Há 10 anos, a revista americana Forbes declarou Isabel dos Santos como a mulher mais rica de África, com um património avaliado em US$ 3,5 bilhões de dólares. Volvidos todos estes anos, a “princesa de África” continua, decerto, rica, mas já longe do estatuto de outrora, do qual começou a distanciar-se após a saída do pai do poder. Atolada de processos em vários países, Dos Santos vê seu património amputado a cada derrota judicial, ao mesmo tempo em que, sem pai nem marido, acha-se cada vez mais isolada e menos protegida.
Texto: Dossier Económico
A primogénita do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, sempre transmitiu a imagem de uma mulher bilionária que cresceu e fortificou-se por meios próprios em um país pobre. Fora isso, Isabel dos Santos exerceu, durante um ano, o cargo de Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Sonangol, uma empresa petrolífera pertencente ao estado angolano, fundada pelo seu pai e responsável pelo desenvolvimento de Angola após a dominação colonial portuguesa.
No intervalo dos seus 30 a 40 anos, Isabel dos Santos já era detentora de uma fortuna em contínuo crescimento, incluindo imóveis luxuosos em Londres e Lisboa, participações em bancos e empresas de comunicação portuguesas. No seu total de empresas e acções, também faziam parte os 25% da Unitel, uma empresa de telefonia móvel lançada depois de seu pai ter lhe dado a primeira licença de operação do país, e a Cimangola, a maior produtora de Cimentos de Angola.
Estas e mais conquistas gloriosas fizeram com que Isabel dos Santos fosse considerada, na altura, como uma das principais fontes económicas de Angola. Suas empresas registavam um forte e rápido crescimento e empregavam milhares de pessoas.
O declínio
O império da princesa angolana começou a desmoronar logo após a reforma do seu pai do cargo de presidente de Angola, e com a ascensão do seu sucessor, João Lourenço, em Setembro de 2017.
Uma das principais promessas de João Lourenço, na sua ascensão à presidência de Angola, foi a de combater fortemente a corrupção, promessa que não tardou e foi cumprida. Lourenço demitiu Isabel dos Santos a 15 de Novembro de 2017 do cargo de chefia da Sonangol.
Três meses depois da demissão de Isabel dos Santos na Sonangol, seu sucessor, Carlos Saturnino, convocou uma conferência de imprensa na qual afirmou que a sua antecessora tinha recebido mais de US$ 135 milhões em taxas de consultoria e que a maioria desses pagamentos foram enviados a uma empresa de consultoria de Dubai conectada à família Santos.
Passados dois anos, no dia 30 de Dezembro de 2019, o Tribunal Provincial de Luanda ordenou o congelamento preventivo das contas bancárias de Isabel dos Santos e do seu marido, Sindika Dokolo, no âmbito da preparação de um processo judicial e confiscação dos bens da Isabel em Portugal.
Dos Santos viu sua situação ainda mais crítica no dia 19 de Janeiro de 2020, com a publicação em vários jornais internacionais de uma investigação jornalística denominada Luanda Leaks e baseada em 715 mil documentos comerciais e entrevistas que mostravam que a fortuna bilionária e mais de 400 empresas da princesa angolana tinham sido construídas graças aos privilégios e a posição política de seu pai, para além de acordos corruptos.
Já em 2021, Isabel dos Santos viu seu nome fora do ranking da Forbes, que a colocava como a mulher mais rica de África. A revista afirmou que a exclusão da filha do ex-presidente de Angola da lista de bilionários de África não fazia dela uma pessoa pobre, porém, a ausência de seu pai no poder justifica as acusações que pesam sobre si, e seu enriquecimento bilionário em pouco tempo.
Em Novembro do ano subsequente, 2022, a Interpol emitiu um mandato de busca e captura internacional para a extradição de Isabel dos Santos, em resposta ao pedido da Procuradoria Geral da República angolana. Para além da prática dos crimes de peculato, fraude qualificada, lavagem de dinheiro e participação ilegal em negócios, o documento sublinhou que Isabel tinha prejudicado o Estado angolano em mais de 200 milhões de Euros.
Já no fim do primeiro semestre deste ano, a princesa e alguns de seus colaboradores mais próximos foram condenados por desvio de 53 milhões de euros da Sonangol e falsificação de documentos.
Segundo o Tribunal Holandês de Recurso de Amsterdão, no dia em que Isabel foi demitida do seu cargo na Sonangol, ordenou a transferência para uma de suas sociedades, parte dos dividendos da Esperaza, veículo da Sonangol, detentor de uma grande participação na Galp.
Já esta semana, Dos Santos viu um tribunal britânico determinar-lhe o congelamento de cerca de 700 milhões de dólares de bens.
Em causa, escreve a VOA, está um processo iniciado pela companhia angolana Unitel, de que Santos foi fundadora e accionista, que alega que a empresária deve à companhia milhões de dólares de empréstimos feitos à holandesa Unitel International Holdings (UIH), controlada por ela, para a aquisição de acções em companhias de telecomunicações.
Os empréstimos foram feitos em 2012 e 2013, quando Isabel dos Santos era directora da Unitel.
De lembrar que Isabel dos Santos, reside atualmente em Dubai, segundo a mesma, não pelos seus problemas financeiros, mas sim pela perseguição política que a sua família tem sofrido.