda mais nos próximos dias, colocando a população em situação crítica.
Contrariando esta tendência, o açúcar e a cebola registaram uma descida significativa: 20 kg de açúcar baixou de 1650 para 1600 meticais, enquanto o preço da cebola caiu de 550 para 350 meticais, uma redução de 200 meticais.
Mesmo assim, os consumidores não têm grande motivo para alívio, visto que outros produtos essenciais tornaram-se mais caros. O feijão, por exemplo, sofreu um aumento drástico, subindo de 1350 para 1750 meticais, enquanto o caldo da cozinha aumentou de 165 para 200 meticais.
Os vendedores, por sua vez, estão a lutar para manter seus negócios a flutuar. Zainda Rungo, vendedora no mercado Tsuvula, explica que, apesar de Inhambane destacar-se na produção de batata reno, o preço elevado é reflexo do custo de aquisição em Maputo. “Compramos a batata a 400 meticais em Maputo e, contando com o transporte, vendemos aqui a 550 meticais,” explica Zainda, ressaltando que, mesmo com esses preços, ainda há quem peça descontos, colocando os vendedores numa situação delicada.
A província de Inhambane enfrenta, assim, uma realidade cada vez mais sombria, onde a combinação de escassez de produtos e aumento de preços pode conduzir a uma crise alimentar severa nos próximos meses, afectando principalmente as famílias mais vulneráveis.
Fim de quatro meses de deflação
A recente subida dos preços nos mercados da província de Inhambane, particularmente nos produtos alimentares de primeira necessidade, confirma as tendências já apontadas pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Segundo os dados do INE, Moçambique registou um aumento de preços de 0,16% no mês passado, após quatro meses consecutivos de deflação. A divisão de alimentação e bebidas não alcoólicas foi a principal responsável por este aumento, contribuindo com cerca de 0,09 pontos percentuais para a variação mensal.
A situação em Inhambane, onde produtos como tomate, amendoim e batata Reno registaram subidas significativas, reforça a análise do INE. A inflação homóloga, que compara os preços de Setembro deste ano com o mesmo período de 2023, atingiu 2,45%, mostrando que os custos dos alimentos continuam a pressionar a economia familiar, especialmente nas zonas urbanas e rurais.
A subida de 5,29% nos preços dos produtos alimentares destacada no relatório do IPC coincide com o aumento de 400 meticais no preço do amendoim e de 300 meticais no tomate em Inhambane, o que agrava o já frágil poder de compra dos moçambicanos. Este cenário sugere que o impacto inflacionário se faz sentir de forma alarmante no bolso das famílias, confirmando as tendências de aumento de preços referidas pelo INE.