Não obstante todo seu potencial destrutivo, a pandemia da Covid-19 não foi capaz de destruir a potencialidade do ser humano de engendrar ideias “nota 20”. Luís Siza Jó é prova irrefutável disso, não fosse ele fundador de uma escola – Escola do Excel – que deu os primeiros passos numa altura em que as escolas tinham ordens para não funcionar. O que começou num acto de “desobediência civil” é hoje uma empresa que não para de crescer e até presta serviços às instituições do Estado.
Texto: Amad Canda
Em 2020, quando o coronavírus chegou a Moçambique, já tinha causado estragos noutras paragens do mundo em proporções difíceis de menosprezar. Não por acaso, o Governo apertou nas medidas de prevenção, destacando-se o famoso “fica em casa para salvar a ti e a todos”.
Várias empresas fecharam e tantas outras adoptaram o trabalho remoto, que tratou de expor algumas dificuldades que, no conforto do escritório e perante a possibilidade de contar com auxílio de colegas, passavam algo incógnitas, especialmente no que ao uso do Excel diz respeito.
Por essas alturas, o jovem Luís Siza Jó recebe uma enxurrada nunca antes vista de pedidos de assistência e, porque visionário, vê nisso uma janela de oportunidade para abrir novos horizontes num mundo que estava literalmente com as portas fechadas. Assim nasceu a ideia que hoje dá pelo nome de Escola do Excel.
De nada para tudo, de Moçambique para o mundo
Há quatro anos, quando tudo começou, a Escola do Excel tinha apenas dois colaboradores, incluindo Siza Jó. Hoje são 13, todos a trabalhar de forma remota numa empresa com registo em Moçambique e Angola.
Ao fazer a retrospectiva, o fundador não esconde o sentimento de orgulho por contribuir para que os trabalhadores sejam mais eficientes em seus postos laborais. É esse, assevera, o objectivo central. “O grande propósito é reduzir o tempo de trabalho. Quando temos um profissional que leva dois a três dias a fazer um relatório, nós o ensinamos a fazer o relatório em apenas algumas horas”.
Desde o início das operações, em Setembro de 2020, passaram pela Escola do Excel, que também oferece pacotes PowerPoint, Power BI e cursos de edição de vídeos, mais de 1600 formandos, número que ascende aos 2000 se contabilizadas as instituições. “Trabalhamos com o Banco de Moçambique e com a Embaixada de Portugal”, exemplifica o patrono.
A rede de clientes estende-se, porém, a vários países, nomeadamente Portugal, Angola e Guiné-Bissau.
A fome insaciável de crescer
Siza Jó é um homem satisfeito pela contribuição que tem dado ao mercado de trabalho em Moçambique e não só. Não é por acaso, reconheça-se. Afinal, a Escola do Excel tem recebido um feedback interessante de ex-formandos que “relatam confiança no trabalho, são promovidos e ganham destaque”.
Mais do que isso, sente estar a contribuir para a quebra de estereótipos em relação ao ensino online. “Quando tens um estudante que nunca fez cursos online, faz pela primeira vez e percebe que pode aprender, isso cria um hábito naquele ser humano que o leva a ter curiosidade de fazer outros cursos. Então, no final do dia, a gente está a formar profissionais do mercado de trabalho cada vez mais capacitados”, celebra o jovem empreendedor.
Sua satisfação não pode, no entanto, ser confundida com acomodação. Ele sabe que a Escola do Excel cresceu bastante, mas continua a ter margem de progressão, daí a preocupação de estabelecer parcerias inteligentes. Neste momento, a empresa tem acordos com a Associação Moçambicana de Economistas (AMECON) e com a empresa de recrutamento SDO. Segundo Siza Jó, há mais na manga.
“Estamos num processo [negocial] para fechar duas parceiras com igual número de universidades”, adianta o jovem inovador para quem a busca pelo conhecimento deve ser uma cultura entre as pessoas. De resto, acredita que é com o conhecimento que se pode colocar Moçambique num outro patamar.