Dois jornalistas da Rádio e Televisão Encontro, César Rafael e Valdemiro Amisse, foram atacados com paus, na quarta-feira, 13 de Novembro, enquanto realizavam uma cobertura jornalística na cidade de Nampula, no Norte de Moçambique. O incidente ocorreu no âmbito das manifestações pós-eleitorais em curso na região.
O MISA Moçambique reata que os repórteres deslocaram-se ao bairro de Namicopo para reportar um caso de alegados assassinatos cometidos pela Polícia da República de Moçambique (PRM) contra cidadãos que, segundo informações locais, não estavam envolvidos nas manifestações, mas foram mortos em residências. No regresso à redacção, os jornalistas encontraram uma multidão a espancar um jovem civil, suspeito de ser um agente da polícia. O jovem conseguiu escapar, e os repórteres decidiram registar imagens das algemas e entrevistar os presentes.
Pouco depois, dois indivíduos à paisana surgiram no local e exigiram que os jornalistas apagassem as imagens captadas. Os repórteres recusaram, e, nesse momento, uma viatura da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) chegou ao local. Os agentes dispararam tiros para o ar, provocando pânico entre os residentes e dispersando a população, incluindo os jornalistas.
Durante a fuga, Valdemiro Amisse removeu o cartão de memória da câmara e escondeu-o no bolso. Após o tumulto, os repórteres voltaram a ser abordados pelos mesmos indivíduos, que insistiam na eliminação das imagens. Ao recusarem novamente, os jornalistas foram agredidos com paus, numa tentativa de danificar a câmara. A situação só se acalmou quando os repórteres, com ajuda da população, convenceram os agressores de que as imagens já haviam sido apagadas. Em seguida, foram autorizados a regressar à redacção.
O MISA Moçambique condenou, em termos firmes, as ameaças e agressões contra os jornalistas César Rafael e Valdemiro Amisse. A organização qualificou o acto como um ataque à liberdade de imprensa, um direito fundamental numa democracia. “É inaceitável que profissionais de imprensa, ao exercerem o seu direito de informar, sejam alvos de intimidação e violência”, afirmou em comunicado.
O MISA destacou ainda que as acções da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ao disparar para o ar numa situação já tensa, contribuíram para o clima de terror, em vez de protegerem os cidadãos e os jornalistas. A organização apelou às autoridades para que investiguem o incidente de forma séria e transparente, responsabilizando os envolvidos.
“Reafirmamos o nosso compromisso com a defesa dos direitos humanos, da liberdade de expressão e do jornalismo livre e independente. Exigimos protecção imediata para jornalistas no exercício das suas funções e o respeito pela liberdade de imprensa em Moçambique”, conclui o comunicado.