A cidade da Maxixe, na província de Inhambane, parou na última segunda-feira para celebrar os seus 52 anos de elevação à categoria de cidade. Contudo, a festa acontece em meio a inúmeros desafios que afectam o quotidiano dos munícipes, entre os quais se destacam a degradação das vias de acesso, erosão causada pelas chuvas, construção desordenada de habitações e o fraco saneamento do meio.
Texto: Anastácio Chirrute
Embora reconheça esses problemas, a edilidade, liderada por Issufo Francisco, parece minimizar a gravidade da situação, afirmando que a cidade tem registado um crescimento significativo. Mas, para muitos residentes, essas declarações soam como uma tentativa de “tapar o sol com a peneira”, uma vez que consideram que pouco ou nada está a ser feito para melhorar a qualidade de vida da população.
“Nada mudou, só se gasta com festas”
Vários munícipes manifestaram descontentamento com a gestão do actual edil, comparando-o ao seu antecessor, Fernando Bambo, e argumentando que a mudança de liderança não trouxe melhorias significativas para o município.
“Ter tirado Fernando Bambo do poder e colocar Issufo Francisco não mudou absolutamente nada. Desde que tomou posse, só fica trancado no gabinete ou vai a Portugal assistir jogos do Benfica, gastando dinheiro público,” reclamou um morador.
Essas críticas intensificaram-se com os gastos na celebração do 52.º aniversário da cidade, vistos como desnecessários diante dos problemas que se acumulam e degradam a imagem de Maxixe. Uma cidade outrora reconhecida pela limpeza e organização é hoje um reflexo de abandono e gestão precária, conforme apontam os munícipes.
Estradas degradadas e desafios diários
A situação das vias de acesso é uma das principais reclamações. A circulação de viaturas tornou-se um desafio devido aos inúmeros buracos que danificam veículos, especialmente os de baixa suspensão, e dificultam o trânsito, particularmente na época chuvosa.
Fernando Niquice, condutor, partilhou o drama que enfrenta diariamente. “As nossas estradas estão péssimas, nem parece que temos governantes. Nós tínhamos esperança neste edil por ser jovem, mas ele não está a mostrar trabalho nenhum. Para conduzir aqui, é preciso memorizar cada buraco e tentar evitá-lo, porque senão a viatura fica danificada,” desabafou.
Niquice e outros residentes questionam os gastos da celebração enquanto problemas básicos, como a reabilitação das vias, permanecem sem solução. “O dinheiro das festas podia ser usado para tapar os buracos nas estradas mais críticas,” sugeriu.
Construções desordenadas e inundações
Outro problema que aflige os moradores é o crescimento desordenado de construções, inclusive em áreas de risco. A falta de planeamento e a ocupação irregular de terrenos têm agravado as consequências das chuvas, com águas pluviais a invadir residências, abrir crateras nas ruas e aumentar o risco de deslizamentos.
No bairro Rumbana 5, por exemplo, a situação é ainda mais precária. Os moradores vivem sem energia eléctrica há anos e dependem de velas e candeeiros para iluminar as suas casas. Durante a campanha eleitoral, Issufo Francisco prometeu resolver esses problemas, mas desde que assumiu o cargo não voltou ao bairro, deixando os residentes sem respostas.
Receitas recordes, mas sem benefícios visíveis
Apesar dos problemas, o edil afirmou, em entrevista ao Dossier Económico, que o município arrecadou mais de 50 milhões de meticais em receitas, superando a meta prevista de 40 milhões. Esse desempenho financeiro poderia significar um passo importante para elevar Maxixe da categoria “D” para “C”.
Entretanto, os moradores questionam a aplicação desses recursos, pois as melhorias na cidade são praticamente inexistentes. Para piorar, os funcionários do Conselho Municipal queixam-se de atrasos salariais.
“Até hoje, dia de festa, não nos pagaram. Temos salários atrasados, mesmo com tanto dinheiro arrecadado. Como festejar sem dinheiro?”, lamentou um funcionário municipal, acrescentando que essa situação causa indignação entre os trabalhadores.
Futebol improvisado em campos precários
Entre as poucas realizações da atual gestão, Issufo Francisco destacou a entrega de dois campos de futebol nos bairros Macupula e Mangapane. No entanto, os espaços são provisórios, sem cobertura ou bancadas, e apresentam problemas de segurança, como a presença de ruas que atravessam os campos, obrigando jogadores a dividir espaço com viaturas.
Uma cidade em festa, mas sem motivos para celebrar
Para muitos munícipes, os 52 anos de elevação à categoria de cidade não trouxeram razões para comemorar. Os desafios acumulam-se, a gestão é alvo de críticas, e a confiança na liderança municipal continua a diminuir.
Enquanto o futuro de Maxixe permanece incerto, uma coisa é certa: a paciência dos munícipes está a esgotar-se. “Celebrar o quê? Uma cidade cheia de buracos, lixo e promessas não cumpridas?”, conclui um residente, resumindo o sentimento de muitos.
Texto extraído na edição 589 do Jornal Dossiers & Factos