O Ministério das Comunicações e Transformação Digital (MCTD), através do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM, IP), realizou recentemente, na cidade de Maputo, o 12.º Fórum Nacional de Antevisão Climática (FNAC XII), uma plataforma criada em 2014 que promove a disseminação de previsões sazonais, reforça a resiliência nacional e apoia a planificação nos sectores da agricultura, saúde pública, energia, estradas, recursos hídricos e gestão de riscos de desastres.
Texto: Clara Mulima
Na abertura, a secretária permanente do Ministério das Comunicações e Transformação Digital (MCTD), Nilza Miquidade, destacou que a última época chuvosa (2024-2025) foi marcada por chuvas intensas, ciclones, ventos fortes e temperaturas extremas, fenómenos que tendem a ocorrer com maior frequência devido às mudanças climáticas. “Os danos não foram ainda piores graças ao trabalho do INAM e das demais instituições de gestão de desastres. Precisamos de maior empenho em prevenção, mitigação e adaptação, com base em informação climática de qualidade e atempada”, afirmou.
Miquidade apelou à população para acompanhar regularmente as previsões do INAM, respeitar os avisos de alerta e cumprir as recomendações preventivas. Sublinhou ainda o papel da transformação digital, através de ferramentas como a inteligência artificial e a internet das coisas, para melhorar a monitoria e análise de dados, a gestão de recursos naturais e a adopção de tecnologias verdes.
Na mesma ocasião, o director-geral do INAM, Adérito Aramuge, afirmou que fenómenos como El Niño e La Niña influenciam diretamente o clima, mas frisou que as previsões sazonais constituem um indicativo fiável para a tomada de decisões, sublinhando que quanto mais bem informada estiver a sociedade, maiores são as hipóteses de reduzir riscos e aproveitar oportunidades.
Por sua vez, o director nacional de Gestão de Recursos Hídricos, Agostinho Vilanculos, alertou para o elevado risco de cheias, sobretudo nas bacias do Maputo, Umbelúzi, Incomáti e Save, no centro e sul do país. Segundo Vilanculos, a partir de Janeiro de 2026, a situação pode agravar-se devido à saturação dos solos e ao nível quase máximo de armazenamento das barragens na África do Sul e em eSwatini. “Qualquer precipitação nesses países transforma-se em escoamento para Moçambique, aumentando o risco de cheias de grande magnitude”, explicou.
O responsável acrescentou que cerca de 4 milhões de hectares de terras agrícolas estão em risco, incluindo 7 mil hectares das zonas verdes da cidade de Maputo, que garantem parte do abastecimento alimentar da capital. Estimativas indicam ainda que cerca de 4 milhões de pessoas poderão ser afectadas, das quais entre 400 e 600 mil poderão necessitar de assistência humanitária. Mais de 120 sistemas de abastecimento de água, 4 mil escolas e 500 unidades sanitárias também estão expostos a inundações durante os primeiros meses de 2026.
Por outro lado, o climatologista do INAM, Isaías Raiva, afirmou que as previsões apontam para chuvas irregulares, com maior concentração no sul entre Outubro e Dezembro de 2025 e uma expansão para todo o país no período de Janeiro a Março de 2026, embora com ocorrência de períodos secos. Sobre ciclones, explicou que a previsão oficial só será feita em Novembro, uma vez que a época ciclónica decorre de Novembro a Abril e as actuais condições oceânicas ainda não favorecem a sua formação.
Já o representante do Ministério da Saúde, Américo José, lembrou que as mudanças climáticas têm impacto directo no perfil epidemiológico do país. As previsões apontam para uma redução inicial de casos de malária e diarreia, mas com tendência de aumento no segundo período da época chuvosa, acompanhando a intensificação das chuvas. As províncias de Nampula, Zambézia e Tete estão em maior risco de surtos de malária, cólera e outras doenças. Para fazer face a estes desafios, o sector da saúde está a reforçar o sistema de vigilância epidemiológica a nível distrital, a capacitar profissionais de saúde e a intensificar acções de sensibilização comunitária, incluindo o uso adequado de redes mosquiteiras e medidas básicas de saneamento.
Por fim, as instituições presentes reforçaram a necessidade de cooperação multissectorial e de maior coordenação com os países vizinhos, com quem Moçambique partilha as principais bacias hidrográficas, de modo a garantir uma resposta atempada e eficaz perante os riscos que a época chuvosa 2025-2026 poderá trazer.