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Presença militar ocidental preocupa especialistas

O crescimento do grupo terrorista que actua na região norte do país levou a que o Governo solicitasse apoio militar externo. Neste contexto, estão em Cabo Delgado contingentes do Ruanda e da Missão da SADC em Moçambique. Noutros pontos do país, encontram-se militares oriundos do ocidente, que se dedicam essencialmente à formação. A presença destes últimos parece provocar alguma intranquilidade no seio dos especialistas, que apontam o hábito que estas forças têm “de não saírem rapidamente dos países onde actuam ”.

Moçambique descobriu nas últimas décadas grandes reservas de gás natural na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. A quantidade é de tal ordem que promete colocar o país entre as maiores potências mundiais do ramo, segundo várias análises.

Rapidamente, esses recursos despertaram a cobiça das multinacionais ocidentais. Chegaram a ExxonMobil e Anadarko (depois substituída pela Total Energies), e com elas a esperança de dar um impulso à economia do país e, consequentemente, melhorar as condições de vida dos moçambicanos. No entanto, a ilusão foi de pouca dura, uma vez que ao mesmo tempo se instalavam em Cabo Delgado células terroristas supostamente de inspiração islâmica.

Embora diga que seu plano é fundar um califado, são muitos os indícios de que o surgimento do grupo Ansar al Sunnah tem no gás a sua principal razão. De resto, o ataque à vila de Palma, em 2021, a escassos quilómetros do acampamento da Total Energies, pode ter deixado claro este facto.

Aparentemente sem antídoto para travar os terroristas, Moçambique solicitou apoio militar internacional. Para além das forças do Ruanda e SADC, estão no país instrutores militares americanos, da União Europeia, e espera-se que inicie, a breve trecho, a formação de sargentos na Manhiça, ministrada por instrutores provenientes da Grã-Bretanha.

Soberania mais ameaçada?

 A grande preocupação dos especialistas em segurança que, anonimamente, conversaram com Dossiers & Factos, prende-se com a possibilidade de, ao tentar defender a soberania, o país poder fragilizá-la ainda mais, particularmente com a presença de militares oriundos do eixo ocidental.

Começam por lembrar que estes (militares ocidentais) têm histórico de permanência prolongada em territórios alheios, perseguindo seus próprios interesses. O exemplo mais fresco é o de Mali, de onde as tropas francesas se retiraram em Agosto último, nove anos após a sua chegada, sob acusações de neocolonialismo.

Por outro lado, explicam os peritos que o que hoje parece ser ajuda poderá, a posteriori, ganhar feições de negócio, uma vez que o país poderá ser pressionado a comprar armas de fabrico americano, e possivelmente, a preços inflacionados.

Há ainda um terceiro aspecto apontado pelas fontes, que está ligado ao facto de os Estados Unidos da América usarem a cooperação-técnico militar para atrair os países não-alinhados e, por esta via, aumentarem o seu raio de influência, o que, na opinião dos peritos, poderia colocar em causa as boas relações que Moçambique mantém com a Rússia e China, opositores dos americanos.

Neste contexto, avisam as fontes, o estreitamento da cooperação militar com o ocidente pode mesmo “custar a independência” que agora se tenta defender.

 

Receios antigos

 Não é propriamente uma novidade o receio que alguns sectores têm da presença militar ocidental em Moçambique. Inicialmente, o Presidente da República, assim como o secretário-geral da Frelimo, defendiam que a vinda de americanos, franceses e outras forças não resolveria o problema do terrorismo, como não resolveu em outros vários países, por exemplo. Recorde-se que vários analistas fizerem na altura eco a esse discurso, sendo que tratavam de lembrar que as tropas ocidentais têm dificuldades de abandonar os territórios onde executam missões.

Quando finalmente o Estado moçambicano decidiu aceitar apoio externo, tratou de evitar que os ocidentais estivessem na linha do fogo, relegando-os a missões de formação e capacitação, o que para as nossas fontes prova que há receios também ao nível do regime.

 

 

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