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Ataques na RSA: Mukheristas sentem-se abandonados pelo Governo

A Associação dos Importadores Informais, vulgarmente conhecidos como Mukheristas, critica a suposta inacção do Governo de Moçambique diante da violência contra importadores nacionais na vizinha África do Sul, a qual se juntam assaltos do lado moçambicano, o que compromete suas receitas e impacta no preço final dos produtos, lesando os consumidores. Diante de uma situação descrita como sendo de “abandono”, o presidente da associação, Sudecar Novela, diz que os Mukheristas são, neste momento, “filhos sem pai”.

 

Texto: Amad Canda

 

2023 Tem sido marcado pela escalada da violência na vizinha África do Sul contra cidadãos estrangeiros, estando os de nacionalidade moçambicana entre os principais alvos, como de apanágio. A situação atingiu um nível tal que, em Julho, obrigou o Consulado de Moçambique em Nelspruit a desencorajar viagens àquele País vizinho, excepto em casos “extremamente prioritários”.

 

Havia receios de que a mensagem pudesse levar a que os Mukheristas reduzissem o fluxo de viagens à África do Sul, mas, como apurou Dossier Económico, não é o que se está a verificar. É que, de acordo com Sudecar Novela, a actividade desenvolvida pelos membros da agremiação que dirige é prioritária.

 

“Ouvimos a mensagem do Consulado e entendemos que, ao falar de assuntos prioritários, refere-se, por exemplo, a questões de saúde. Mas a importação de produtos alimentares também é uma das emergências, tendo em conta que aqui no País não temos quase nada. Falando, por exemplo, de batata e cebola, não temos nada. Repolho temos em pequenas quantidades. Podemos, por exemplo, ouvir que há repolho em Boane, mas muitas vezes nem um camião há-de encher”, justificou.

 

“Não há nada que nos possa garantir mercadoria/alimentos para que cortemos as idas à África do Sul”, reforça Novela, fazendo notar que, ainda que houvesse mercados alternativos noutras regiões do País, as condições das vias-de-acesso continuariam a ser um obstáculo.

 

 Uma actividade de risco

 

Conscientes da crise de alimentos que a redução de idas à África do Sul poderia causar no mercado nacional, os Mukheristas continuam a trabalhar como trabalhavam antes do apelo do Consulado moçambicano em Nelspruit, ao qual descrevem como “acto de cidadania”. Sabem, no entanto, que estão expostos ao perigo.

 

Sudecar Novela dá graças a Deus por ainda não ter sido atacado nenhum carregamento pertencente a um membro da associação, mas fala de ataques aos proprietários que, às vezes, acompanham os motoristas nas viagens, regra geral, em carrinhas ligeiras.

 

“Por vezes são atacados carros. Por exemplo, mando meu camião para ir carregar, mas por causa de tanta burocracia e actos de corrupção que existem durante o trajecto, às vezes, o dono vê-se obrigado a ir pessoalmente para fazer acompanhamento e ajudar o meu motorista em certas circunstâncias que vai encarando, ligadas às autoridades, que, muitas vezes, exigem valores sem justa causa. Então, em vez dos camiões, os malfeitores têm preferido atacar os carros pequenos, sabendo que podem encontrar dinheiro ou outros bens”, relata.

 

Atacados dentro e fora

 

Não bastassem as incursões de que são objecto na África do Sul, quer por parte de marginais, quer por parte das autoridades policiais locais, os Mukheristas sofrem também assim que atravessam a fronteira para o solo pátrio.

 

Em causa estão os assaltantes que atacam camiões e subtraem produtos, por vezes, até em grandes quantidades.

 

“À entrada do território nacional, há um ponto em que os malfeitores cavaram para que os camiões abrandem a marcha e os assaltantes subam, cortem a lona e descarreguem sacos”, revela Novela, que está particularmente preocupado pelo facto de estes episódios se darem alegadamente “diante da polícia”, reforçando a sensação de conivência. Esta foi, aliás, a razão do levantamento popular a que se assistiu há sensivelmente um mês no Posto Administrativo de Ressano Garcia, a escassos metros da fronteira.

 

Na verdade, esse tipo de situações já tem barba branca e é do conhecimento das autoridades, que, aparentemente, pouco ou nada têm estado a fazer para garantir a segurança aos importadores.

 

“Já reportámos várias vezes e já se discutiu. Lembro que há dois anos chegámos a pedir uma audiência no Comando Provincial, onde fomos apresentar essa situação. Nessa altura, houve intervenção, mas agora não.”.

 

Para já, são os consumidores finais que pagam pelos prejuízos causados pelos malfeitores. “O impacto se reflecte no preço da venda dos produtos. Imagina que tirem 20 sacos ou mais, o lucro que se esperava é aquilo que tiraram. Então, temos que compensar aumentando o preço”, pontua Novela.

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