Em resposta à greve geral convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, o Governo moçambicano e a Confederação das Associações Económicas (CTA) tentaram, sem sucesso, evitar a paralisação da actividade económica no País. Numa reunião de emergência na quarta-feira, 30 de Outubro, autoridades e representantes do sector privado apelaram à continuidade do trabalho nas empresas e comércio, argumentando que a paralisação pode trazer graves prejuízos ao tecido económico e impactar a população no acesso a bens e serviços essenciais.
Texto: Amad Canda
Contudo, no primeiro dia da terceira fase de manifestações, iniciada na quinta-feira, 31 de Outubro, os apelos não se traduziram em movimento nos principais centros urbanos. As cidades de Maputo e Matola, por exemplo, apresentaram ruas vazias e estabelecimentos comerciais fechados, revelando uma adesão em massa à greve e reflectindo o clima de apreensão entre a população.
Os bancos comerciais, incluindo o Banco Comercial de Investimentos (BCI), encerraram temporariamente as suas agências. Na quarta-feira, o BCI anunciou, em comunicado, que todas as suas filiais permaneceriam fechadas pelo menos durante dois dias, recomendando aos clientes o uso dos canais electrónicos. Da mesma forma, o Standard Bank e outras instituições financeiras aderiram à medida preventiva, suspendendo o atendimento físico e reforçando a segurança nas suas instalações, que permaneceram vazias no primeiro dia de paralisação.
A decisão de fechar as agências bancárias reflecte não apenas o receio de vandalismo e de saque, mas também a queda abrupta no movimento de clientes. Relatos de actos de violência isolada em alguns pontos de Maputo e outras cidades reforçaram o ambiente de insegurança, o que levou famílias e empresas a optarem por evitar as ruas e manter os seus negócios encerrados.
Ainda na quarta- -feira, houve um movimento intenso em mercados e centros comerciais, numa corrida por abastecimento que rapidamente esgotou as prateleiras de muitos estabelecimentos. Temendo a impossibilidade de sair às ruas durante a semana de paralisação, a população dirigiu-se em massa a supermercados e mercearias para garantir mantimentos básicos. Empregados de estabelecimentos comerciais relataram que as vendas dispararam com clientes adquirindo produtos em grandes quantidades, algo incomum, mesmo em períodos de grande afluência como antes de feriados.
Muitos afirmam que participar nos protestos representa uma acção necessária para transformar o cenário político e social do País. “Este é um momento em que devemos tomar uma posição firme. A economia já não serve o povo, e as nossas vidas estão mais difíceis. Queremos justiça, mas também uma mudança real,” afirmou um jovem manifestante numa publicação nas redes sociais, onde as manifestações têm grande adesão.
Entretanto, há entre os cidadãos que participam da greve uma preocupação sobre os impactos económicos a curto e longo prazo. Representantes da CTA expressaram preocupação quanto ao prejuízo acumulado no sector empresarial, incluindo nas pequenas e médias empresas que, sem clientes ou trabalhadores, também decidiram aderir à paralisação ou permaneceram fechadas por questões de segurança.
Para além dos prejuízos financeiros, há também implicações logísticas e de abastecimento. Em Maputo, muitos estabelecimentos relataram dificuldades em receber fornecimentos de produtos devido ao movimento reduzido e à suspensão de serviços de transporte. Algumas regiões registaram aumentos de preços em produtos básicos, reflexo da escassez de mantimentos nos locais de venda.
A terceira fase das manifestações, que será de sete dias, é a mais longa até ao momento e coloca o País numa situação de alerta. Embora autoridades governamentais e o sector privado insistam na importância de manter a actividade económica, a adesão à greve reflecte o apoio crescente à insatisfação social e o desejo de mudanças significativas.
Texto extraído na edição 139 do Jornal Dossier económico