– Alerta Michael Sambo, economista
O país atravessa uma situação atípica de falta de divisas internacionais, reconhecida tanto pelos agentes económicos como pelos bancos comerciais. Enquanto isso, o Banco de Moçambique (BdM), ignorando o problema, parece adoptar uma postura passiva, sem tomar acções visíveis para mitigar a situação. Para entender melhor as causas desta crise, Dossier Económico conversou com o economista moçambicano Michael Sambo, que identificou diversos factores que contribuem para a escassez de divisas, incluindo a redução do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) e a fuga de capitais, acentuadas pela instabilidade económica e política que o País enfrenta.
Texto: Milton Zunguze
Durante a entrevista, Michael Sambo explicou que a falta de IDE nos últimos anos tem sido um dos factores principais por trás da crise de divisas, com uma diminuição significativa na entrada de capitais em 2022 e 2023. Segundo ele, a instabilidade política e económica desincentiva o investimento estrangeiro, pois cria um ambiente de incerteza que leva os investidores a retirar seus capitais. “Quando há instabilidade, há uma tendência de fuga de capitais”, afirmou o economista, salientando que este movimento retira divisas da economia, agravando a situação.
Outro factor mencionado por Sambo é o défice na balança comercial. Moçambique importa muito mais do que exporta, o que provoca uma saída de divisas que não é compensada pela entrada de receitas provenientes das exportações. Esta diferença crescente entre o que entra e o que sai de divisas resulta, inevitavelmente, na diminuição das reservas internacionais do País. Além disso, o controlo cambial e as políticas que limitam a compra e venda de moeda estrangeira também têm um papel importante na actual crise, pois restringem a circulação de divisas dentro da economia.
Um ponto adicional levantado por Sambo foi o aumento da taxa de reservas obrigatórias, implementada pelo Banco de Moçambique, como uma forma de prolongar o período durante o qual o Banco Central pode continuar a assegurar as importações. No entanto, o economista alerta que esta medida pode ter consequências negativas no curto prazo, como o aumento dos custos das importações e a diminuição da liquidez disponível nos bancos comerciais, o que está a acontecer actualmente. Segundo a fonte, “é uma forma do BdM acumular divisas, mas à custa dos bancos comerciais, que ficam com menos capacidade de transaccionar”.
Neste momento, o coeficiente de reservas obrigatórias está fixada em quase 40%, ou seja, explica Sambo, quando um depósito de 100 dólares é feito num banco comercial, 40 dólares são retidos pelo BdM, deixando apenas 60 dólares disponíveis para transacções. Isso reduz a quantidade de moeda estrangeira disponível para as operações comerciais, agravando a falta de divisas.
Soluções duradouras
Para superar esta situação, o economista sugere que o País deve investir mais na produção, melhorando a balança comercial através de incentivos ao sector produtivo. Reconhecendo os esforços do Banco Central para reduzir as taxas de juro com o objectivo de impulsionar a economia, Sambo critica o facto de os bancos comerciais não terem seguido essa tendência mantendo taxas de juro altas, o que limita os efeitos positivos para os consumidores e investidores.
“É necessário encontrar mecanismos que permitam que as taxas de juro baixem também para os consumidores finais, pois, se o Banco Central baixa as taxas, mas os bancos comerciais não acompanham, o benefício fica apenas com os bancos e não com a economia”, sublinhou.
Outro aspecto importante destacado por Sambo é a necessidade de implementar políticas de controlo cambial que permitam maior flexibilidade, de modo a aliviar a pressão sobre as reservas de divisas. Ele sugere um grau de flutuação cambial que poderia facilitar a gestão das reservas pelo BdM, evitando que a escassez de divisas nos bancos comerciais se alastre ao banco central.
Além das reformas económicas, o economista enfatiza a importância de assegurar a estabilidade política e económica, factores fundamentais para atrair e manter o investimento estrangeiro. Segundo ele, a economia moçambicana tem sido incapaz de reter divisas e lucros, especialmente devido à expatriação quase total dos lucros das multinacionais que operam no país. Esta prática, combinada com o pagamento de baixos impostos por parte destas empresas, reduz significativamente o benefício para a economia nacional.
“Ao permitir que as multinacionais expatriem a maior parte dos seus lucros e paguem menos impostos, o ganho para o país é menor, afectando negativamente a economia”, alertou Sambo, concluindo que é urgente rever estas políticas para assegurar que Moçambique possa tirar maior proveito das suas riquezas naturais e investimentos estrangeiros.