A 01 de Junho, Eduardo Abdula era eleito candidato da Frelimo ao cargo de governador da província de Nampula. Quase volvidos dois meses, reuniu-se, em Maputo, com os antigos timoneiros daquela estratégica província a fim de ouvir experiências e conselhos que o poderão nortear em caso de vitória nas eleições de 09 de Outubro do ano em curso.
Texto: Amad Canda
Rosário Mualeia, Abdul Razak, Vítor Borges e Cidália Chaúque são os antigos governadores que, na passada quinta-feira, 18 de Julho, acederam ao convite de Eduardo Abdula para com ele partilharem experiência de governação que poderão ser úteis ao candidato da Frelimo, caso este venha a se tornar o segundo governador eleito daquela que é a província mais populosa de Moçambique.
Nos instantes iniciais do encontro, que decorreu algures na capital do País, Abdula, que é também conhecido em terras nortenhas por “Tio Salimo”, disse-se honrado por ter sido escolhido pelos seus pares para postulante a governador de uma província que o viu nascer há 62 anos, concretamente no Hospital Geral de Marrere.
De seguida, tratou de deixar claro que, se eleito, não governará com truques de magia – que não os têm – tampouco se comportará como arqueólogo. Ou seja, não irá a Nampula para “escavar”, mas para dar continuidade ao que chama de “bons projectos” feitos pelos antigos dirigentes, cuja governação diz ter tido o privilégio de assistir.
“Tio Salimo” tem um plano concreto para os antigos governadores de Nampula, e tratou de o revelar no encontro da quarta-feira: transformar-lhes em conselheiros.
“Se ganharmos as eleições – vamos ganhar, com certeza absoluta, se Deus quiser – vou vos incomodar muitas vezes, mesmo que vocês estejam em cargos muito altos nos próximos mandatos, hei-de vir vos incomodar para sempre ensinarem-me”, avisou.
Ele próprio está avisado de que a conjuntura que encontrará, caso seja eleito, é diferente da dos tempos idos, mas nem por isso, garante, abdicará da experiência de quadros que não só geriram a província, como também têm, nos seus currículos, passagens pelo Governo Central.
“Quase todos aqui foram membros do Conselho de Ministros, alguns como ministros e outros como vice- -ministros”, assinalou o candidato, destacando igualmente o facto de beneficiar da experiência de sua esposa, Nazira Abdula, que comandou o Ministério da Saúde de 2015 a 2020.
“Escolha acertada”
No Comité Provincial de Nampula, Eduardo Abdula foi uma escolha unânime. Entre os antigos governadores presentes no encontro, é também consensual a ideia de que é a figura certa para suceder a Manuel Rodrigues.
“Acho que Salimo tem condições. É muito activo, trabalhador e consegue juntar parcerias e sinergias com vários segmentos. O segundo aspecto é a experiência que ele tem de trabalhar em grupo. Se nós tivermos uma esquipa coesa, coordenada, activa e dinâmica, as coisas vão funcionar bem”, destacou Adul Razak.
Razak, que também dirigiu Zambézia e Cabo Delgado, salientou que Nampula é uma “província completa”, com enormes potencialidades, mormente nos domínios da indústria mineira, agricultura, turismo e pescas, augurando que “dê um salto qualitativo com o trabalho que ele vai fazer”.
Na perspectiva de Razak, que já foi vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia, é fundamental que, ao chegar ao poder, Abdula e sua equipe trabalhem para robustecer a economia de modo a gerar empregos e receitas para financiar as áreas sociais, com destaque para saúde e educação.
Saúde, educação e estabilidade social são desafios também destacados por Cidália Chaúque. A única mulher a dirigir a província de Nampula mostrou-se preocupada com o crescimento do índice de uniões prematuras e gravidezes indesejadas, factores que afastam a rapariga da escola e perigam sua saúde. Como tal, sublinhou ser necessário “trabalhar com as mulheres e crianças no que diz respeito à estabilidade social”.
A antiga ministra do Género, Criança e Acção Social entende ser igualmente crucial fazer um “trabalho de massas” e despertar na juventude a ideia do empreendedorismo. Chaúque quer um governador a trabalhar com os jovens, mas sem desprimor para os mais velhos.
“É preciso ter muita ponderação e ouvir muito as comunidades. A província de Nampula é grande, então, tem que ter essa atenção de trabalhar com as comunidades, e encontrar sempre mecanismos de trabalhar com as lideranças comunitárias, que são muito importantes para trazer a realidade da província”, recomendou.
“Tem que ter paciência e empenho”
Vítor Borges, o último governador não eleito da província de Nampula, elogiou a abertura de Eduardo Abdula para ouvir conselhos, garantindo disponibilidade total para “dizer o que seja útil”.
Uma dessas coisas é a necessidade de o provável futuro governador trabalhar arduamente para responder às principais “preocupações, anseios e desejos das pessoas de Nampula”. “Que possa ter a paciência necessária para ouvir e escutar” conselhos que possam contribuir para a melhoria da vida das populações.
O antigo ministro das Pescas defende igualmente que, uma vez eleito, “Tio Salimo” deve também assentar sua governação nos objectivos de desenvolvimento sustentável, mormente nos seus cinco pilares – pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias.
“As pessoas devem ter uma vida digna; o progresso é necessário para as pessoas viverem bem; temos que ter paz para que efectivamente se possa viver bem e de forma digna; e parcerias são necessárias, a par do respeito ao planeta”, detalhou.
Texto extraído na edição 570 do Jornal Dossiers & Factos