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DA REDE VIÁRIA AO TURISMO: Falta de fundos condiciona projectos em Inhambane

A província de Inhambane enfrenta sérios constrangimentos financeiros que condicionam a implementação de projectos estruturantes, sobretudo no sector rodoviário. Viajar entre Mapinhane e Mabote, numa extensão de 120 quilómetros, ou entre Massinga e Funhalouro, numa distância de 110 quilómetros, transformou-se num verdadeiro martírio para os automobilistas e para a população em geral. O estado de degradação das vias torna a circulação extremamente difícil, particularmente durante a época chuvosa, quando o acesso chega a ser praticamente impossível.

Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane


Segundo estimativas do Governo provincial, são necessários mais de 240 milhões de dólares para a construção destas duas estradas, montante que ainda não foi mobilizado. O mesmo cenário se verifica na estrada MapinhanePafuri, considerada estratégica por se integrar no corredor de desenvolvimento que poderá ligar Moçambique à África do Sul, ao Botswana e ao Malawi. Até ao momento, contudo, esta via não passou de um projecto em papel.

O governador da província de Inhambane, Francisco Manuel Pagula, reconheceu, em entrevista ao Dossier Económico, que a transitabilidade para os distritos de Mabote e Funhalouro está fortemente condicionada, o que preocupa o seu Executivo, que entretanto enfrenta barreiras de ordem financeira, num contexto em que “1 quilómetro de estrada custa cerca de 1 milhão de dólares”.

Apesar das dificuldades, Pagula assegurou que têm sido realizadas pequenas intervenções, com destaque para o uso experimental de misturas de calcário e areia vermelha em determinados troços, como forma de garantir alguma transitabilidade. A mesma abordagem será aplicada em Funhalouro, onde se prevê um teste em 1 quilómetro de estrada, para posterior expansão caso os resultados se revelem positivos.

Em curso a mobilização de parceiros

O executivo provincial continua a envidar esforços para atrair parceiros capazes de financiar os diferentes projectos rodoviários ora em carteira. Pagula revelou que existem contactos em curso com instituições internacionais, algumas provenientes da Europa, que manifestaram interesse em avaliar as potencialidades da região. A via Mapinhane-Pafuri é uma das prioridades na agenda, sobretudo pela sua importância no corredor regional e pelo papel que poderá desempenhar na integração económica de Moçambique com os países vizinhos.

Na verdade, esta estrada é um projecto antigo, idealizado durante a governação de Agostinho Trinta, retomado pelo actual Presidente da República, Daniel Chapo, durante os anos em que desempenhou as funções de governador de Inhambane, mas que até ao momento não conseguiu sair do papel. O estudo de impacto ambiental, previsto para o primeiro semestre de 2025, foi adiado por falta de fundos, mas o governador garante que a estrada “vai nascer dentro deste ciclo de governação”.

Turismo para atrair investimentos

O sector do turismo é uma das principais apostas da província de Inhambane, que em Novembro próximo acolherá a Conferência Internacional de Turismo.

O Governo pretende aproveitar a ocasião para mostrar ao mundo o potencial turístico da região, não apenas no litoral — conhecido pelo sol e praia — mas também no interior, com fauna bravia e parques nacionais.

“Inhambane é um dos poucos lugares do mundo onde se encontram os big five marinhos e os big five terrestres. Com vias de acesso em melhores condições, será possível, num só dia, assistir ao pôr-do-sol na baía e, pela manhã seguinte, ao nascer do sol no meio dos animais do Parque Nacional do Zinave”, referiu Pagula.

A estrada Mapinhane-Pafuri será um dos principais projectos a ser apresentado na conferência, na esperança de captar investidores interessados. O governo acredita que esta via pode tornar-se um motor para dinamizar o turismo do interior, criando uma ligação directa com o turismo costeiro.

Outro projecto emblemático, mas ainda adiado, é a chamada “linha imaginária do Trópico de Capricórnio”, no distrito de Massinga. A iniciativa foi anunciada há mais de três anos por um investidor privado, que chegou a apresentar publicamente o desenho do projecto. No entanto, até hoje, não se registaram avanços significativos. Segundo Pagula, o proponente continua em fase de mobilização de fundos, mantendo contacto com o executivo.

Já em Govuro, o projecto turístico de Chimunda fracassou. O investidor acabou por desistir e regressar ao seu país de origem, sem que tenham sido avançadas explicações concretas. As autoridades provinciais acreditam que a falta de fundos esteve na base do insucesso.

Portos e transportes marítimos

Outro dossier em aberto é o do porto de Inhambane, uma promessa antiga que continua sem concretização. Francisco Pagula revelou que o plano poderá sofrer alterações, sendo transferido para Vilankulo, devido à maior profundidade das águas, que possibilita a atracagem de navios de grande porte.

“Estamos a estudar a viabilidade. O porto em águas profundas de Vilankulo poderá complementar o corredor Mapinhane-Pafuri e já existe trabalho técnico no terreno. O Presidente da República lançou recentemente o projecto da cidade petroquímica em Vilankulo, que prevê também a construção do porto”, explicou o governador.

Enquanto isso, o porto da cidade de Inhambane continuará limitado a pequenas embarcações, assegurando a travessia entre Inhambane e Maxixe. Nos últimos meses, foram alocadas novas embarcações e, em Outubro próximo, serão entregues mais duas de alta qualidade para reforçar a segurança e o conforto dos passageiros.

Questionado sobre a possibilidade de construir uma ponte que ligue as cidades de Inhambane e Maxixe, Pagula admitiu ser uma solução mais prática e segura, mas financeiramente inviável. “Uma ponte traria benefícios económicos e turísticos, mas os custos são incomportáveis para a província. Neste momento, é apenas um sonho.”

Apesar da melhoria na frequência das embarcações, o transporte nocturno continua sem solução, visto que as travessias são limitadas ao período das 6 às 21 horas. O governador explicou que manter embarcações em funcionamento 24 horas por dia seria insustentável, devido à baixa procura durante a noite.

Desafios transversais

Para o governador de Inhambane, o grande desafio transversal é a escassez de fundos financeiros, que compromete a execução de projectos em todos os sectores — estradas, turismo e transportes. “São projectos estruturantes, que trariam benefícios não apenas para a província de Inhambane, mas também para toda a região e até para países vizinhos como a África do Sul, o Botswana e o Malawi”, concluiu Pagula.

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