A situação operacional e financeira da Moçambique Telecom (TmCel) voltou a gerar atenção do Governo e do mercado, após o Ministério das Finanças ter classificado a operadora como uma das empresas públicas com risco fiscal elevado no Relatório de Riscos Fiscais para 2026. A análise coloca a TmCel na categoria mais crítica, evidenciando a necessidade urgente de medidas estratégicas para garantir sustentabilidade, eficiência operacional e retorno de investimento para o Estado. Entretanto, tal estratégia já existe, segundo fez saber o Presidente da República, Daniel Chapo.
Texto: Milton Zunguze
Durante a visita ao pavilhão do Sector Empresarial do Estado (SEE), na Feira Internacional de Maputo (FACIM 2025), o Presidente da República, Daniel Chapo, reconheceu a crítica situação da operadora, assegurando, no entanto, que já existem estratégias – que chamou de “segredo” – para revitalizar a empresa nacional de telecomunicações.
“Nós estamos a trabalhar muito para ver se conseguimos colocar a nossa TmCel no lugar onde sempre mereceu estar, mas, como o segredo é a alma do negócio, ainda vamos manter o segredo”, afirmou Chapo, acrescentando que os detalhes do plano serão revelados gradualmente, à medida que as medidas estratégicas forem implementadas.
A TmCel enfrenta actualmente desafios estruturais que vão desde a redução de receitas e aumento dos custos operacionais até à necessidade de modernização tecnológica.
A urgência da diversificação
No seu discurso, o Presidente Chapo sublinhou a necessidade de diversificar a economia moçambicana, evitando a dependência exclusiva de recursos esgotáveis como o gás natural. “Temos que trabalhar muito para acelerar o surgimento da sociedade de garantias. Com o nosso apoio e o vosso esforço, vamos conseguir alcançar o sucesso. O nosso grande objectivo é dinamizar a economia através das pequenas e médias empresas. Não podemos concentrar-nos só no gás, que é um recurso esgotável”, enfatizou. Para Chapo, as PMEs são essenciais para impulsionar o crescimento económico sustentável, gerar emprego e fortalecer o comércio e a indústria locais.
No âmbito da apresentação dos progressos das empresas estatais, a Aeroportos de Moçambique (ADM) destacou melhorias significativas, com especial foco no hub da Beira, que deverá reduzir custos de navegação aérea e melhorar a conectividade interna. “Tínhamos grandes problemas de comunicação e, neste momento, podemos assegurar a ligação entre a Beira e o Norte, e de Maputo para a Beira, garantindo eficiência na navegação aérea. Projectamos que Beira seja, no futuro, o hub nacional para redução de custos e para ligar o País de forma rápida”, explicou a representante da ADM ao Presidente.
Outro sector estratégico, a Electricidade de Moçambique (EDM), destacou-se pela expansão da electrificação, que passou de cerca de 3% no ano da proclamação da independência para 62,5% nos dias de hoje. Nos últimos três anos, a EDM começou a gerar dividendos para o Estado e foca-se na produção de energia para a industrialização, tendo recebido, recentemente, um prémio regional que reforça a sua posição de referência na região. O investimento em electrificação e produção energética é considerado fundamental para apoiar a indústria nacional, criar emprego e reduzir a dependência de energia importada.
Petromoc em ascensão
Por sua vez, a Petromoc, responsável pelo sector de combustíveis, marcou presença no pavilhão do IGEPE, destacando a expansão logística e modernização da rede de retalho. Com 234 postos de abastecimento, a empresa projecta aumentar a capacidade de armazenagem, incluindo novas instalações em Pemba que passarão de 7.000 para 18.000 metros cúbicos, além de reoperacionalizar tanques inactivos desde os anos 1980.
“O foco da Petromoc ao longo de 48 anos tem sido a expansão logística e a consolidação da rede de retalho. Em 2025, esperamos inaugurar Pemba (requalificação e modernização do corredor) e investir na Matola (reoperacionalização de três tanques que não funcionavam desde a década 80) para fortalecer ainda mais a nossa infra-estrutura”, explicou o PCA, Hélder Chambisse.
Inovações em várias empresas do SEE
A Imprensa Nacional, responsável pelo Boletim Oficial do Estado, está a modernizar-se com a migração para a plataforma digital IBR, permitindo acesso online aos cidadãos e promovendo transparência e democratização da informação.
No sector farmacêutico, a INFARMA prepara-se para lançar novos soros, aumentando a capacidade de produção nacional e reduzindo a dependência de importações, enquanto a EMOSE lançou produtos de seguro de saúde e fundos de pensões para garantir qualidade de vida a trabalhadores e aposentados. “Só com pessoas saudáveis podemos trabalhar para o desenvolvimento de Moçambique”, afirmou a empresa.
A Companhia Nacional de Hidrocarbonetos (CNH), criada pela ENH em parceria com o IGEPE, registou lucro líquido de 67 milhões de dólares em 2023 e distribuiu dividendos recordes ao Estado, demonstrando que a gestão eficiente é possível em sectores estratégicos.
A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) mantém cerca de três empresas cotadas e uma capitalização aproximada de 200 mil milhões de meticais, desempenhando papel importante na mobilização de recursos financeiros e oferecendo instrumentos como obrigações do tesouro e papel comercial.
Por fim, os Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) destacam-se pelo investimento contínuo em infra-estruturas portuárias e ferroviárias, reforçando a logística nacional e a integração regional, consolidando-se como peça-chave no desenvolvimento económico do país.