Durante a Cimeira do Financiamento em Comum 2025, líderes africanos e instituições financeiras de desenvolvimento destacaram a necessidade de uma transição energética que vá além da protecção ambiental, promovendo um ecossistema socioeconómico inclusivo no continente. A directora geral para a África Austral do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Leila Mokaddem, afirmou que o BAD, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), está a desenvolver um sistema de marcadores de emprego para garantir que os investimentos climáticos geram oportunidades de emprego para os jovens. A meta é criar 25 milhões de empregos e capacitar 50 milhões de jovens com competências para a economia verde até 2025.
Texto: Milton Zunguze
Mokaddem, que falou durante uma sessão na Cidade do Cabo, África do Sul, sublinhou que a transição energética em África deve ser justa, inclusiva e pragmática. “Com 600 milhões de africanos ainda sem acesso à electricidade, a transição não pode focar-se apenas em metas climáticas. Tem de gerar empregos, industrialização e oportunidades económicas. Caso contrário, poderá aumentar as desigualdades”, alertou.
A directora destacou o caso da África do Sul, país dependente do carvão, como exemplo da necessidade de um planeamento cuidadoso. “Se não gerirmos bem esta transição, arriscamos instabilidade económica, perda de empregos e aumento da pobreza”, afirmou. Para apoiar uma transição justa, o BAD comprometeu-se a disponibilizar 2,5 mil milhões de Unidades de Conta (UA) para investir em energias renováveis, reconversão de trabalhadores e reformas na governação energética.
Financiamento climático: um desafio urgente
A vice-presidente do BAD, Nnenna Nwabufo, enfatizou a urgência de aumentar o financiamento climático para apoiar o desenvolvimento sustentável de África. “África enfrenta uma crise climática que afecta economias e vidas. Precisamos de 2,7 biliões de dólares até 2030 para cumprir os nossos objectivos climáticos, mas apenas 23% deste valor está disponível”, explicou.
Para colmatar esta lacuna, o BAD lançou a Janela de Acção Climática, que visa angariar 14 mil milhões de dólares para facilitar o acesso das nações africanas de baixo rendimento ao financiamento climático. “África não quer ajuda, quer parcerias. Precisamos de investimentos que promovam resiliência, auto-suficiência e crescimento sustentável”, afirmou Nwabufo.
Ambas as líderes concordaram que uma transição justa exige acções ousadas, cooperação global e investimentos significativos. “África tem a oportunidade de construir um futuro resiliente e sustentável, mas não podemos fazê- -lo sozinhos. Precisamos do apoio de instituições financeiras, governos e do sector privado”, concluiu Nwabufo.
A transição energética em África não é apenas uma questão ambiental, mas também social e económica, exigindo um equilíbrio entre desenvolvimento, emprego e sustentabilidade.