A província de Maputo vai acolher, ainda este ano, um centro de produção de plântulas de hortícolas, com capacidade para gerar até oito milhões de mudas por mês. A iniciativa resulta da assinatura de um memorando de entendimento entre o Governo provincial e um investidor sul africano, no quadro da Feira Internacional de Maputo (FACIM-2025), realizada na última semana em Marracuene, província de Maputo. O projecto é considerado estratégico para reduzir a dependência externa, responder à crescente procura dos agricultores da região sul e garantir qualidade na produção agrícola.
Texto: Dossiers & Factos
Em entrevista ao Dossiers & Factos, o director provincial da Agricultura e Pescas, Paulo Cossa, explicou que a presença da província na 60.ª edição da FACIM esteve assente em três pilares: a exposição agrícola, que mostrou cadeias de valor da produção; a pecuária, com destaque para um leilão de gado bovino orientado para a promoção comercial; e a pesca, sobretudo a aquacultura.
Segundo Cossa, desta participação resultaram dois ganhos de relevo: o primeiro, o leilão de gado bovino, que funcionou como vitrina e espaço de comercialização; e o segundo, a assinatura do memorando com o investidor sul-africano, que viabilizará a instalação do centro de produção de plântulas em Maputo.
O dirigente recordou que grande parte das hortícolas consumidas no país continua a ser importada, o que acarreta custos elevados e, muitas vezes, coloca em causa a qualidade. “Queremos começar a reduzir as importações, produzindo localmente. A semente existe e está disponível, mas entendemos que o agricultor não deve ter apenas acesso ao pacotinho de semente. O fundamental é disponibilizar-lhe a plântula já garantida e certificada, que assegura qualidade e torna a produção previsível”, disse, frisando que a inexistência de técnicas adequadas em viveiros conduz, frequentemente, à perda do investimento.
O centro deverá arrancar dentro de meses, com uma capacidade estimada de oito milhões de mudas mensais, destinadas não só a Maputo, mas também às províncias de Gaza e Inhambane. “Hoje, muitos agricultores vão buscar plântulas à África do Sul, enfrentando dificuldades com a variação cambial. Ao produzirmos localmente, os agricultores terão acesso directo e a possibilidade de reclamar em caso de problemas de qualidade”, acrescentou.
Dados oficiais indicam que um hectare de cultivo consome, em média, entre 22 e 25 mil mudas, conforme a cultura. Sendo que, na zona sul, a maioria dos agricultores trabalha em áreas mínimas de cinco hectares, justifica-se a produção em larga escala. O projecto tem ainda o apoio das cooperativas da Moamba, de Chókwè e de Inhambane, que defenderam a instalação do centro em Maputo pela facilidade logística oferecida pelo Corredor de Maputo e pela proximidade ao mercado grossista do Zimpeto, onde se concentra a maior parte da comercialização de hortícolas.
Relativamente à campanha agrícola em curso, Cossa afirmou que os resultados são encorajadores: em 30 dias, a execução subiu de 86 para 90% das metas planificadas. Esse aumento já se reflecte no mercado do Zimpeto, “abarrotado” de hortícolas. A descida dos preços beneficia os consumidores, mas o Governo provincial alerta para os riscos de uma quebra excessiva. “Estamos a trabalhar com os produtores para equilibrar os preços. É preciso que não sejam altos, mas também que não caiam demasiado, de modo a assegurar sustentabilidade a quem produz”, observou.
Maputo possui 1,2 milhões de hectares de terra arável, dos quais 60% ainda se encontram disponíveis. Contudo, muitas áreas estão atribuídas a pessoas sem capacidade de exploração, permanecendo improdutivas. O objectivo do Governo provincial é aproximar detentores de terra de investidores nacionais e estrangeiros, transformando esse potencial em produção efectiva.
Na pecuária, apesar de Maputo ocupar a quarta posição nacional em número de cabeças de gado, depois de Gaza, Tete e Inhambane, é a província que mais carne produz, devido à qualidade genética do rebanho, que apresenta maior peso vivo. Para reforçar esta vantagem, será introduzido, ainda este ano, gado bovino geneticamente melhorado. Um concurso para aquisição de 30 touros já foi lançado e os animais serão distribuídos pelos distritos. “Não será uma entrega indiscriminada. É preciso perfil adequado, porque o objectivo é melhorar a genética e expandir a produção”, sublinhou o director.
Cossa garantiu que a criação do centro de plântulas é uma prioridade imediata, estando em curso a identificação do espaço onde será instalado. A partir daí, caberá ao investidor mobilizar os recursos. A expectativa é de que o projecto avance ainda este ano. “Num prazo breve o centro será implantado. Acreditamos que arranque já dentro deste ano, o que aliviará os agricultores e responderá a uma demanda antiga da região sul”, concluiu.