A Abertura das comportas no Zimbabwe e as chuvas torrenciais provocaram inundações que, por sua vez, interromperam a transitabilidade em pelo menos cinco troços e devastaram quase 23 mil hectares de áreas de produção, empurrando inúmeras famílias da província de Gaza para uma situação de fome. Desesperados, os afectados clamam por apoio.
Texto: Maidone Capamba, em Gaza
Joana Sebastião, residente na comunidade de Penicelene, distrito de Limpopo, na província de Gaza, é uma das vítimas da desgraça que se abateu sobre Gaza, tendo assistido vários dos hectares de milho a serem arrastados pela fúria das águas. Quando a interpelamos, não quis prolongar a conversa com a nossa equipa de reportagem, porque estava apressada. Apenas deu conta de que estava a atravessar o rio Limpopo para uma zona denominada Bilene, em busca de leite de vaca usado para o fabrico de iogurte caseiro, que posteriormente é vendido ao longo da Estrada Nacional Número Um (EN1), perto da ponte atravessada pelas águas do Limpopo.
Esta é uma das fontes de renda de sua família, que se torna ainda mais importante numa altura em que a principal actividade – a agricultura – enfrenta obstáculos impostos pela natureza.
Mais tempo e atenção concedeu-nos João Artur, tendo começado por sublinhar o óbvio. “Estamos muito mal”, reconheceu, estimando em cinco mil hectares a extensão de culturas diversas perdidas em Chimangue, onde é representante de 137 produtores.
“É necessário que a gente tenha sementes para seguir o curso das águas e poder sobreviver”, disse, num claro pedido de ajuda.
INGD apoia com “o que tem”
Enquanto isso, o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) afirma que a instituição distribuiu quantidades não especificadas de produtos de género alimentício, nomeadamente arroz, óleo e sal, a 494 famílias, afirmando que “é o que tem”.
Através do chefe do Departamento de Gestão e Redução de Risco de Desastres na província de Gaza, Marcelino Guirita, o INGD assegurou que “temos semente sendo alocada em Mabalane, Guijá e Chibuto”, aproveitando o ensejo para pedir aos parceiros para que reforcem este tipo de apoio, visto que as sementes constituem uma das grandes necessidades. Quem já está mobilizado, mesmo que não seja em resposta ao apelo do INGD, é a Direcção Provincial da Agricultura e Pesca, que prometeu alocar sementes aos distritos inundados e não só, com vista a “potenciar a produção agrícola na segunda época”, explicou a directora do pelouro, Ercília Cau, que fez saber que as inundações devastaram quase 23 mil hectares de culturas diversas dos cerca de 242 mil hectares semeados.
Refira-se que o INGD, na província de Gaza, tem 15 embarcações para responder a possíveis cenários de desastres, das quais cinco estão a operar nos distritos de Chicualacuala, Mapai, Mabalane e Guijá.
Rede viária fortemente castigada
As inundações provocadas pelas chuvas e pelo transbordo do rio Limpopo, na sequência de abertura de comportas no Zimbabwe, também provocaram danos consideráveis na rede viária.
De acordo com Nelson Horácio, da Administração Nacional de Estradas (ANE) em Gaza, cinco troços se encontram intransitáveis, dentre os quais Mapai, entre o km 90 a km 91; Chicualacuala – Pafuri, no km 35 e no km 55, devido à subida do caudal dos rios Mwendezi e Limpopo, respectivamente; Mohambe – Maqueze, entre o km 5+900 e 8+800; CI2.N221-Chiwonguene- -CP2.N221; Chinhacanine – Nalazi, com cortes múltiplos entre o km 34+000 e 35+000; Ndonga – Dindiza; e Alto Changane – Maqueze.
A ANE espera pela redução das águas para avaliar o nível dos danos por degradação dos troços, mas, para já, estima que serão necessários 300 milhões de meticais para reparações.
Neste momento, a entidade desaconselha a circulação de pessoas nessas vias de risco, visto que o caudal continua elevado.