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Testemunhas de Jeová envolvidas em polémica na Massinga

Três membros seniores do Salão do Reino das Testemunhas de Jeová no distrito de Massinga, província de Inhambane, nomeadamente Adriano Paulo, Orlando Mugaissa e Adilson Silva, poderão ser condenados pela justiça, acusados de crimes de perseguição e ameaça contra os membros daquela organização. O processo está a ser movido por uma das vítimas, que foi expulsa das Testemunhas de Jeová, alegadamente porque descobriu e divulgou nas suas redes sociais informações sensíveis que colocam em causa a imagem da organização, algumas das quais têm a ver com a desassociação e proibição de qualquer membro de frequentar o ensino superior e abuso sexual de menores. O advogado Hilófero da Conceição considera injusta a decisão tomada pela liderança da igreja de expulsar o seu crente. Segundo ele, esta atitude vai contra os princípios que regem o Estado. O processo já está nas mãos da justiça, aguardando apenas os passos subsequentes.

Texto: Anastácio Chirrute

Trata-se de um caso que ainda vai fazer correr muita tinta nos próximos dias, e envolve membros da direcção do salão das Testemunhas de Jeová na vila autárquica de Massinga, província de Inhambane, que supostamente usam o poder para protagonizar actos de desmandos, perseguição e ameaça contra qualquer membro que não concorde com as suas opiniões, violando os princípios éticos que regem aquela organização religiosa.

Como consequência, há um caso que deu entrada no Tribunal Judicial do Distrito de Massinga, envolvendo três membros seniores daquela confissão religiosa, nomeadamente Adriano Paulo, Orlando Mugaissa e Adilson Silva, movido por uma das supostas vítimas, por sinal ex-fiel das Testemunhas de Jeová, identificado pelo nome de Maurício Fernando, que à data dos factos desempenhava as funções de tradutor de língua citsua e estava afecto nos escritórios de tradução. Acusa-os de prática de crime de perseguição e ameaça.

A alegada vítima contou como tudo começou: “Um senhor chamado Adriano Paulo, que é responsável pela língua citsua, veio à minha casa buscar-me de carro. Isso foi no dia 6 de Setembro do ano passado, alegando que precisava da minha ajuda e disse que eu devia me vestir formalmente. Na minha maior inocência, fui fazer tudo depressa, não tomei banho e nem comi nada, pensando que fosse um assunto que não demoraria. Quando saímos da minha casa, passamos por um sítio para buscar o senhor Orlando Mugaissa, que fingiu estar a dar boleia àquele senhor, enquanto já tinham planificado tudo. De seguida, levaram-me até ao salão das Testemunhas, localizado na zona de Serafina, onde fui julgado e condenado”, contou a suposta vítima, que hoje já não é mais membro das Testemunhas de Jeová, acrescentando: “Fui desvinculado das Testemunhas de Jeová por ter descoberto alguns segredos que a instituição escondia e também notei a desonestidade dentro da instituição. Com toda aquela matéria, começaram a me perseguir. Havia um processo movido contra a organização na Noruega no ano passado, em 2023. Nesse processo, a organização tentava manipular a justiça norueguesa, apagando algumas evidências, e essas evidências tinham a ver com dois vídeos que mostravam o processo de desassociação dentro da instituição, e para omitir a verdade, apagaram todos os vídeos.”

A alegada vítima afirma que, nas Testemunhas de Jeová, existe um grupo de indivíduos que actuam como espiões e têm a missão de controlar e manipular as mentes dos crentes para que estes não descubram o outro lado daquela instituição religiosa. “Mas o que a instituição não sabia é que, antes de apagar, eu já tinha copiado aqueles vídeos e os tornei públicos nas redes sociais.”

 “Quando eu trabalhava no departamento de tradução, acabei descobrindo um ficheiro que indicava que dentro da instituição há espiões que monitoram os fóruns daqueles chamados apóstatas. Esses espiões se aproximavam de mim, fingindo ser meus amigos, para tentarem obter informações sobre os motivos de eu estar a divulgar segredos da instituição e também queriam descobrir se aquela conta que vinha em outros nomes era minha ou não.”

