EnglishPortuguese

Caifadine: suicida político ou libertador?

Se há poucos meses o isolamento de Caifadine Manasse ao nível do Comité Provincial da Zambézia e a tentativa de expulsá-lo do Comité Central foram  surpreendentes, a notícia avançada na última sexta-feira, 02 de Junho, de que Caifadine Manasse participou criminalmente junto à Procuradoria-Geral da República 23 deputados da Bancada Parlamentar da Frelimo, pelo Círculo Eleitoral da Zambézia, foi quase que uma “bomba”. Há mesmo quem diga que se trata de um contra-ataque “suicida” capaz de, futuramente, “libertar” também outros membros que se sintam humilhados/injustiçados dentro do partido Frelimo.

Texto: Mudumela Macassane

A “contenda” entre o Comité Provincial da Frelimo, na Zambézia, e o seu membro, Caifadine Manasse, acaba de conhecer um novo capítulo. Desta vez, é Manasse quem desferiu um surpreendente golpe, ao desafiar seus pares da Bancada Parlamentar deste Partido para o Tribunal.

Segundo apurou Dossiers & Factos, através de fontes seguras, já há muito tempo que o autor de “o partido distancia-se” é um desafecto na Zambézia. Consta que havia uma suposta orientação para que ele (Caifadine Manasse), Zeca Morgado e Pio Matos fossem expurgados para não terem acesso ao Comité Central. No entanto, e contra todas as expectativas, Manasse e Matos sobreviveram, tendo ocupado a terceira e segunda posições entre os membros do CC, eleitos em representação da Zambézia.

Falhada esta tentativa, veio a táctica administrativa para expulsá-lo do Comité Provincial, na esperança de ver a medida replicada no Comité Central, o que também não aconteceu, graças à lucidez dos membros deste órgão (CC), escusaram-se de fazer as vontades dos “carrascos” de Caifadine Manasse, até porque, segundo fontes, essa medida não tinha amparo ao nível dos estatutos do partido.

Os 23 visados por Caifadine

A 31 de Maio, a equipa jurídica que representa Caifadine Manasse, e que é liderada pelo advogado Custódio Duma submeteu junto à Procuradoria-Geral da República uma participação criminal contra 23 deputados da Assembleia da República, nomeadamente Aida Maria Soares Gouveia, Alice Ana Francisco Kufa, Arlinda Cipriano de Sousa, Ássia Paulo Abudo Ali, Crimo Freitas de Oliveira, Clarice da Esperança Milato, Cláudio Fernandes da Meta Fone Wah, Damião José, Deolinda Catarina Chochoma, Eusébio Nanguia Mulange, Inácia Henriques Carneiro Ngonde, Jacinto Gabriel Lourenço Capito, João Catemba Chacuamba, Josefa Jacinto Música, Lúcia José Madeira, Momade Arnaldo Juízo, Sábado Chombe, Sabir José Vasco Maquege, Safi Mahomed Remam Gulamo, Sara Maria Ussumane, Sebastião Inácio Saide, Zainane Memane Ossumane e Zuria Tauibo Assumane, todos do Círculo Eleitoral da Zambézia.

O antigo secretário para Mobilização e Propaganda do CC da Frelimo acusa estes seus camaradas de supostamente terem-no imputado factos ofensivos à sua honra e bom nome, aquando da leitura das considerações finais do informe do Círculo Eleitoral da Zambézia sobre actividades da VI Sessão Ordinária da Assembleia da República, apresentado em Março último, no decurso da II Sessão Ordinária do Comité Provincial.

Tal como apurou Dossiers & Factos, consta da participação-crime que temos, a que fazemos referência, que “no decurso da VI Sessão Ordinária da Assembleia da República, o Círculo Eleitoral da Zambézia constatou com tristeza a tentativa de assassinato do carácter, imagem e o bom nome do camarada Hélder Injojo, vice-presidente da Assembleia da República, ao ser associado ao narcotráfico. Sobre esta matéria, o Círculo Eleitoral tem evidências de que o camarada Caifadine Manasse foi o autor do conluio, facto que fez com que o Círculo Eleitoral submetesse o seu desapontamento à Direcção do Partido na Província”.

