As chuvas intensas que caíram em 2024 e no início deste ano causaram enormes prejuízos em grande parte das estradas da província de Inhambane, na região sul de Moçambique, dificultando a circulação de viaturas, pessoas e bens. Para minimizar os impactos, o governo provincial, através da Administração Nacional de Estradas (ANE), está a realizar trabalhos de manutenção nas vias mais críticas, com destaque para os troços Massinga-Funhalouro (110 km), Mapinhane-Mabote (120 km), Homoine-Maxixe (23 km) e Pambara-Vilankulo (18 km).
Texto: Anastácio Chirrute em Inhambane
Apesar dos esforços de manutenção, alguns troços continuam em estado crítico e com circulação condicionada, permitindo apenas a passagem de viaturas com suspensão elevada e tracção às quatro rodas. É o caso das estradas Massinga Funhalouro, Mapinhane-Mabote e PambaraRio Save (300 km), fortemente afectadas pelas chuvas recentes.
A delegada provincial da ANE em Inhambane, Monira Nhampossa, explicou que já foram realizadas intervenções em algumas vias consideradas vulneráveis, especialmente após a passagem do ciclone Freddy.
“Temos transitabilidade condicionada em alguns troços, como a N22, entre Mapinhane e Mabote, na baixa de Banamani, devido à destruição da estrutura hidráulica. A circulação nesse trecho é feita por um desvio, que, infelizmente, também apresenta dificuldades. Situação semelhante verificase na N44, entre Massinga e Funhalouro, e em outras vias, como a R481 (MocodueneFunhalouro), a R900 (Morrumbene-Sitila) e a R915, que liga a N1 a Pomene”, detalhou Nhampossa.
Ela garantiu que foram feitas intervenções emergenciais ao longo das estradas mais danificadas pela passagem do ciclone Freddy e pela época chuvosa de 2022 e 2023. Os trabalhos, concluídos em 87% até Dezembro passado, incluíram a reabilitação de 700 km de estradas, a construção de 62 aquedutos, 1.560 metros de valas de drenagem, 20 drifts e passagens molhadas, além da ampliação da ponte sobre o rio Koua, que passou de 28,12 para mais de 70 metros de comprimento.
“Foram ainda construídas duas pontes em estradas não classificadas, nomeadamente Chinjinguir e Mubalo. Todas essas intervenções contribuem para a melhoria da transitabilidade. Além disso, foram feitos aterros e construídas bases em cerca de 235 km de vias danificadas pelo ciclone Freddy”, acrescentou.
Desafios e Planos Futuros
As obras de emergência foram financiadas pelo governo moçambicano, com apoio do Banco Mundial. Entretanto, a reabilitação de estradas de terra, que foram intervencionadas no âmbito do plano de emergência, continua a ser um desafio devido à vulnerabilidade dessas vias às chuvas.
“As estradas são naturalmente susceptíveis a danos, sobretudo em Moçambique, devido à sua localização geográfica. Mesmo com as melhorias feitas, elas continuam sujeitas a ciclos de degradação”, explicou a delegada da ANE. Para garantir a segurança dos utentes, a ANE tem levado a cabo acções preventivas, incluindo a divulgação de planos de contingência e a sensibilização dos automobilistas. “Temos identificado vias susceptíveis a danos e indicado alternativas. Recomendamos precaução, especialmente em áreas de baixa visibilidade, e desencorajamos o uso de viaturas ligeiras em estradas terraplanadas durante o período chuvoso. Além disso, mobilizamos empreiteiros com equipamento adequado para intervenções imediatas”, assegurou Nhampossa.
A estrada Homoine-Maxixe está actualmente a ser intervencionada no âmbito do plano de emergência. O contrato foi assinado no ano passado e prevê a entrega das obras antes da próxima época chuvosa (2025/2026). Até ao momento, já foram reciclados 800 metros do quilómetro zero (entre o centro de saúde e Alto Maxixe), escarificados 8 km e executada a sub-base em 3 km, representando 30% de avanço físico.
Já o troço Pambara-Rio Save, também em estado crítico, foi incluído no plano de manutenção periódica e está sob contrato com a empresa CRBC, num investimento de pouco mais de 300 milhões de meticais. No entanto, as obras, previstas para iniciar no ano passado, foram adiadas devido a dificuldades financeiras que impediram o pagamento do adiantamento ao empreiteiro.
Situação semelhante ocorre na estrada Panda-Inharrime, cujo concurso para manutenção já foi lançado. O empreiteiro está a intervir, iniciando os trabalhos em Panda, rumo a Inharrime.
Falta de recursos compromete metas
A falta de financiamento é um dos principais desafios enfrentados pela ANE na execução dos seus projectos. Segundo Nhampossa, o orçamento destinado ao sector rodoviário tem vindo a diminuir ano após ano, comprometendo as metas estabelecidas.
“Moçambique é um dos países africanos mais vulneráveis às mudanças climáticas. Nos últimos anos, temos registado cortes de estradas e a destruição de infraestruturas, resultando em enormes perdas económicas. Em Inhambane, a situação é ainda mais complexa, pois 84% dos 4.603 km de estradas da província são vias não pavimentadas. Isso agrava os impactos das intempéries”, explicou.
A delegada provincial da ANE em Inhambane, Monira Nhampossa Chissico, foi a convidada especial do programa Café da Manhã, da Rádio Moçambique, onde abordou a situação das estradas na província e os esforços em curso para reverter o actual cenário.