A política nacional tinha tudo para resultar em uma longa-metragem de comédia, não fosse triste o que ela nos proporciona. Este domingo, 14 de Abril, actos de violência assombram a Reunião do Conselho Nacional da Renamo, que decorreu numa das estâncias hoteleiras da capital do País.
De acordo com os órgãos de comunicação social presentes no local, os confrontos físicos envolveram jovens apoiantes de Venâncio Mondlane e uma outra ala do partido que, aparentemente, não nutre simpatia pelo ex-cabeça de lista da Renamo na cidade de Maputo. Seus apoiantes estavam a fazer uma manifestação a favor do seu predilecto, que, por sinal, não recebeu convite para participar da sessão.
Ficou claro, no entanto, que o móbil número um da manifestação é a proposta do perfil para o candidato da Renamo às eleições presidenciais de Outubro próximo. A referida proposta estabelece, entre outras premissas, que o candidato pela perdiz deve ter, no mínimo, 15 anos de filiação ao partido, requisito que Venâncio Mondlane não preenche.
Desde o surgimento desta proposta, muito se tem especulado sobre a lógica que a norteia, havendo espaço para uma teoria de conspiração. Em carta aberta, lançada poucos dias antes da reunião, Venâncio Mondlane mostrou-se convicto de que a exigência dos 15 anos de militância não tem outro objectivo senão o de inviabilizar sua candidatura, e denunciou seu carácter antidemocrático e anti-estatutário.
Não pretendemos, neste texto, valorar a teoria do deputado, que parece estar cada vez mais isolado internamente. Interessa-nos, sim, levantar debate em torno da relevância da antiguidade numa determinada área. Quanto a nós, e sem qualquer desprimor pelos mais antigos em qualquer que seja a organização, este critério não devia, sob circunstâncias alguma, ser o mais importante na eleição das lideranças.
A história tem demonstrado que não há nenhuma correlação entre antiguidade e capacidade, e provas nesse sentido são abundantes dentro da própria Renamo. A juventude de Afonso Dhlakama não lhe impediu de se tornar uma figura nuclear na Renamo, assumindo o movimento de guerrilha depois da morte de André Matsangaíssa. Ironicamente, se o partido mantivesse a coerência nesse seu delírio, sequer teria convidado Venâncio para ser seu cabeça-de-lista na capital, e, se tal tivesse acontecido, não há dúvidas de que não teria alcançado a vitória, pese embora tenha sido posteriormente revogada na “secretaria”.
Nas autárquicas, a Renamo foi inteligente o suficiente para perceber que tinha de explorar o grande activo que Venâncio Mondlane representa. No dossier “eleições internas”, está precisamente a abdicar do uso da razão, para privilegiar interesses de grupinhos.
Isto não é uma defesa a Venâncio Mondlane, a quem, aliás, já apontamos alguns excessos em determinadas alturas. É, antes, uma defesa ao primado da competência sobre qualquer outro critério, cientes de que o País não está preocupado com a idade, tempo de militância nem cargos, mas sim, em encontrar um líder capaz de conduzi-lo a bom porto após longos anos de retrocesso.
Uma Renamo séria abriria espaço para que todo e qualquer quadro capaz se coloque como postulante à presidência do partido e/ou à Ponta Vermelha. Ao proceder de forma contrária, a perdiz prova que não está disposta a ser uma plataforma de transformação do País, mas, antes, um elevador social para um selecto grupo de membros e seus apaniguados.
Por outro lado, a segunda maior força política do País prova que pouco ou nada aprendeu com os erros cometidos pela Frelimo na matéria de sucessão. É que o partidão nunca quis saber da competência no momento de escolher o novo timoneiro, tendo preferido privilegiar o local de nascimento e a sagrada “antiguidade”. É graças a esta lógica de distribuição de tachos que o País vem definhando a todos os níveis, numa espiral sem fim à vista. Porque tudo importa, menos a competência.
*Editorial extraído da edição da edição 556 do Dossiers & Factos