Entretanto, para Caifadine Manassse, “houve dolo por parte dos colegas do Círculo Eleitoral, uma vez que engendraram cautelosamente a sua acção, procurando palavras certas e o momento certo para darem o acto malicioso”. O deputado refere que foi a partir deste acto que passou a ser vítima de “ataques dos internautas nas redes sociais e de alguns órgãos de informação nacionais e internacionais”.

Lembre-se que a essa altura da contenda foi publicado em alguns órgãos de comunicação que, a nível do Comité Provincial, Caifadine Manasse foi acusado de falta de sigilo, assim como de ter proferido palavras injuriosas contra o Filipe Nyusi, presidente do partido, bem como de desqualificar o secretário-geral desta formação política, Roque Silva. As acusações contra Caifadine prosseguiram, apontando-o como responsável por incitação à violência e à desobediência, para além do não pagamento de quotas, como membro. Diante destas acusações, Caifadine Manasse acabou sendo expulso do órgão quase que por unanimidade dos membros, não fosse a abstenção de Pio Matos, governador da Zambézia.

Inédito (contra) ataque kamikaze com efeito libertador

A acção de Caifadine Manasse, que é deputado da Assembleia da República há quase duas décadas, é algo fora do comum na Frelimo. Pelo menos na história recente, não há memória de um ataque de grande vulto, visando um número expressivo de quadros seniores, com o peso de serem mandatários do povo na “magna casa”.

Por isso, há vozes de dentro e fora do partido Frelimo que consideram que Caifadine Manasse está a cometer uma espécie de “suicídio político”. Por outro lado, há quem veja neste acto, tido como de grande coragem nas hostes frelimistas, uma espécie de carta de alforria para “libertar” outros camaradas que eventualmente se sintam espezinhados pela “máquina partidária” ou mesmo “honrar” os que já passaram por situações semelhantes.

Segundo as nossas fontes, nos últimos anos reina no partido do “Batuque e Maçaroca” a cultura de colocar em causa a imagem e vida de alguns membros, uma prática que supostamente se está a enraizar. “Só para se ter uma ideia, Caifadine Manasse é deputado da Assembleia da República há 18 anos e foi porta-voz do Comité Central. Isso não é pouco”, argumentam nossas fontes.

Outra curiosidade é que, com este ataque jurídico de grandes proporções, praticamente desfaz-se a quase dogmática ideia de que na Frelimo os problemas são resolvidos internamente. A estratégia de Caifadine Manasse divide opiniões entre os camaradas. Há uma ala que defende que o antigo porta-voz devia manter a “batata-quente” dentro do fórum partidário, mas uma segunda ala entende que, antes de membro do partido, Manasse é cidadão e goza de todos os direitos de que os demais gozam, entre eles o bom nome.

Várias são as leituras feitas após tornar-se público este acto levado a cabo por Caifadine Manasse e seus advogados. Há opiniões até desenvolvidas de forma técnica que antevêem que este processo não venha surtir efeitos desejados pelo queixoso. Outras defendem que, mesmo assim sendo, Manasse age de cabeça erguida por não ter nada a perder, sendo que o vexame que passou durante essa fase em que foi alvo de esquartejamento político dentro do partido, com a intenção de “o matar”, sendo que, para ele, ao arriscar-se desta forma, concorre a tornar-se herói das balas internas ou o vilão.

Nestas mesmas abordagens, lembram os comentários que nos últimos seis anos, o partido Frelimo registou mais casos de conflitos de vergonha interna, expostos ao público. A título de exemplo, os casos mal parados de Samora Machel Jr, Castigo Langa, recentemente, e agora, Caifafine Manasse, sem deixar de fora a questão badalada de muitos infiltrados na máquina partidária, ficando a pergunta no ar: estes problemas serão derivados de “doenças” ou apenas do comportamento dos membros?

 

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco