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Roque Silva responsabilizado pela desorganização da Frelimo

A acusação vem de dentro do partido e surge como reacção aos diferentes pronunciamentos feitos por membros do partido, supostamente ligados ao actual secretário-geral da Frelimo, Roque Silva Samuel, que procuram a todo custo transmitir a ideia de que não há nenhuma crise dentro do partidão, contrariando, desta forma, as diferentes vozes, até de membros seniores, que têm colocado o dedo na ferida em protesto contra aquilo que consideram ser má gestão partidária.

Texto: Dossiers & Factos

Numa altura de intensos debates políticos, com acusações mútuas, quer de dentro do partido Frelimo, quanto da oposição, tudo por conta dos resultados das últimas eleições autárquicas, que ameaçam, até ao momento, uma instabilidade política, o partido no poder, a Frelimo, tem-se mostrado dividido, pelo menos se considerarmos os pronunciamentos e cartas de membros seniores deste histórico partido.

Desta vez, as fontes internas, que preferem falar no anonimato, entendem que a desorganização partidária começa da figura do Secretário-geral do partido, Roque Silva Samuel, que, no entender das mesmas fontes, optou pela política de dividir para reinar, criando deste modo alas que não ajudam na estrutura do partido.

No entender das mesmas fontes, que mais adiante descrevem certos episódios que para elas não são normais à luz das normas internas da Frelimo, Roque Silva poderá ser o secretário-geral que pior conduziu a estrutura do partidão, criando desta forma a maior instabilidade, quer interna, quer fora deste partido histórico.

Explicam que o actual número dois da Frelimo sempre esteve em contramão com os estatutos, por isso desestruturou a máquina administrativa do partido.

As fontes observam que é a primeira vez que se assiste a casos em que o partido enfrenta contenciosos em quase todo o território nacional por causa dos resultados eleitorais, ao mesmo tempo que se agudiza a sua impopularidade. As fontes, que rotulam Roque Silva Samuel como intolerante e pouco comunicativo, entendem que muitos problemas que ocorrem no partido são consequência da já aludida política de dividir para reinar, que acaba beneficiando apenas a um grupinho de figuras próximos e dependentes.

Aliás, sublinham as nossas fontes que Roque Silva Samuel edificou uma obra menos consistente ou mal estruturada que tornou o partido Frelimo menos querido e cada vez mal falado. Recordam que Roque Silva há-de ser o primeiro secretário-geral da Frelimo que conseguiu abertamente estar em colisão com a nata da velha guarda do partido, chegando ao extremo de recusar recebê-los em seu gabinete de trabalho.

Explicam as fontes que esta “falta de paixão” pelos veteranos da Frelimo chegou a ser manifestada publicamente em pleno congresso do partido, quando disse “o meu problema na Frelimo são os mais velhos – eles é que me criam problemas”.

Para as nossas fontes, aqueles pronunciamentos, quando feitos por um Secretário- geral do partido, revelam que não compreendeu o percurso político, histórico e ideológico do partido, daí crescer a ideia de estar a agir em contramão com os estatutos.

Indicação dos cabeças-de-lista foi irregular

 As fontes trazem à colação o barulho das eleições internas no partido, que, segundo elas, não foram feitas como mandam as normas. Apontam que havia orientações superiores do próprio SG para o “abate” de certas figuras que ousaram, ao longo do tempo, não se juntar aos planos do SG.

Aliás, segundo as mesmas fontes, esta postura do número dois do partido acabou contaminando as restantes estruturas, quanto da base, quanto de nível provincial. Mas também, foi notório o seu negativo impacto dentro do Comité Central, bastando recordar algumas rejeições e desistências históricas no processo de eleição a nível daquele órgão.

Ainda em torno das eleições para os diferentes órgãos dos partidos, as nossas fontes fazem referência ao processo das eleições dos cabeças-de-lista para as autárquicas recentemente realizadas. Denunciam que este processo foi fraudulento, porque não houve eleições. O que aconteceu na maioria dos casos, alegam, foram indicações de forma ad hoc, mediante orientação directa do próprio SG, sendo que alguns edis, mesmo tendo bom desempenho, acabaram relegados para o segundo plano no partido.