A fonte alega que foi submissa a um interrogatório de quase 12 horas, sem interrupção e sem direito a refeição. Neste processo, os interrogadores terão conseguido “obter as informações de que precisavam, que de alguma forma incriminavam a instituição”. De seguida, segundo o denunciante, terão apreendido e vasculhado o celular para “apagar qualquer informação que manchasse a imagem da organização”.

 

Ensino superior proibido

Outra preocupação apresentada pela mesma fonte tem a ver com a proibição ou impedimento dos membros de darem continuidade aos estudos no ensino superior. Supostamente, o argumento apresentado pelas testemunhas é que, quando um crente frequenta uma universidade, está a servir a Satanás e não a Deus.

 “As testemunhas de Jeová podem estudar e até fazer a faculdade, mas a única coisa que acontece é que os anciãos recebem instruções, ou seja, proíbem ou desencorajam as Testemunhas de Jeová a prosseguir com os seus estudos no ensino superior. Também essas instruções eu tive que torná-las públicas, porque a organização, por fora, diz que não é contra o ensino superior, mas lá dentro os anciãos fazem tudo ao contrário. Eles tentam questionar o privilégio de qualquer Testemunha de Jeová que esteja a fazer faculdade. O que eles alegam é que, estando a fazer faculdade, a pessoa estaria a se formar para servir a Satanás.”

Por conta disso, ele e tantos outros tiveram negada a possibilidade de continuar com os seus estudos, sendo a 12ª a sua última classe de escolaridade. Para além de não ter tido a oportunidade de prosseguir com os estudos, está proibido de manter contacto com qualquer membro das Testemunhas de Jeová, incluindo os seus familiares directos.

“Nestas minhas descobertas, fui expulso da igreja e proibido de manter contactos com os irmãos das Testemunhas, incluindo os meus familiares, porque ainda frequentam as reuniões. Neste momento, estou isolado, não posso ligar para meu pai ou irmão para conversar como fazíamos antes.”

Desassociado, Maurício Fernando pretende agora, com este caso, ajudar mais membros a despertar e a quebrar o silêncio, pois acredita que há muita gente que neste momento está a sofrer calada e que a organização pare de ocultar a verdade e de perseguir e ameaçar os seus membros.

A decisão da direcção

Segundo o advogado que assiste este caso, Hilófero da Conceição, embora seja um processo ligado a uma confissão religiosa, a parte criminal do processo é o que mais importa, pois os três membros das Testemunhas de Jeová cometeram crimes de ameaça e ofensa contra os princípios que regem a convivência dentro do Estado. Ele garante que já foi submetida uma queixa ao tribunal, e a sua validação vai depender das instruções apropriadas para o efeito.

 “Tem lá o crime de ameaça ligado à invasão dos instrumentos electrónicos alheios, porque houve a recolha das provas para que fosse tomada esta decisão. Achamos que é preciso pautar pelos princípios que regem essa instituição, logo, a existir algumas regras para se aplicar um processo, seja disciplinar ou qualquer outro, que sejam observadas as regras e não se use a coacção. E o método de coacção já sabemos qual é este tipo de prova, viola aquilo que são os princípios de convivência dentro do Estado.”

Da Conceição considera que uma instituição religiosa não pode estar fora do Estado, embora tenha os seus princípios, mas deve aplicá-los dentro do Estado. “Houve sim do ponto de vista de indícios, porque, antes do julgamento, todo indivíduo é considerado inocente, mas nós já submetemos uma queixa com base nos fundamentos que lá aparecem e vamos ver o que a justiça vai dizer sobre este caso.”

O semanário Dossiers e Factos contactou telefonicamente o senhor António Mate, que é representante do Salão das Testemunhas de Jeová no Distrito de Massinga, mas ele se recusou a prestar qualquer informação, alegando que precisava ainda de uma autorização. Para tal, prometeu que em breve entraria em contacto com a nossa equipa de reportagem para dar a versão dos fatos sobre as acusações que pesam contra a sua instituição, mas até a tarde de sábado ainda não se tinha pronunciado.

 

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