A recente morte brutal de Elvino Dias, conselheiro jurídico do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e do político da oposição Paulo Guambe, chocou a sociedade moçambicana. O duplo assassinato, ocorrido na noite de 18 de Outubro de 2024, suscitou uma onda de repúdio e indignação generalizada, com reacções vindas de diversas figuras públicas, incluindo os antigos presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza, que exigiram a rápida responsabilização dos culpados e lamentaram profundamente as perdas.
Joaquim Chissano, através da Fundação que leva o seu nome, condenou o crime de forma veemente, descrevendo-o como um ataque inaceitável à vida humana e uma mancha na imagem do País. Em sua nota de repúdio, o ex-Presidente apelou às autoridades para esclarecerem o caso com a máxima celeridade, a fim de trazer os culpados à justiça. Da mesma forma, Armando Guebuza expressou consternação pelas mortes, lembrando sua interacção pessoal com Paulo Guambe e enfatizando a necessidade de combater as “forças do mal” que comprometem a segurança nacional.
Porém, em meio a este clamor, um silêncio gritante ecoa da mais alta figura da Nação: o Presidente da República, Filipe Nyusi. Desde o macabro episódio, Nyusi não emitiu qualquer declaração sobre o caso. Este silêncio tem sido alvo de duras críticas, especialmente porque, no dia 22 de Outubro, quatro dias após o crime, o Presidente voltou a utilizar as redes sociais, mas para um propósito completamente distinto. O motivo? Felicitar Joaquim Chissano pelo seu 85.º aniversário.
A ausência de uma posição oficial do Chefe de Estado em relação a um duplo assassinato provavelmente com motivações políticas, que abalou o País e incitou indignação nacional e internacional, é vista como um desrespeito para com as vítimas e suas famílias. O silêncio de Nyusi contrasta fortemente com as expectativas da população e de observadores internacionais, que aguardam uma resposta firme e um compromisso com a justiça.
A sociedade moçambicana, na sua maioria, tem manifestado perplexidade e descontentamento, perguntando-se por que o Presidente da República, responsável pela segurança de todos os cidadãos, na sua condição de Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança, escolhe ignorar um acontecimento tão grave. Em vez de um pronunciamento que traga esperança e medidas concretas para solucionar o crime, o Chefe de Estado opta por celebrar uma data, demonstrando, aparentemente, indiferença face à dor de seus concidadãos.
O silêncio de Nyusi é, portanto, tão ensurdecedor quanto preocupante, colocando em evidência a falta de empatia e de liderança num momento em que o País enfrenta uma das suas crises políticas e de segurança mais sombrias.