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NHONGUISTAS NO ESTADO: Governo “ladra” e a caravana passa

Nos últimos tempos, a palavra nhonguista – usada nas lides económicas como sinónimo de intermediário – entrou no vocabulário institucional do Governo, que tem apresentado denúncias públicas da influência negativa desta figura em várias instituições do Estado. Sucede, no entanto, que, até ao momento, as referidas denúncias não têm sido acompanhadas de acções práticas para neutralizar tais agentes, o que coloca em xeque o discurso anti-corrupção da actual administração.

Texto: Amad Canda

O combate à corrupção figura como uma das grandes prioridades de Daniel Chapo no presente mandato, a avaliar pelas reiteradas menções a este mal no seu discurso de investidura, a 15 de Janeiro, bem como pelo plano de criar a Inspecção-Geral do Estado. Outrossim, o Presidente da República, assim como alguns membros do seu Executivo, tem aproveitado algumas das suas aparições públicas para denunciar supostas más práticas em alguns sectores, atribuindo-as a nhonguistas.

Entre esses episódios, o mais célebre será o de 28 de Abril, dia da apresentação dos resultados alcançados no âmbito da implementação do plano dos primeiros 100 dias de governação. Chapo denunciou supostos nhonguistas na empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), fazendo alusão directa a um grupo enviado à Europa para comprar aeronaves, e que sabotou a missão para que a LAM continue a alugar aviões, gerando nhongas (comissões) para o grupo.

Estranhamente, e não obstante a veemência com que o PR abordou a situação, não há qualquer indicação de que o referido grupo – cujos nomes acabaram por ser revelados por um dos órgãos de comunicação social da praça – esteja a enfrentar as devidas consequências legais. Na ocasião, Daniel Chapo apenas deu conta de que seriam “mandados para casa”, o que, aos olhos da sociedade, é insuficiente para quem, aparentemente de forma dolosa, lesou o País.

Outro discurso nesse registo, também do Presidente da República, teve lugar a 15 de Julho, num encontro com diferentes homens de negócios na cidade da Beira, província de Sofala. Debruçando-se sobre a propalada escassez de divisas, Chapo foi peremptório e incisivo ao imputar responsabilidades aos bancos comerciais.

“Não há uma verdadeira escassez, é uma escassez criada para depois criar essa oportunidade de negócio”, afirmou Chapo, destacando que “nunca faltaram dólares para se entregarem dividendos entre eles [os banqueiros] ”.

À semelhança da situação da LAM, não há também neste caso registo de alguma acção por parte de quem de direito – notadamente o Banco de Moçambique – no sentido de repor a ordem no mercado cambial. Pelo contrário, o problema parece tender a piorar, prejudicando sobremaneira os empresários e a economia no seu todo.

Mais recentemente, foi a vez do ministro dos Transportes e Logística, João Matlombe, embarcar na onda chapista de denunciar supostos nhonguistas. No decurso do Fórum Nacional sobre Agenciamento Marítimo, entre 28 e 29 de Agosto, na cidade da Beira, Matlombe deu conta da presença de supostos cartéis em todos os sectores estratégicos do Estado.

“Há cartéis em todos os sectores. Não há um sector que não esteja sequestrado no Estado. Há sempre um grupo que controla, que tira mais lucro, mas sem prestar nenhuma actividade nesse sector. Como consequência, os nossos serviços ficam mais caros porque não estamos a conseguir tirar os que tiram dinheiro do Estado”, lamentou.

Em linha com a postura do Chefe de Estado, o governante limitou-se a denunciar e a lamentar, não apresentando qualquer plano para expurgar os referidos cartéis que operam contra os superiores interesses da Nação. Por via disso, há cada vez mais questionamentos sobre a seriedade do Governo relativamente à matéria de combate à corrupção, sendo as sucessivas “denúncias públicas” – feitas por quem tem mandato e obrigação de combater nhonguistas que sugam o Estado – vistas como areia para os olhos dos moçambicanos, já que não são acompanhadas de qualquer acção.

É caso para dizer que, enquanto o Governo “ladra”, a caravana dos nhonguistas passa.

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