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INHASSORO: Trabalhadores da Sasol acusados de envolvimento com menores

Inhassoro é um dos distritos da província de Inhambane onde a Sasol explora gás natural há mais de 20 anos. No entanto, e contrariando as expectativas iniciais, tais recursos não têm gerado benefícios claros para a população local, facto confirmado pela penosa situação em que a mesma vive. Como se isso não bastasse, os colaboradores da multinacional sul-africana são agora acusados de se envolverem sexualmente com menores de idade, o que em muitos casos resulta em gravidezes precoces e abandono escolar.

Texto: Anastácio Chirrute

Em termos mais concretos, estes casos ocorrem nas localidades de Maimelane e Vulajane. Nestes dois pontos do distrito de Inhassoro, multiplicam-se casos de raparigas que desistem da escola por conta de gravidezes precoces resultantes de relações sexuais com homens adultos, alguns dos quais colaboradores da Sasol.

Segundo relatos colhidos de fontes locais, com destaque para os progenitores das vítimas, nos tempos livres, os trabalhadores daquela empresa aliciam as vítimas, cujas idades variam de 13 a 17 anos, que, por sua vez, e devido à sua condição de pobreza, facilmente cedem na expectativa de ganhar alguns trocados.

No entanto, e porque muitas vezes os métodos anticoncepcionais são dispensados, os alegados “benefícios financeiros” são acompanhados de gravidezes precoces e indesejadas.

Engravidam e não assumem

António Matsimbe, residente em Vulajane, tem o coração partido depois de ver a sua filha de 15 anos apartar-se dos estudos devido à gravidez derivada de uma relação com um indivíduo identificado como funcionário da Sasol. Conta ele que, depois da gravidez, a filha viu-se abandonada pelo suposto namorado, estando agora a cuidar do bebé sozinha.

“Comecei a desconfiar que minha filha estava grávida no sexto mês, quando começou a dormir muito e sempre usava camisola. Conversei com minha filha para saber quem era o pai, ao que respondia que não sabia onde vive, mas trabalha naquela empresa [Sasol]”.

O mesmo terá sucedido com Marta Sabonete, nome fictício, que aos 16 anos de idade já carrega nas costas um bebé que é fruto de uma relação não consentida, o que a obrigou a deixar a escola, no ano passado, ao sétimo nível. Segundo conta, o pai da criança tem entre 40 a 50 anos de idade.

Marta, à semelhança de tantas outras raparigas, foi vítima da miséria e falta de perspectiva. “Às vezes, eu ia à escola sem almoçar e tinha que ir a pé. Os meus pais não trabalham, dependem de pequenos biscates para conseguir dinheiro e poder comprar algo para nós comermos em casa, o que tem sido difícil. Então, um dia, indo à escola, encontrei- -me com um senhor que disse que gostou de mim e queria namorar comigo. Disse que, se eu aceitasse, teria dinheiro, novo material escolar”, conta. “Não pensei duas vezes, acabei a aceitando”, confessa a pequena mãe, que ficaria grávida no mesmo dia.

Actualmente com 17 anos, Ângela Fenias caiu na mesma ratoeira. A única diferença é que sua relação foi mais duradoura, tendo estremecido apenas quando descoberta pelos pais. Mesmo assim, prosseguiu até tornar-se mãe prematuramente.

“Quando procurei pelo meu namorado e lhe contei sobre a gravidez, negou. Disse que não era ele o pai e que não queria mais saber de mim porque nós só estávamos a brincar. Bloqueou meu número e até hoje não consigo falar com ele”, disse a menina, que apenas sabe que o indivíduo é proveniente de Maputo e trabalha numa empresa que explora gás.

As estruturas locais, que confirmaram o facto ao Dossiers & Factos, estão preocupadas com este cenário por considerar que é muito frequente naquele distrito. Só no primeiro trimestre deste ano, foram resgatadas e reintegradas nas escolas nove crianças que haviam interrompido seus estudos por conta da gravidez.

Contactada pelo jornal, a multinacional não se pronunciou sobre as acusações que pesam sobre parte dos seus colaboradores.

 

Texto extraído na edição 575 do Jornal Dossiers & Factos

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