As manifestações lideradas pelo ex-candidato presidencial, Venâncio Mondlane, tiveram um forte impacto na economia moçambicana, atingindo especialmente o sector industrial. Segundo a Confederação das Associações Económicas (CTA), as perdas já ultrapassam os 500 milhões de dólares (31,6 mil milhões de meticais), representando 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Em entrevista ao Diário Económico, Rogério Samo Gudo, presidente da Associação Industrial de Moçambique (AIMO), destacou que, além dos prejuízos materiais em infra-estruturas, linhas de produção e armazéns, as manifestações têm dificultado o transporte de mercadorias, interrompendo cadeias de valor e comprometendo a recuperação do sector.
Texto: Dossier económico
Gudo destacou que a indústria foi o sector mais afectado, não apenas pelos danos materiais, mas também pela interrupção do fornecimento de matérias-primas e pela dificuldade em escoar os produtos finais. “As dificuldades na circulação de mercadorias e o atraso na entrega de insumos causaram um efeito ‘cascata’ negativo nos processos produtivos”, afirmou.
O presidente da AIMO sublinhou ainda que a indústria depende da presença física dos trabalhadores, o que a torna mais vulnerável em contextos de instabilidade. “Com a mobilidade comprometida, a produção é gravemente prejudicada”, explicou.
Além dos danos directos, o sector industrial enfrenta desafios financeiros, como o aumento das taxas de juro e a escassez de moeda estrangeira.
“Muitas empresas precisam de importar equipamentos e matérias-primas, processos que podem levar meses. Com juros elevados e atrasos nos pagamentos, os custos aumentam significativamente”, disse Gudo.
Para superar estes desafios, o responsável defendeu a necessidade de estabilidade política e de um ambiente macroeconómico favorável. “Sem estabilidade, o sector produtivo continuará sob pressão”, alertou. Gudo apelou ainda à renegociação de contractos com multinacionais e à utilização mais eficiente dos mecanismos financeiros existentes, visando fortalecer a economia e garantir que a indústria desempenhe um papel central no desenvolvimento do país.
O presidente da AIMO destacou que o desenvolvimento industrial é essencial para a valorização da agricultura e para a criação de emprego. “Não haverá uma agricultura forte sem processamento. O processamento é o que cria mercado para a produção agrícola”, afirmou. Gudo defendeu ainda que a indústria deve ser a prioridade do país, pois é através dela que se pode gerar valor, qualificar a mão-de-obra e fortalecer a economia.
Questionado sobre as expectativas em relação ao novo ministro da Economia, Basílio Muhate, Gudo mostrou-se optimista, mas cauteloso. “Sentimos que há respeito pela parte do desenvolvimento económico e industrialização. Damos o benefício da dúvida, mas não estamos a ser meros espectadores. Estamos a agir”, afirmou.
O presidente da AIMO sublinhou a importância do diálogo entre o Governo, as multinacionais e o sector privado para criar condições que permitam a reactivação da indústria e a geração de emprego. “Muitas manifestações devem-se à falta de emprego. Temos a responsabilidade de contribuir para resolver este problema”, concluiu.