Foto: O País
A aparente nova estratégia de actuação da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) foi determinante para o consenso em Chonguene (Gaza) permitindo a reabertura do troço da Estrada Nacional Número 1 (EN1) na região de Ngowanine, após longas horas de bloqueio imposto pela população, numa acção que visava pressionar o Fundo de Fomento à Habitação (FFH) a cumprir as promessas de garantir a provisão de serviços sociais básicos à comunidade reassentada para dar lugar a um projecto habitacional.
Durante o bloqueio, que durou mais de três horas, os manifestantes ameaçaram incendiar viaturas quando a unidade da UIR se aproximou do epicentro da barricada. No entanto, num movimento inesperado, o veículo Mahindra da polícia fez uma manobra e retomou a marcha no sentido sul, em direcção à cidade de Xai-Xai, de onde havia partido.
A mudança de estratégia ocorreu em coordenação com agentes à paisana que se mantinham junto aos autocarros de passageiros presos no engarrafamento, que, só no sentido norte-sul, se estendia por cerca de 10 quilómetros.
De forma discreta e profissional, um jovem agente, aparentando entre 25 e 27 anos e de porte atlético, dirigiu-se a um dos motoristas de transporte de passageiros, garantindo-lhe que fariam tudo para evitar que mais um autocarro fosse queimado. Vale recordar que, na primeira semana deste mês, dois autocarros da mesma companhia foram incendiados por manifestantes no distrito da Manhiça, na província de Maputo.
A ordem dada à UIR para recuar e acompanhar a evolução da situação a um quilómetro do local do bloqueio contribuiu positivamente para acalmar os ânimos. A decisão evitou confrontos directos, disparos, destruição de viaturas e, sobretudo, derramamento de sangue.
Quando o acordo foi alcançado e a estrada desbloqueada, os próprios manifestantes aplaudiram em sinal de satisfação. Do outro lado, minutos depois, foi a vez dos passageiros dirigirem aplausos à polícia à medida que os autocarros passavam pelo local onde a UIR estava estacionada. O som das palmas, acompanhado de cânticos tradicionais (minkuluguana), expressava alívio e reconhecimento pelo facto de os “homens do gás lacrimogéneo” terem optado por não recorrer à violência, apesar do reduzido número dos manifestantes.
Uma das passageiras, emocionada, exclamou em voz alta: “Meu Deus, a UIR mudou e está melhor!” Para depois relatar o horror que viveu há semanas, num outro protesto em que houve confrontos entre manifestantes e a polícia.
Vale lembrar que uma das críticas recorrentes no período pós-eleitoral em Moçambique tem sido a actuação da Polícia da República de Moçambique (PRM), frequentemente acusada de agravar a instabilidade ao ser a primeira a recorrer à força excessiva. Contudo, esse cenário não se verificou na barricada desta quinta-feira em Chonguene.