O administrador do distrito de Liúpo, na província de Nampula, César Nacuo, anunciou a ambição de transformar aquela região numa referência nacional na produção de arroz, tomate, cebola e repolho em grande escala. Em entrevista ao semanário Dossier Económico, o dirigente assegurou que o governo local está empenhado em encontrar soluções para concretizar este objectivo, apesar dos desafios relacionados com as más condições das vias de acesso e a falta de energia eléctrica.
Texto: Anastácio Chirrute
Viajar de Nampula até Liúpo, numa distância superior a 100 quilómetros, é actualmente um verdadeiro suplício. A estrada principal encontra-se em avançado estado de degradação, dificultando a circulação de pessoas, viaturas e mercadorias. Este cenário tem travado investimentos e limita o aproveitamento turístico das belas praias existentes no distrito.
Segundo César Nacuo, a Estrada R687, que liga Liúpo a Corane, no distrito de Meconta, encontra-se em manutenção de rotina, com trabalhos de tapa-buracos em curso. Exercícios semelhantes decorrem na R688 (Liúpo–Quinga) e na R689 (Liúpo– Quichaci). Para o administrador, a melhoria das vias é condição essencial para atrair investidores e dinamizar a economia local.
Apesar das dificuldades, o governo distrital pretende reduzir a dependência de Nampula e de outros distritos vizinhos no fornecimento de produtos agrícolas. Nacuo defende que Liúpo tem condições naturais para ser uma potência agrícola, contrariando a ideia de que o litoral é, por natureza, improdutivo.
O administrador explicou que, embora já haja produção, os níveis actuais estão longe do desejável. A cebola, por exemplo, é cultivada localmente, mas ainda de forma experimental. “Não temos registos de bolsas de fome em Liúpo, mas precisamos afirmar-nos como produtores consistentes e autónomos, capazes de abastecer outros distritos”, sublinhou.
Para inverter o quadro, foram criados grupos de camponeses dedicados ao cultivo de repolho, alface e tomate em grandes quantidades. Muitos vendedores locais admitem recorrer a produtos vindos de fora por falta de técnicas de produção adequadas, situação que o governo promete corrigir com apoio técnico e incentivo ao cultivo local.
A aposta mais ambiciosa incide sobre o arroz. Nacuo revelou que já existe interesse de um investidor líbio em produzir esta cultura nas extensas terras baixas do distrito. A ideia é avançar, em coordenação com a província, para a instalação de uma indústria de processamento, criando uma marca própria de arroz de Liúpo.
O sector do turismo também está na mira das autoridades distritais. O governo pretende estruturar a exploração da praia de Quinga, considerada uma das mais belas de Nampula mas ainda pouco aproveitada. O plano passa pela electrificação da zona, a 43 quilómetros da vila sede, parcelamento de talhões para investidores e incentivo à construção de resorts, lodges e infra-estruturas de lazer, incluindo uma arena para eventos culturais.
Segundo Nacuo, há já 17 investidores interessados em apostar em Quinga, numa dinâmica que poderá impulsionar o turismo e criar novas oportunidades de emprego.
Outra aposta estratégica é a avicultura. O governo local, em coordenação com a CTA, procura parcerias com empresas especializadas na criação e abate de frangos, de modo a diversificar a economia e aumentar a disponibilidade de proteína animal no distrito.
César Nacuo concluiu afirmando que, com estradas transitáveis, energia eléctrica e maior aproveitamento dos recursos naturais, Liúpo poderá assumir-se como um distrito de referência em Nampula, tanto na agricultura como no turismo.