Cerca de 200 animais de planície serão translocados do Parque Nacional de Maputo para o Parque Nacional de Banhine, na província de Gaza, numa operação que envolverá seis camiões e várias viagens. A iniciativa marca um novo passo na consolidação da rede de áreas de conservação em Moçambique.
Texto: Maidone Capamba
O primeiro grupo parte já no próximo dia 16 de Setembro, com a missão de restaurar o equilíbrio ecológico em Banhine e atrair predadores, contribuindo assim para dinamizar o ecoturismo, criar empregos e gerar receitas para a conservação e para as comunidades locais.
A operação é liderada pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), em parceria com a Peace Parks Foundation, e conta com o apoio da COmON Foundation e da German Postcode Lottery. O processo integra um programa plurianual de restauração, que prevê a criação de um santuário de fauna com fontes permanentes de água, vedação segura e novas vias de acesso.
Graças ao trabalho conjunto da ANAC e da Peace Parks, o Parque Nacional de Maputo foi transformado numa área de referência, hoje reconhecida como Património Mundial da UNESCO. Desde 2010, foram reintroduzidos naquele parque mais de 5.388 animais de 16 espécies, número que cresceu para 13.799 indivíduos segundo o censo mais recente. O ecossistema atingiu a sua capacidade de carga, sustentando inclusive populações de predadores e permitindo que agora seja fonte de repovoamento para outras áreas, como Banhine.
Revitalizar o Parque Nacional de Banhine
O Parque Nacional de Banhine, parte integrante da Área de Conservação Transfronteiriça do Grande Limpopo, é vital para aves migratórias e historicamente sustentou grandes populações de herbívoros, hoje em processo de recuperação.
“Banhine conecta corredores de fauna entre os parques nacionais do Kruger, Limpopo e Zinave, permitindo a migração de animais como elefantes e grandes predadores”, afirmou Abel Nhabanga, administrador do Parque Nacional de Banhine. “Sem o Banhine, Zinave e Limpopo ficariam isolados e a conservação em escala de paisagem fracassaria”, acrescentou.

Desde 2018, a ANAC e a Peace Parks têm investido em infra-estruturas, formação de fiscais e desenvolvimento comunitário em Banhine. Só em 2024 foram recrutados 35 novos fiscais, entre os quais 17 mulheres. Censos aéreos realizados em 2023 já confirmaram o regresso de elefantes, búfalos e predadores, sinal claro da recuperação do ecossistema.
ANAC: Guardiã da Conservação Nacional
Criada em 2011, a Administração Nacional das Áreas de Conservação é a entidade do Estado responsável pela protecção da biodiversidade e pela promoção do ecoturismo sustentável em Moçambique. Gere cerca de 25% do território nacional, distribuídos por sete parques nacionais, sete reservas nacionais e 70 áreas de caça, entre coutadas oficiais, blocos de caça, projectos comunitários e fazendas de caça.
Peace Parks Foundation: Conservação Sem Fronteiras
Fundada em 1997 por Nelson Mandela, Anton Rupert e o Príncipe Bernhard dos Países Baixos, a Peace Parks Foundation é hoje uma das mais importantes organizações africanas dedicadas à conservação em grande escala. Co-gestora de dez áreas protegidas que cobrem mais de 60.000 km², a organização planeia expandir a sua actuação para 100.000 km² até 2030.
A sua visão é a de alcançar, até 2050, 17 paisagens transfronteiriças totalmente funcionais, cobrindo 980.000 km² em África Austral — uma das maiores iniciativas mundiais de conservação, aliando preservação ambiental, desenvolvimento económico sustentável, paz e estabilidade regional.
O Papel Estratégico de Banhine
Situado numa das regiões mais áridas de Moçambique, o Parque Nacional de Banhine desempenha um papel central na resiliência ecológica e humana. As suas zonas húmidas sazonais e savanas abrigam espécies raras e endémicas, ao mesmo tempo que servem de ligação ecológica entre Limpopo e Zinave.
Num território marcado pela seca, isolamento e pobreza, os esforços em curso para reforçar a governação dos recursos naturais e melhorar os meios de subsistência comunitários são decisivos. O repovoamento com herbívoros oriundos de Maputo simboliza não apenas a recuperação de Banhine, mas também a consolidação de um modelo de conservação que aposta na integração regional, no envolvimento comunitário e na sustentabilidade a longo prazo.