Nesta e noutras matérias, lamentam as fontes a suposta inoperância do Secretariado para Verificação no seio do partido, que, segundo as fontes, mesmo recebendo denúncias – formais e não só – pouco tem feito.

“Há decisões que o SG toma quando deviam ser do nível do Comité Central”

As fontes lembram que o partido está na fase de espera pela promulgação dos resultados das eleições havidas em Outubro passado, numa altura em que o cenário torna, de certa forma, imprevisível a deliberação do Conselho Constitucional.

Estranhamente, segundo fontes internas da Frelimo, o Secretário-Geral já se reuniu com os primeiros secretários provinciais para o lançamento da estratégia da campanha das eleições presidenciais de 2024. Entendem as fontes que a estruturação dessa matéria devia ser da competência do Comité Central.

Ainda em relação à matéria, sustentam que este processo do lançamento da “onda vermelha” com vista às eleições do próximo ano devia ser antecedido pela análise, balanço e encerramento das actividades do actual Gabinete de Campanha e de seguida de uma sessão do Comité Central, como tem sido a norma, para depois criar-se um outro Gabinete de Campanha ou renovar o mandato do actual.

É neste contexto que as fontes questionam qual será o papel do Comité Central quando este se reunir para se debruçar sobre a próxima campanha eleitoral, quando a “onda” já foi lançada sob orientação apenas do Secretário-geral?

“Negar a existência de crise interna é sinónimo de intolerância política”

Dizem as fontes que o secretário-geral orientou seus próximos, incluindo alguns membros da Comissão Política, para levarem a cabo debates que diabolizam todos os críticos ao actual sistema administrativo do partido. Aliás, cabe ainda a estas figuras que comunicam para fora do partido defender a ideia de que, internamente, está tudo saudável, ou seja, não há crise na casa do “batuque e maçaroca”. Por outro lado, surgem comentaristas que, pela primeira vez na história da Frelimo democrática, têm coragem de insultar o povo.

Para as nossas fontes, esta é mais uma clarividência de que não há espaço para comunicação dentro dos órgãos partidários e que a intolerância política reina no seio da liderança administrativa da Frelimo.

Consideram ainda que são vários os exemplos de casos que revelam crise interna na Frelimo, que até são de domínio público e que criam desassossego ao próprio secretário-geral do partido e seus próximos. No entender das nossas fontes, o partido, a todos os níveis, foi tomado por grupos de amigos e familiares, sendo que é na base dessas ligações de amizade e até de familiaridade que uns vão aniquilando a imagem de outros camaradas.

Os casos de Samora Machel Júnior, Castigo Langa, Caifadine Manasse, a desistência da Graça Machel de concorrer a membro do Comité Central, o recente afastamento de um membro do Secretariado do Comité Central, os pronunciamentos públicos de vários membros seniores do partido, à exemplo de Teodato Hunguana e General Nihia, assim como o ecoar do “barulho” dos milhares de descontentes que estão em silêncio, também revelam grave crise interna.

 Grandes males – grandes remédios

Perante estes e outros registos aqui não mencionados, como são os casos da luta desenfreada em busca pela sobrevivência financeira individual, que até pode resvalar para o mundo de corrupção activa e abuso de cargo, passando pela fragilização dos órgãos sociais do partido, como é exemplo a OJM, a classificação de críticos, mesmo sendo membros seniores do partido, como gente nociva ao partido, as fontes concluem que o actual secretário-geral da Frelimo, Roque Silva Samuel, está a destruir a estrutura política institucional e ideológica do partido.

Sugerem, por isso, que para grandes males tem de haver grandes remédios, ou seja, o partido tem de ter coragem de sacrificar certas figuras para recuperar sua legitimidade e credibilidade perante o povo.

 

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