EnglishPortuguese

O cume da hipocrisia: Paladinos da moralidade dão costas aos direitos humanos

“Façam o que digo, mas não o que faço”. Esta é a divisa da hipocrisia que conduz as acções do ocidente. Conhecidos pelo policiamento de potenciais violações de direitos humanos em outras nações, os países ocidentais são protagonistas de episódios horripilantes no conforto das suas fronteiras, desde prisões flutuantes, lançamento de crianças ao rio à tortura policial. Do Reino Unido aos Estados Unidos da América (EUA), passando pela França, exemplos são abundantes.

Texto: Amad Canda

Racista, xenófobo e genocida. Esta é a salada de adjectivos que, seguramente, seriam colados a qualquer líder fora do ocidente que tivesse a brilhante ideia de entulhar emigrantes numa cadeia flutuante, no mar. Não é o que se ouve agora, porque, afinal, o plano foi idealizado e executado por quem se acha no direito de fazer as regras do jogo e desrespeitá-las segundo as suas conveniências, na circunstância o Reino Unido.

Ancorado no Porto da ilha de Portland, o transatlântico baptizado com o nome de Bibby Stockholm tinha tudo para ser símbolo da evolução da engenharia naval, mas o que traz são memórias dos navios negreiros dos abomináveis tempos da escravatura. Com capacidade para abrigar mais de 500 pessoas, a infra-estrutura surge no âmbito da nova lei de Imigração Ilegal proposta pelo primeiro-ministro Rishi Sunak que, ironicamente, é descendente de emigrantes indianos.

Uma “crueldade moral” – é assim que a lei é descrita por Justin Welby, arcebispo de Canterbury e chefe da Igreja Anglicana, notando que a mesma elimina a possibilidade de os emigrantes ilegais que cruzam as perigosas águas do Canal da Mancha – muitas vezes tentando escapar da morte devido à fome e guerras – iniciarem os procedimentos para obter o status legal de refugiados.

Apesar desta e outras críticas vindas de organizações humanitárias, Downing Street – residência e gabinete do primeiro-ministro – não pretende recuar. Nada surpreendente, a avaliar pelo histórico. Lembre-se que o governo britânico tem acordo com o Ruanda, visando o envio de emigrantes ilegais àquele País africano. Não parece ser o mesmo regime que oferece, mensalmente, 350 libras a cada família que acolher refugiados ucranianos. São “estatutos”.

 Bebés “ilegais” afogados nos EUA

Da América Central chega outro exemplo elucidativo do quão a vida pode ser valiosa ou descartável em função da sua origem. No Estado do Texas, nos EUA, bebés e crianças mexicanas que, na companhia de seus progenitores, tentam chegar à “terra da liberdade”, através do Rio Grande, são empurrados para a água, um acto atroz devidamente autorizado pelas entidades locais.

Para além disso, a imprensa internacional reproduz relatos de um agente da Migração que diz ter havido ordens no sentido de não dar água aos emigrantes, facto que se deu em finais de Junho, numa semana em que os termómetros roçavam os 35 graus centígrados.

O mesmo agente viu uma criança de quatro anos desmaiar na tentativa de atravessar o rio “de volta para o México”, conforme indicam “ordens superiores”.

A Casa Branca rotulou as práticas de “abomináveis” e “perigosas”, mas não exigiu investigação, como tem-no feito, directamente ou através de instituições internacionais cooptadas, quando há indícios de violação de direitos humanos em outras jurisdições.

Curiosamente, a medida de Texas para impedir a entrada dos mexicanos surge semanas antes de a vice-presidente dos EUA defender publicamente a redução de pessoas no mundo, alegadamente para assegurar a sustentabilidade ambiental.

“Quando investirmos em energia limpa e veículos eléctricos, e reduzirmos a população, nossas crianças poderão respirar ar puro e beber água limpa”, disse a coadjuvante de Joe Biden para, mais tarde, e em face das críticas, alegar, por via da sua assessoria, que confundiu “poluição” com “população”.

Embora se arroguem defensores dos direitos humanos e da democracia, os EUA, convém lembrar, ainda praticam a pena de morte, pelo menos em alguns estados.

Macron: demónio do Paris

O título é roubado do jornal iraniano Vatan Emrooz, que, numa matéria publicada em 2020, criticava duramente o presidente francês, depois de este ter afirmado que o islão estava em crise, o que lhe valeu uma onda de protestos na França e em todo o mundo árabe.

Com dificuldades, dada a notável ascensão meteórica da extrema-direita de Marine Le Pen, Emmanuel Macron foi reeleito em 2022 e, rapidamente, voltou ao seu registo de “demónio”, desta vez para atormentar toda a França.

A promulgação da impopular lei que determina o aumento da idade de reforma, de 62 para 64 anos, levou milhões de franceses às ruas um pouco por todo o País, de Marselha à Rennes, passando por Paris. O governo respondeu com violência policial, mas acabaria por inflamar ainda mais a ira dos manifestantes quando um agente da polícia baleou mortalmente uma criança de origem africana, em Junho último.

A partir daí, os protestos subiram de nível e até se tornaram violentos, levando Macron a cogitar a possibilidade de restringir o acesso às redes sociais, que, na sua opinião, seriam responsáveis por “alimentar a violência”. 

Seja em Paris, Londres ou Washington, os sacrossantos “valores ocidentais” gozam de boa saúde!

 

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco