Enquanto as facturas com valores “expressivos” não param de bater à porta do consumidor, a água fornecida pelas Águas da Região Centro, na cidade de Chimoio, virou “ouro” para os consumidores, que só se lembram dela quando é hora de pagar a dívida que aumenta mesmo sem a satisfação das suas necessidades.
Texto: António Cumbane, em Chimoio
Em média, a água fornecida pela operadora está disponível apenas dois ou três dias por semana, dependendo do bairro de cada cliente. Por exemplo, em Namonha e Nhaurir, a água pode faltar por mais de quatro dias seguidos, mas as facturas com valores exorbitantes não param de chegar.
“Eu tive que optar por abrir um poço e mandar cortar a água. Mensalmente, a minha factura rondava entre cinco a seis mil meticais. Não entendo como isso era possível se em casa a água era capaz de sair três vezes por mês”, comentou Margarida Araújo, nossa entrevistada no bairro de Nhaurir, no interior da cidade de Chimoio.
Na verdade, segundo as nossas fontes, no período do inverno, a situação tem sido bem mais complicada, visto que a água chega a estar disponível apenas duas vezes por mês. “Eu perguntei ao jovem entregador das facturas como era possível haver oscilações dos valores acima da média de consumo e sem água em casa. Ele me olhou e começou a rir, disse que os clientes às vezes deixam as torneiras semiabertas e o contador não poupa quando há uma oscilação”, contou Lucas Tomo, outro entrevistado.
A cidade de Chimoio é considerada pequena, mas a verdade é que possui 34 bairros, o que quer dizer que em termos de composição está acima, por exemplo, da cidade da Beira, que tem apenas 26 bairros.
Em cada um destes 34 bairros, há milhares de famílias desapontadas com a qualidade de serviço que tem sido prestada.
“No mês passado, a factura foi de 4.780 meticais e agora subiu para 5.590 meticais, e sem água de forma permanente em casa. É triste o que o ‘FIPAG’ está a fazer connosco”, lamentou um cliente no bairro de Nhamaonha.
“Na minha casa, a água saía duas vezes por semana. Isso quer dizer que num mês eram oito vezes. As facturas vinham sempre com um agravamento de 500 a 600 meticais. Agora decidi abrir um poço, estou na maior tranquilidade”, explicou Maria Meque, residente de Nhaurir.
Tecnicamente, é difícil avaliar o prejuízo causado pela entidade fornecedora dos serviços de água ao cliente, mas se calcula que sejam significativos. “Estamos a viver numa cidade, a água é imprescindível para nós. Desde a casa de banho até à cozinha, tudo é água. Quando nos dão duas vezes por semana num contrato que nada diz a esse respeito, é para falar o quê?”, questionou Omar Adamo, outro entrevistado no bairro 25 de Junho.
As lamentações vêm de todos os cantos da urbe, sobretudo nos bairros do interior, tais como Nhaurir, 7 de Setembro, Chissui, Nhamaonha e outros. “Outro aspecto que nos preocupa é que o ‘FIPAG’ não aceita nenhuma reclamação antes de pagar, ou seja, paga-se e depois reclama. Isto não pode ser assim, é preciso inculcar a cultura de diálogo neste sector”, sustentou Omar.
Empresa também soma prejuízos
Além das perdas significativas de água que a área operacional de Chimoio sofre devido à sua localização geográfica (planalto), a empresa que presta o serviço também tem perdas institucionais, tudo por conta de entidades que não honram seus compromissos.
“Há empresas públicas que nos devem muito dinheiro. Não posso citar os nomes sob pena de ofender pessoas. Estamos mal”, comentou, em conversa de café, um jovem ligado às Águas da Região Centro, o qual decidimos manter em anonimato.
Entretanto, a Direcção da Área de Distribuição de Chimoio não quis se pronunciar sobre o assunto, alegadamente por não ter autorização para falar à imprensa, uma situação lamentável. Ficamos a saber que o director é novo e tudo sobre a imprensa estava a ser coordenado a partir da Beira. É de lá que tivemos a informação de que só “Maputo” pode falar dos “pro- blemas” de Chimoio quanto ao assunto da água. Se sequer podem falar, o que fazem nesses gabinetes?